* Por Rafael Honorato
Empreender é um caminho tortuoso, confuso e repleto de percalços, as comunidades chegam para melhorar essa relação.
Justamente por isso, conectar-se a comunidades acelera a aprendizagem, estimula a criação de laços e aumenta a performance dos negócios.
Mesmo com a obviedade da vantagem competitiva para as pessoas estarem conectadas em tribos, boa parte das comunidades ainda pena para manter o engajamento em alta e traduzir suas boas intenções em resultados concretos e duradouros.
O Brasil é terreno fértil com muitas comunidades que potencializam suas bases locais criando laços entre si e entre os outros atores do ecossistema empreendedor, como: governo, academia e grandes empresas.
Atuando junto de organizações como Arariboia Valley, ErreJota, ABStartups e InovAtiva, Angel Investor Club, entre outras; e vejo que há muita gente bem-intencionada e preocupada em elevar a condição do cenário empreendedor. Isso é muito bom para os empreendedores brasileiros, que são fortalecidos com essas conexões.
Existem dezenas de comunidades brasileiras mapeadas e repletas de pessoas voluntárias, que investem seu tempo, atenção e grana do bolso para elevar suas regiões.
E uma das dores constantes das comunidades é manter e aumentar o engajamento dos membros e sua eventual progressão para assumir funções de liderança. Assim sendo, as comunidades crescem sem donos, alternando a liderança e assim oxigenando as redes. Este é um movimento orgânico e muito bacana que garante que as comunidades não sirvam ao ego de poucos.
Isso tudo funciona, com seus acertos e percalços. Porém, tenho visto que muitos empreendedores gostam da ideia de comunidades, se conectam inicialmente, mas logo saem.
E o que já ouvi são coisas como “A ideia é boa, mas me parece que as comunidades são panelinhas para servir poucos.” “A fala é muito abstrata e longe da realidade prática.” “Preciso sair para me dedicar mais ao meu negócio.”
Ver esses movimentos de desconexão me faz questionar se nossa atenção enquanto líderes de comunidades está em quem está no centro do ecossistema empreendedor: os empreendedores.
Existem iniciativas incríveis para aumentar a base empreendedora, como os Hackathons e Startup Weekends. Há esforços louváveis para potencializar as lideranças como o FALCOM e encontros de liderança.
Então, o que falta para as comunidades crescerem e obterem sucesso em todas as iniciativas? E por que ainda existem dificuldades de conexão e engajamento? E até mesmo das nossas lideranças?
A resposta, é que talvez não estejamos resolvendo as dores dos clientes.
Muitos dos empreendedores em nossas comunidades não geram renda suficiente em seus negócios e precisam conciliar suas funções com outros trabalhos remunerados. Se eles não têm tempo para seus negócios, também não têm tempo para potencializar as comunidades, ainda mais de forma voluntária.
Gosto muito da Pirâmide da Hierarquia das Necessidades de Maslow. Usamos esse conceito em nossas mentorias, mas esse olhar precisa existir também para o “produto que nós vendemos” através das comunidades.
O autor Mike Michalowicz me poupou trabalho e fez a transposição desses conceitos para as necessidades básicas de um negócio. De baixo para cima, do sentido mais fisiológico, de sobrevivência até os níveis conscienciais temos: Vendas, Lucratividade, Ordem, Impacto e Legado.
Explicando brevemente, as necessidades mais básicas de um negócio são vendas e lucratividade. Sem isso, o negócio não resiste e os empreendedores não sobrevivem.
Como líderes de comunidade, nosso trabalho sempre visa a propagação dos valores de colaboração, do senso de comunidade, da filosofia por trás dos negócios e o despertar das competências humanas das pessoas por trás dos negócios.
São conceitos valiosos, que não se aprendem nas postagens superficiais de Instagram, no conteúdo dos gurus de palco e nem nos eventos mercantilistas. Isso é mérito do ecossistema, propagar conceitos positivos de construção coletiva ao invés do utilitarismo dos balcões de negócios.
Esses valores são de toda importância e na pirâmide ficariam no alto, em Impacto e Legado. Só que se a Marieta precisa conciliar o trabalho no escritório de dia e engatinhar seu negócio de noite, ela ainda está presa na camada mais baixa, buscando desesperadamente mais vendas para poder pagar os boletos do mês. E como podemos cobrar engajamento dela nas comunidades?
Os empreendedores precisam garantir seu sustento para poder oferecer engajamento. E nós, líderes de comunidades e movimentos precisamos unir todos esses pontos da equação. Com a coerência da construção coletiva, mas ao mesmo tempo apoiando os indivíduos a ter fôlego e sobreviverem.
É claro, que não devemos abandonar os preceitos do voluntariado, da entrega de valor descompromissado e da filosofia por trás das comunidades. Mas é também papel nosso garantir que menos empreendedores fiquem pelo caminho.
Encontrar essa medida é o que vai aumentar a importância e relevância das comunidades, e assim, nosso ecossistema cresce, inova mais e se torna mais competitivo.
Vai ser um caminho fácil?
Não.
Mas é por causa de desafios como esse que decidimos abraçar o empreendedorismo.