* Por Vanesa Meyer
O dinheiro em espécie continua sendo muito usado e o nível de digitalização ainda é desigual, mas a América Latina pode estar enfrentando a força mais poderosa em favor da digitalização de toda sua história – a covid-19.
Forçadas a ficar meses em quarentena, as pessoas passaram a evitar o uso de dinheiro em espécie (em estudo recente, 68% disseram ter diminuído o uso desse método de pagamento) e aumentado o de métodos alternativos, como débito, crédito, carteiras digitais/P2P e pagamentos por aproximação. Além disso, abraçaram o e-commerce para ter acesso a muitos produtos e serviços.
Os bancos digitais da região já têm mais de 50 milhões de usuários — de uma população bancarizada de 260 milhões. As transações digitais representam mais de 60% das transações bancárias (isto é, transferências, conferências de saldo) no Brasil. Nomes sem tradição nessa área, como Rappi e PagSeguro, e até varejistas tradicionais, como Ripley e Magazine Luiza, estão oferecendo serviços de banco digital por meio de seus próprios produtos de carteira. Serviços bancários e pagamentos eletrônicos estão mais e mais integrados em um contexto de comércio baseado em celular, que está em constante expansão.
Na América Latina, o pioneirismo de empresas de diferentes verticais – instituições financeiras, estabelecimentos comerciais e novos atores do ecossistema – está fazendo a transformação acontecer em um ritmo contínuo e rápido.
Para melhor entender como as empresas mais inovadoras estão aproveitando essa aceleração para aprimorar os produtos e serviços que oferecem ao consumidor, a Visa encomendou um estudo à Americas Market Intelligence (AMI). Segundo o estudo, a cultura interna, a estrutura corporativa, as metodologias de trabalho, as parcerias e a forma como a empresa usa tecnologia afetam o nível e a qualidade da inovação que ela traz ao mercado.
Na segunda pesquisa anual Innovation Rising in Latin America: Lessons from Innovative Leaders Across the Region, apresentada em setembro, vimos que independentemente de seu porte, setor de atuação ou do fato de sua operação ser digital ou física, as pioneiras em pagamento têm três características em comum:
Espírito inovador e um desejo sincero de melhorar a vida dos consumidores
As empresas mais inovadoras lançam produtos que melhoram a vida dos consumidores antes mesmo que eles percebam a necessidade de tais produtos. Querem criar valor agregado e ser as primeiras a resolver as dores do consumidor. Lançam ideias no mercado em menos tempo e com mais frequência, criando produtos minimamente viáveis para ‘peneirar’ as melhores ideias antes de investir pesadamente.
Geralmente, as pioneiras têm uma cultura inerente de inovação e de insatisfação com o status quo, incentivando seus funcionários a assumir riscos diariamente. Essa cultura leva à implementação de certos parâmetros que vão de design centrado no consumidor a metodologias ágeis e que promovem uma comunicação aberta e constante entre as equipes, reforçando a mentalidade inovadora que já existe.
Amplo uso de APIs e tecnologias avançadas
As empresas mais inovadoras usam quase duas vezes mais APIs do que as outras empresas da amostra. O uso de APIs e sua ampla integração na arquitetura organizacional indica que a empresa está alicerçada em tecnologia e disposta a fazer integrações internas para ganhar eficiência, e externas, para compartilhar e alavancar o uso de dados com parceiros.
Além disso, usam biometria, tokenização, Inteligência Artificial, aprendizagem automática e IoT de forma inteligente para criar experiências de pagamento que não deixam o consumidor preso a um equipamento; soluções de pagamento baseadas na nuvem criam experiências fluidas e em tempo real, onde o pagamento é uma consequência natural. Ao fazerem isso, deixam a concorrência para trás e viabilizam experiências comerciais invisíveis e sem inconvenientes.
Estão mais dispostas a se associar a fintechs e startups para evoluir seus produtos e serviços
As grandes inovadoras fazem 50% mais parcerias do que as outras empresas do estudo. Isso lhes dá acesso a expertise e a capacidades externas ao seu segmento, sem a necessidade de gastar recursos para adquiri-las.
Normalmente, as instituições financeiras buscam parceiros para melhorar a experiência de mobile banking, habilitar a integração digital e o uso de biometria para autenticar os usuários. Ao fazerem isso, conseguem oferecer uma experiência de usuário (UX) melhor, algo que não costuma ser seu ponto forte. Já os estabelecimentos comerciais costumam se associar a fintechs, pois seus desafios estão mais relacionados à habilitação de novos métodos de pagamento, processamento e logística.
Há muitas oportunidades para aumentar a digitalização, pois nem todas as demandas dos consumidores por pagamentos fáceis, simples e interoperáveis, disponíveis digitalmente a todo tempo e em todo lugar foram atendidas. Com o confinamento causado pela covid-19, a adoção de pagamentos digitais por consumidores e estabelecimentos comerciais está sendo mais rápida do que nunca, o que os deixa cada vez mais preparados para experimentar tecnologias de pagamento de próxima geração. Empresas que veem a inovação como parte do seu DNA e que evoluem constantemente para atender aos consumidores onde quer que estejam estarão mais preparadas para crescer e se beneficiar de um ambiente de digitalização acelerada. Por isso, reforço: o momento para abraçar a digitalização é agora.
* Vanesa Meyer é head de Inovação e Design da Visa América Latina.