Normalmente no início de cada ano, as revistas especializadas em negócios costumam publicar reportagens ou guias que sugerem onde os investidores devem aplicar seus recursos no ano que se inicia. Essas reportagens elencam o ranking dos fundos de investimentos com destaque para o futuro da Bolsa de Valores.
Mas aplicação de dinheiro não deve ser “resumida apenas” a aplicações no mercado financeiro, seja em renda fixa ou em Bolsa de Valores. Normalmente esses guias de aplicação de dinheiro pouco falam sobre investimentos na economia real e muito sobre alternativas no mercado financeiro.
O investidores brasileiros, em função da alta taxa de juros com que tínhamos convivido nos últimos anos (e voltamos a viver novamente nos últimos meses) acabam tornando-se verdadeiros dependentes das aplicações financeiras, principalmente das aplicações atreladas ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário). Logicamente, esse mercado oferece oportunidades de bons ganhos mas, em geral, eles acabam sendo apropriados a investidores mais qualificados e não à grande maioria da população que nem sabe o que é CDI e que tem grande parte de seus recursos aplicados na famosa e antiga Caderneta de Poupança.
O governo, de certa forma, é dependente desses investidores desqualificados e não incentiva de forma alguma que as pessoas busquem formas alternativas de aplicação na “economia real”.
Se o governo busca o crescimento de nossa economia, é preciso então estimular o investimento das economias das famílias em formas alternativas, não apenas em caderneta de poupança, fundos de investimento que tenham títulos do governo ou ainda Bolsa de Valores. Sem dúvida, a Bolsa de Valores já é uma alternativa interessante para um certo acesso a essa economia real, pois, no final das contas, a compra de uma ação é a compra de participação em uma empresa. Nas economias desenvolvidas, a aplicação em Bolsa de Valores é muito mais ativa e estimulada pelos governos.
Mas: e o investimento em negócios que não sejam ligados ao mercado financeiro? O primeiro grande obstáculo é a falta de incentivo do governo, seguido da enorme burocracia e do famoso “Custo Brasil” que inviabiliza a maioria dos investimentos. É preciso dar mais estímulo à população para que invista em negócios alternativos: dar flexibilidade, eliminar burocracia e pavimentar essa “estrada”.
Não enxergo tanto a necessidade de dar financiamento de bancos públicos com taxas subsidiadas para esse tipo de investimento pois os bancos privados tem capacidade suficiente para prover para esse tipo de investimento. O que amarra os bancos de darem mais financiamento é tanto a burocracia dos governos quanto a falta de estímulo. Sem dúvida, se houver algum tipo de subsídio para esses investimentos, a velocidade tende a ser maior. Mas é preciso ter atenção com taxas subsidiadas pois temos um histórico muito negativo com isso: empreendedores tomam o dinheiro subsidiado e aplicam em outros negócios (não naquele para o qual ele tomou o recurso).
Infelizmente, o Brasil precisa se desenvolver muito nisso. É preciso dar o pontapé inicial, senão ficaremos sempre dependentes das alternativas de aplicação no mercado financeiro.
Onde aplicar nosso dinheiro? Economia real pode ser melhor do que mercado financeiro
Por André FurquimLeia em 3 minutos
André Furquim
Executivo do mercado financeiro com experiência em grandes bancos. Sempre curioso a respeito de novidades e de start-ups.