* Por Marcus Weldon
Estamos todos cientes da famosa frase “a necessidade é a mãe da invenção”, comumente atribuída a Platão ou Einstein como as declarações mais profundamente perspicazes normalmente são! Há outra variação ou extensão dessa frase que eu prefiro: “se a necessidade é a mãe da invenção, então o descontentamento é o pai do progresso” atribuído a David Rockefeller. Gosto desta última versão, pois sugere que a invenção por si só é desencadeada por uma necessidade, mas criar uma solução para essa necessidade rapidamente requer uma insatisfação catalisadora.
A atual situação da covid-19 está claramente afetando a vida das pessoas. O abrigo em casa/trabalho de casa, locais fechados e o “distanciamento social” quando saímos, são situações extremamente complicadas para nós como criaturas sociais e, portanto, estressantes.
E estamos recorrendo a comunicações remotas para tentar resolver essa insatisfação.
A história das redes é uma história sobre ajudar os humanos a se comunicarem. Olhando para os últimos duzentos anos, primeiro “trabalhamos em rede”, com cartas transportadas por uma rede de correio. Esta rede era composta por cavalos, vagões, trilhos e navios a vapor para transportar o correio, e pessoas para coletar, separar e entregar. Essa rede física foi substituída pela rede “digital” – o telégrafo – que permitiu a comunicação quase em tempo real em grandes distâncias, utilizando o código Morse, embora com intermediários humanos como operadores de telégrafo satisfazendo a interação menos do que “íntima”.
E então, é claro, em 1876, veio a invenção do telefone, e a construção da primeira rede quase global de fios que permitiria comunicações pessoais e em tempo real baseadas em voz. Pela primeira vez, a troca dinâmica de ideias, visões e notícias foi possível, e a criação da comunidade humana global foi o resultado.
Indiscutivelmente, desde então, permitimos uma mobilidade humana quase completa e a capacidade de ser desassociada de um local específico, usando uma rede global de infraestrutura sem fio. A construção e a evolução perpétua dessa infraestrutura com a World Wide Web é uma notável realização técnica e humana, mas a questão que muitas vezes pondero é se realmente nos sentimos mais conectados uns aos outros, ou se estamos agora conectados a uma série de serviços que, embora úteis para entretenimento ou acesso à informação, têm o efeito final de nos distanciarmos socialmente um do outro.
Acho que essa dicotomia cria a “necessidade” que conduzirá o rápido progresso e novas invenções. Em suma, penso que a nova realidade que estamos vivenciando resultará em um despertar para o valor fundamental de sistemas e plataformas de comunicação humana de alta qualidade que são tão bons, ou melhores, do que estar uns com os outros pessoalmente.
A base desse futuro é a capacidade de rede; a necessidade de capacidade de rede em todos os lugares nunca foi tão óbvia, pois agora estamos totalmente dependentes da conectividade digital. Já vimos aumentos de 30 a 50% no pico do tráfego em nossa infraestrutura de roteadores nos últimos dias – aumentos que normalmente ocorrem apenas anualmente. E isso vai se traduzir na necessidade de expansão contínua da capacidade. É claro que, nos tempos atuais, é mais difícil implantar novos equipamentos, mas na era das redes definidas por software e funções de rede virtualizadas, em muitos casos esses upgrades podem ser implementados em tempo quase real.
Mas olhando para além da simples conectividade e capacidade, nos próprios serviços de comunicação, há também claramente a necessidade de uma experiência de alta qualidade de ponta a ponta. A camada de base deve ser a comunicação de voz de alta qualidade e os serviços de voz sobre LTE móveis e voz sobre IP fixos estão desempenhando um papel crítico nesse sentido.
