* Por José Eduardo Mendes de Camargo
O agronegócio brasileiro representa um segmento extremamente importante para a geração de riquezas e, portanto, para o desenvolvimento do País. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, em 2017 o setor representou mais de 44% do PIB brasileiro.
Dados do Ministério da Agricultura (Mapa) indicam que, nos vinte anos referentes ao intervalo de 1997 a 2017, o Brasil exportou US$ 1,23 trilhões e empregou mais de 30 milhões de pessoas. Somente no ano passado, as exportações do setor totalizaram US$ 102 bilhões e a expectativa é a de que 2019 se encerre com um crescimento de 2% (até agosto deste ano, as exportações derivadas do agronegócio superaram os US$ 64 bilhões, com o envio de mais de 4 mil produtos para terras estrangeiras).
Embora apresente um potencial de crescimento gigantesco – o consumo de castanhas e nozes no mundo tem aumentado em 6% ao ano, de acordo com o International Nut Council (INC) -, o segmento representa apenas 18% do total das exportações brasileiras. Depois de aumentar em 41% o volume exportado e em 78% as receitas provenientes da venda de diferentes qualidades de nozes e castanhas a outros países em 2018 com relação a 2017, o Brasil registrou o envio de 21 mil toneladas de produtos desta natureza para o exterior, com receita de US$ 190 milhões. A cifra é pouco representativa perto dos outros produtos da balança comercial do agronegócio e os números poderiam ter sido muito melhores com investimentos adequados em ferramentas de estímulo ao cultivo destes produtos.
Para se ter uma ideia, o Chile foi capaz de, em dez anos, multiplicar por seis as cifras resultantes da exportação de diferentes qualidades de castanhas e nozes, ampliando de US$ 96 milhões para US$ 586 milhões as receitas provenientes com o comércio internacional destes produtos. Sem realizar os investimentos necessários, o Brasil trabalha aquém da sua capacidade e perde a oportunidade de colocar o segmento como o 15º na pauta de exportação nacional. Irônico é que, entre as oito castanhas e nozes mais consumidas no mundo, quatro delas estão presentes no Brasil.
Para que se possa explorar de maneira apropriada a capacidade nacional, seja pelo extrativismo ou pelo plantio, é preciso estimular não apenas a produção e o consumo, como o desenvolvimento de pesquisas que permitam descobrir potencialidades ainda ignoradas destes produtos, de modo a ampliar seu valor agregado e também o interesse dos agricultores pelo cultivo destas culturas.
Mas, além da comunidade científica e dos institutos de pesquisa, entidades certificadoras e as cadeias de varejo também deveriam ter um olhar mais carinhoso e atento às possibilidades relacionadas às culturas de nozes e castanhas em diferentes segmentos. Além dos benefícios à nutrição e à saúde, os produtos têm potencial nas indústrias cosmética, na medicina e no setor de embalagens, apenas para citar alguns exemplos.
Uma prova disso é a pesquisa vencedora do Intel International Science and Engineering Fair, na categoria Ciência dos Materiais, da estudante brasileira Juliana Estradioto. A jovem buscou alternativas rentáveis e sustentáveis para o aproveitamento dos resíduos da casca da noz de macadâmia, que é descartada pela indústria. O processamento da noz gera 75% de resíduos e, de acordo com os resultados da pesquisa, podem ser transformados em uma espécie de plástico biodegradável e também em uma segunda pele que estimula a regeneração celular no caso de queimaduras. O projeto surgiu da demanda da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores de Noz de Macadâmia (Coopmac)e contou com apoio do Instituto Federal do Espírito Santo, no Rio Grande do Sul, e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos (ICTA), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS).
Outras possibilidades de estudos ainda latentes estão relacionadas à busca por mecanismos que permitam ampliar a produtividade e o desenvolvimento de novas espécies em decorrência do cruzamento de variedades distintas de nozes e castanhas.
Também é relevante o fato de que o País carece de dados confiáveis sobre a produção, considerando inclusive o volume de produtores envolvidos com o cultivo de cada variedade, assim como da capacidade atual e potencial de cada um deles. Sem dados claros torna-se inviável desenvolver programas adequados com foco no aumento da produtividade, para que o Brasil se torne cada vez mais competitivo.
Além disso, é preciso atenção do Governo aos acordos internacionais, fundamental para que se possa melhorar os ganhos do agronegócio com estas culturas. Para se ter uma ideia, a macadâmia australiana entra na China com alíquota zero, enquanto a brasileira é taxada em 12%; castanhas peruanas ingressam na Coréia com taxas de 3% e há negociações para isenção tarifária, enquanto as castanhas brasileiras são taxadas em 30% naquele país.
O Brasil tem capacidade e potencial para se tornar um dos principais produtores do mundo de nozes e castanhas, lucrando muito com isso. O segmento pode se tornar uma verdadeira galinha dos ovos de ouro do agronegócio nacional, com investimentos e políticas adequadas. Trata-se de uma cultura relevante, distribuidora de rendas, extremamente versátil em sua aplicação na indústria e representativa de benefícios à saúde e ao meio ambiente. O que estamos esperando?
* José Eduardo Mendes de Camargo, é presidente da Associação Brasileira de Nozes e Castanhas (ABNC) e diretor do Departamento de Agronegócios da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).