* Por Marcelo Navarini
Nos últimos anos, o mundo vem passando por uma transformação digital sem precedentes, com um volume incrível de soluções ofertadas ao mercado nos mais diversos modelos (B2C, B2B, B2B2C..) e segmentos (varejo, saúde, financeiro, serviços, entre outros). A pandemia, que inicialmente gerou receio dos investidores e empresários em geral, na verdade acabou acelerando tendências estruturais que vinham modificando as relações de consumo.
Vimos surgir diversas soluções tecnológicas com o intuito de automatizar e solucionar os problemas de gestão das empresas. Mesmo em setores mais tradicionais, como indústria e agronegócio, observamos uma maior busca por incorporar novas ferramentas, impulsionar os processos internos, intensificar os negócios, e também os esforços do poder público em estimular as micro e pequenas empresas, com muitos programas de apoio e iniciativas de capacitação.
Além disso, na esteira da reforma trabalhista de 2019 que ampliou os espaços para relações de trabalho, a crise econômica causada pela pandemia fez com que diversas pessoas partissem para o empreendedorismo em busca de uma renda para restabelecer suas finanças. Neste cenário, desde o começo de 2020, o Brasil viu crescer de forma significativa o número de microempreendedores individuais (MEIs).
Segundo o Mapa de Empresas do Ministério da Economia, somente em 2020, cerca de 3,36 milhões de empresas foram abertas no país, sendo 2,66 milhões de MEIs. Já em 2021, esse quadro se manteve e, apenas nos primeiros seis meses do ano, foram abertas 2,03 milhões de empresas, das quais 79% foram MEIs. Entre as atividades, destaca-se comércio de bebidas, serviços administrativos, padarias e confeitarias.
Esse crescimento faz com que atualmente os microempreendedores individuais representem 56,7% do número total de empresas brasileiras, de acordo com dados do Sistema de Recolhimento em Valores Fixos Mensais do Tributos do Simples Nacional (SIMEI). No entanto, com a economia voltando ao normal e a taxa de desemprego diminuindo, é possível que a curva de crescimento observada nos últimos dois anos se estabilize ou, até mesmo, diminua. Mesmo que essa tendência se confirme, os acontecimentos recentes foram importantes para que alguns profissionais encontrassem sua vocação para o negócio.
No mundo das PMEs, em especial no varejo, destaca-se a ampliação de novos canais de vendas no digital e muita criatividade através de novos modelos de negócio e segmentação. Os últimos acontecimentos ampliaram as estratégias de empresas e novos negócios focados no ambiente on-line.
Outro indicativo que evidencia este ciclo de mudança é o aumento do número de serviços on-line, como lojas virtuais, e-commerces, marketplaces e aplicativos de entrega, que estimularam o surgimento de infoprodutores e criaram um novo costume entre consumidores, que passaram a ter mais confiança na hora de fazer uma compra pela internet. Apesar das incertezas, é possível avaliar que o empreendedorismo ganhou protagonismo e as transformações tecnológicas nas relações pessoais e de trabalho continuarão estimulando seu crescimento.
Outro aspecto importante, é que esse empreendedorismo, muitas vezes suportado apenas pela necessidade e vontade de vencer, nasce com uma maior produtividade, na medida que os trabalhos são facilitados por ecossistemas de inovação e tecnologias facilitadoras. Os desafios da base da pirâmide ainda são enormes, mas os avanços evidenciam que ainda há espaço para construir um melhor ambiente de empreendedorismo no País.
Marcelo Navarini é COO do Bling, sistema de gestão do Grupo Locaweb. O executivo é Administrador e Mestre em Economia Internacional. Antes do Bling, Navarini atuou como Investment Officer na CRP Cia de Participações, em transações de Venture Capital e Private Equity, além de outras experiências em empresas do setor financeiro e de bens de consumo. Atualmente acumula, também, o cargo de Diretor de Operações da Pagcerto.