Além disso, é claro que as comunicações por vídeo com várias pessoas são uma peça importante da equação para nos permitir ter a “presença” humana aural e visual. Essa necessidade está impulsionando uma nova onda de inovação e criatividade, começando pelo surgimento de plataformas de ensino a distância e tutoriais em vídeo que estão preenchendo a lacuna do aprendizado direto no tempo do ‘sem contato’. E estamos descobrindo que há vantagens para essas novas abordagens – pode-se repetir a lição a qualquer hora, em qualquer lugar, para que todos possam aprender no seu próprio ritmo, à sua maneira. Também vejo o surgimento de colaborações digitais em grupo com, por exemplo, orquestras ad hoc formando-se para criar peças musicais juntas em distanciamento social, ou experiências de compartilhamento entre amigos e familiares em hangouts ou encontros digitais. Essas coisas estavam acontecendo antes em comunidades menores, mas de repente estão se tornando mais populares e mudando a forma como interagimos na era digital, e para melhor.
Então, o que estamos fazendo no Nokia Bell Labs e na Nokia? Bem, é claro que estamos trabalhando nas inovações de curto e longo prazos nas tecnologias básicas de conectividade, para ir cada vez mais rápido. Recentemente, demonstramos uma nova velocidade recorde mundial – mais de 1,5 Terabits/segundo, ou mais de 1,5 milhão de conexões de videoconferência – sobre uma única fibra. Essas altas velocidades provavelmente serão necessárias muito mais cedo do que qualquer um previu, como os eventos recentes mostraram. Além disso, precisamos conectar todos, mesmo nos lugares mais remotos, e através dos projetos de pesquisa que empreendemos com parceiros como Google Loon, Softbank e outros na Haps Alliance, poderemos ajudar a fazer a ponte das distâncias digitais com tecnologias e arquiteturas que suportam conectividade universal.
Também estamos “na linha de frente” ajudando a lidar com as enormes cargas de dados nos hospitais. Estamos fornecendo a solução Nokia Digital Automation Cloud aos hospitais para criar uma solução de rede sem fio privada de ponta a ponta com conectividade simples plug and play para todos os ativos críticos em uma rede hospitalar.
E também colocamos nossos gurus de IA e analytics para trabalhar no recém-anunciado desafio covid-19 para ajudar a minerar a enorme quantidade de dados emergentes para desenvolver uma nova compreensão deste enorme desafio para a humanidade, em tempo real.
Mas isso é só o começo. Estamos trabalhando em novos sistemas e plataformas que aumentarão a produtividade humana no trabalho, além de comunicações simples. Se olharmos para o futuro e o que é muitas vezes chamado de “Internet Industrial”, grande parte da nova criação de valor será em torno da capacidade dos seres humanos de ver, entender, gerenciar, operar, consertar e interagir remotamente com todos os tipos de sistemas físicos e máquinas. E essa realidade também dependerá de encontrar novas soluções para os problemas de comunicação e conectividade que nós humanos estamos experimentando atualmente à medida que somos forçados a nos distanciarmos uns dos outros.
Recentemente, mostramos como o aumento da produtividade, que resulta dessas novas habilidades, realmente levará a uma vida melhor com salários mais altos e mais tempo de lazer, que, respectivamente, aumentam a demanda e a criatividade, o que, por sua vez, aumenta a produtividade em um ciclo virtuoso.
Então, para encerrar, a crise atual é um desafio para a humanidade – disso não há dúvida. A longo prazo, acredito que conduzirá avanços científicos, tecnológicos e de negócios que mudam o modo de vida para o bem da humanidade. Mas, enquanto isso, vamos ser os mais responsáveis possíveis seguindo as regras de distanciamento social, de modo que o preço que pagamos não seja insuportavelmente alto. Sei que falo por todos na Nokia quando digo que todos os nossos pensamentos estão com famílias que estão sofrendo com a covid-19 atualmente. Tenha certeza de que estamos acelerando o motor de inovação para nos impulsionar a superar a crise atual para um futuro mais brilhante, mais satisfatório e realizado, não tão distante para todos nós.
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* Marcus Weldon é CTO da Nokia e presidente da Bell Labs.