Diariamente, nos deparamos com notícias sobre o uso de inteligência artificial (IA) nos mais diversos setores: saúde, mobilidade urbana, alimentação, entretenimento e, claro, o setor financeiro. Uma pesquisa do McKinsey Global Institute aponta que, até 2030, a inteligência artificial poderá contribuir para um resultado econômico global de US$ 13 trilhões adicionais ao ano. O “hype” da vez tomou tamanha proporção que até parece nos fazer indagar como era possível viver antes sem tão importante inovação.
Principalmente a IA generativa (genAI) tem chamado a atenção de governos, empresas e do público em geral. Não é para menos: com a nova tecnologia está sendo possível processar dados, interpretar informações e criar conteúdo com uma rapidez e qualidade nunca imaginado. Nessa linha, muito se tem falado dos avanços e vantagens do uso de IA no setor financeiro, porém, como toda inovação, é preciso ter cautela.
Sabemos que as novas tecnologias, principalmente as que envolvem internet, são carentes de regulamentações. O governo de diversos países tem buscado agilizar leis e normas, mas a própria tecnologia em si se renova rápido demais, o que torna difícil acompanhar essa dinâmica. Mas não há dúvida da necessidade de regulamentações específicas para setores específicos.
Se tratando do setor financeiro, diversas instituições, como o caso do Banco Central Europeu (BCE), têm destacado a relevância de monitorar e regular o uso de inteligência artificial (IA) para garantir a proteção dos consumidores, bem como o bom funcionamento dos mercados. Algumas das principais preocupações da instituição europeia são os riscos de ataques cibernéticos, indução de decisões automatizadas e dependência excessiva de fornecedores da tecnologia. A União Europeia, por sua vez, encabeçou mundialmente a formulação de regras para o uso geral de IA exigindo, por exemplo, que os sistemas cumpram obrigações de transparência e leis de direitos autorais. Porém, o BCE destaca que quando o assunto é finanças, os riscos são potencializados, o que exige maiores cuidados.
O setor financeiro lida não apenas com dados sensíveis das pessoas – o que, por si só já são informações que exigem cuidado – mas também com dinheiro de empresas, governos e indivíduos. Um levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) para o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) de 2023, indicou que 7,2 milhões de consumidores sofreram alguma fraude em instituições financeiras nos 12 meses anteriores à pesquisa. Imagine o tamanho do estrago caso a IA seja usada indevidamente, como clone de imagens e voz para roubar dados.
Tarefa das instituições e dos usuários
No Brasil, há um projeto de lei (PL 2338/2023) em tramitação no Congresso que visa estabelecer normas gerais para concepção, desenvolvimento, implementação, adoção e governança de IA. Não é uma iniciativa focada para o setor financeiro, mas sua aplicação já irá favorecer bastante o cenário.
Enquanto a legislação caminha, as empresas devem ter boas práticas visando proteger seus negócios e seus clientes. Algo essencial, por exemplo, é ter parcerias que, além de fornecer expertise em IA, não abrem mão da segurança e transparência. Por outro lado, os próprios usuários devem estar sempre atentos às regras de cibersegurança, como não acessar links suspeitos, não fornecer dados pessoais a desconhecidos e não fazer transações financeiras em redes de internet pública.
Vivemos em um momento que é praticamente impossível fugir da IA no nosso dia a dia. Se não diretamente, algum serviço ou produto que consumimos pessoalmente ou no nosso trabalho tem a tecnologia por trás. Por isso, segurança e estratégia devem fazer parte de qualquer decisão que envolve tecnologia. Fazemos parte de um momento histórico de transformação digital e avanço tecnológico. Nos cabe fazer o melhor uso possível disso.
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