* Por Ricardo Brandão
Não é novidade que a pandemia ocasionada pela covid-19 trouxe um grande desafio às empresas, que precisaram investir na digitalização de seus processos para sobreviver ao novo cenário. Um recente estudo realizado pelo Instituto FSB Pesquisa, sob encomenda da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou que entre as mais de 400 empresas ouvidas, 83% afirmam que precisarão de mais inovação para crescer ou mesmo sobreviver no pós pandemia.
Quando falamos sobre transformação digital nas grandes corporações é inevitável mencionar o impacto da relação das startups com essas empresas, que podem aprender muito quando o assunto é inovação e agilidade nos processos.
Primeiramente, é preciso que as grandes companhias olhem com atenção para os seguintes tópicos: a cultura corporativa, a agilidade nos processos e o pensamento no produto digital das startups. Esses conceitos devem sempre estar alinhados à verdadeira intenção da corporação.
Geralmente, observamos uma grande vontade das empresas em relacionar-se com startups e trocar conceitos pilotos que não bastam para obter resultados expressivos, uma vez que a verdadeira intenção não deve vir da simples vontade de seguir uma tendência, e sim, de encontrar um propósito para trabalhar esses conceitos internamente. Para que essa relação faça sentido, a liderança da grande corporação precisa entender o valor da tecnologia e da transformação digital.
Grandes corporações X startups
A transformação digital é muito ampla e depende do contexto cultural de cada organização, pois o próprio modelo de relacionamento entre corporações e startups provém da flexibilidade de processos dentro das próprias empresas. Por exemplo, é importante esclarecer que a startup está inserida em contexto diferente com relação ao nível de formalização das informações e também do financeiro das grandes corporações. Outra diferença está na cultura de trabalho das startups, que se difere do que geralmente praticam as empresas tradicionais.
Nas grandes empresas é preciso diminuir o risco ao máximo, enquanto a startup arrisca. A área financeira das organizações de maior porte é mais estável, enquanto da startup é frágil. A startup é muito mais ágil e a empresa menos. Sendo assim, ao trabalharem juntas, existe um equilíbrio e todo o resto pode ser ajustado para otimizar os processos.
Alinhar os resultados da relação com as startups é também um ponto chave. Quando focamos nas empresas tradicionais e as startups, é possível observar dois barcos em velocidades muito distintas. A startup não é um tipo de empresa, e sim uma fase de nascimento de um negócio inovador que busca um modelo.
Quando colocamos esses dois players juntos para operar na mesma velocidade podemos nos deparar com muitos desafios. Não existe um manual para começar a fomentar essa relação, mas já temos cases suficientes no mercado para entendermos as boas práticas dos passos iniciais.
Por isso, é necessário estabelecer métricas não financeiras, já que é mais difícil enxergar os resultados nos primeiros meses de trabalho. Então, que tal começar a medir as atividades não apenas por retornos financeiros, mas por outras métricas como engajamento, por exemplo?
Iniciar diálogos internos sobre inovação tentando trazer mais aliados para esse tema dentro da organização pode ajudar na visualização sobre a capacidade da empresa de rodar por si própria ou da necessidade de buscar ajuda por outras rotas. Tanto o caminho do corporate innovation, quanto o da startup acontece com muita experimentação e testes. É preciso aproveitar o que cada um tem de melhor e saber ponderar.
Open Innovation e transformação digital são o caminho
O open innovation é um conceito muito utilizado pelas startups e consiste no compartilhamento de conhecimento e ideias entre empresas como pilar estratégico para o desenvolvimento de novas ofertas. Para fomentá-lo, o primeiro passo é entender como esses conceitos podem trazer valor à sua corporação.
Em um segundo momento, é necessário fazer com que a liderança realize um trabalho de conscientização para que todos da empresa passem pela transformação digital juntos. Em terceiro, é preciso envolver o time e desenvolver neles a capacidade do intraempreendedorismo das startups, para então estruturar um plano a longo prazo.
As grandes companhias não têm outra saída a não ser inovar. Inovando, a empresa conseguirá melhorar seu portfólio e estar sempre à frente da concorrência. O marco de aprendizagem está alinhado à metodologia da startup que ajudará a sua empresa a seguir melhorando continuamente, ainda que o retorno financeiro não seja visto a curto prazo.
* Ricardo Brandão é CEO da Sky.One, startup especializada no desenvolvimento de plataformas que automatizam e facilitam o uso da computação em nuvem.