* Por Lilian Primo
Segundo um estudo feito pela Spencer Stuart, uma empresa britânica com mais de 65 anos de experiência em consultoria de liderança, em 2020, foi verificada que o percentual médio de mulheres em conselhos de liderança no mundo é de 27,1%, sendo que entre os países pesquisados, Noruega e França apresentam a maior representatividade sendo 44,2% e 44,6% respectivamente. Já o Brasil está entre os países com índice mais baixo, apenas 13,3%. Mas qual a importância de mulheres em conselhos empresariais?
Muitos podem pensar que é apenas uma pauta feminista, porém isso vai muito além, já há estudos provando que a diversidade em um conselho de uma empresa ajuda muito mais a tomar melhores decisões, principalmente em momentos de crise, pois ter opiniões diferentes no momento da tomada de decisões é essencial. Afinal uma empresa não é formada apenas por homens. Uma decisão tomada onde é considerado o todo da empresa é muito mais eficiente do que levar em conta apenas uma posição centralizada e antiquada do modo de pensar.
Trabalhei com excelentes diretores e diretoras em minha carreira. E é exatamente isso, ter dos dois lados dessa balança, tanto homens quanto mulheres, para existir uma diversidade inclusive na tomada de decisões. A questão é termos mais oportunidades para essas mulheres mostrarem o seu talento nessas posições de liderança.
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É triste imaginar que ainda existam homens que acreditam que mulheres não podem liderar, que não têm força para cobrar uma equipe ou que não saibam ensinar, sendo que esse mesmo homem se esquece que, muito provavelmente, teve várias mulheres durante seu crescimento que lhe ensinava, cobrava e organizava, como mães e professoras.
O ensino é um ótimo exemplo desse raciocínio, quem não teve uma professora que era a “diretora ou chefe” dentro de uma sala de aula? Ela ensinava, cobrava, disciplinava, conversava com o aluno(a) para entender seus problemas, assim como em uma empresa.
Outro exemplo de liderança é a nossa mãe, que muitas vezes é a responsável por organizar uma importante empresa chamada casa, além de organizar a sua vida profissional. Inclusive muitas vezes é mais cobrada do que um homem, tanto no trabalho da empresa quanto na criação dos filhos. Mesmo assim, essas guerreiras se dividem em muitas, para executar todas as tarefas de forma exemplar.
Incluir mulheres em conselhos é muito mais do que igualdade
Mas não basta a empresa colocar uma mulher no conselho, apenas com o intuito de usá-la como uma propaganda: “Nossa empresa é diversificada, entre os 12 conselheiros, temos 1 mulher”. Outro ponto importante é que, não basta ter uma mulher, porém ela não ter voz ativa nas decisões.
Para escrever este artigo, conversei com algumas amigas que fazem parte ou já fizeram de conselhos empresariais para entender as dificuldades que elas passaram. Infelizmente algumas me relataram que nas reuniões, muitas vezes, as decisões já tinham sido tomadas anteriormente entre eles. Os diretores homens se encontravam e conversavam sobre as questões que seriam tratadas. Quando acontecia a reunião do conselho, eles já estavam com a decisão tomada e não queriam muito se estender no tema, ou seja, mesmo com uma mulher no conselho, ela já chegava com o voto vencido.
Em outros casos ficava claro para a mulher que ela só estava no conselho por ser uma obrigação do RH da empresa, de ter ao menos uma mulher ou uma pequena diversidade no conselho, mas na prática não conseguia dar a opinião de fato.
Porém, nem tudo são histórias tristes, eu mesma tenho uma experiencia muito rica e desafiadora que gostaria de compartilhar com vocês, para que sirva de incentivo e exemplo para futuras líderes ou mulheres que queiram brilhar cada vez mais.
Como muitos já devem saber, iniciei minha carreira em uma grande multinacional, onde conquistei diversos cargos de liderança, e hoje sou presidente interina do conselho do Instituto Êxito, onde ajudei a organizar diversos assuntos do conselho consultivo, desenvolvendo agendas estratégicas para o desenvolvimento e crescimento do instituto, e após os dois últimos presidentes homens, assumi como presidente interina do conselho. E também conselheira dos co-investidores da Bossa Invest. Além disso, sigo como conselheira das Startups que invisto.
Estive em diversas posições de liderança, onde nunca tinha antes passado por uma mulher, e isso sempre foi para mim como um incentivo e uma oportunidade de mostrar que nós mulheres temos o poder de conquistas nosso espaço.
Muitas das minhas amigas fizeram verdadeiras revoluções nos conselhos, com ideias novas, rompendo com o antigo modelo. No geral, nós mulheres, possuímos desafios maiores em conciliar a vida pessoal e profissional, o que nos leva a conciliar pontos de vista diferentes e aceitar ideias novas com mais facilidade.
Portanto, a mensagem que gostaria de deixar para você, menina ou mulher, é: “O importante é começar”. Não importa se seu projeto seja pequeno ou grande, se você trabalha numa empresa pequena ou numa multinacional, o meu desenvolvimento não deixou de ser diferente, mesmo se eu estive numa grande empresa. Comece.
Essa busca igualitária entre homes e mulheres vai de encontro com a “AGENDA 2030”, lançada pela ONU em 2015 que conta com 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável). Vou destacar o 5º ODS que está relacionado com o assunto de hoje “Igualdade de Gêneros”.
Iniciativas como essa da “AGENDA 2030” e a crescente adoção do ESG (Environmental, Social and Governance) pelas empresas tem incentivado o aumento de mulheres nos cargos de liderança e inclusive reconhecimento internacional dessas mulheres. Se você se interessou sobre ESG, e queira saber a relação dele com a “AGENDA 2030”, recomendo que leia o meu artigo: “ESG – A nova tendência global das empresas”. Nesse artigo explico melhor essa tendência global de governança para as empresas.
Para finalizar deixo uma frase para reflexão, do discurso de 2014 de Emma Watson, que ficou mundialmente conhecida por interpretar “Hermione Granger” da série de livros e filmes de Harry Potter, no lançamento da campanha #HeForShe (ElePorEla), na época embaixadora da Boa Vontade da ONU Mulheres.
E um post da atriz no Facebook sobre precisarmos de que mais homens tomem uma posição pela igualdade de gênero:
“Quero deixar claro que, por definição, feminismo é a crença de que homens e mulheres devem ter direitos e oportunidades iguais. É a teoria da igualdade dos sexos nos planos político, econômico e social”.
“Os homens geralmente pensam que feminismo é uma palavra para mulheres … mas se você se posiciona pela igualdade de gênero, você é feminista“.
Lilian Primo é CEO e cofundadora da Mobye Mobilidade Eletrica. Executiva de Tecnologia, VP do Conselho Consultivo do Instituto Êxito Latino Americano de Empreendedorismo e Inovação e VP de TI na ANEFAC e Colunista na Nova Brasil FM.
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