* Por Marina Proença
Tenho como um grande propósito na vida a missão de ajudar outras pessoas a viverem melhor. E acredito que isso se dá muitas vezes pela sua independência financeira, principalmente, quando falamos das mulheres – há muito ainda o que se fazer pela nossa equidade de direitos e com a pandemia, tivemos, inclusive, alguns retrocessos no progresso conquistado nas últimas décadas.
Mais do que isso, não vai ser um método milagroso que vai fazer com que as pessoas tenham geração de renda em um buraco de empregos deixado pela crise sanitária, mas sim, aquilo que eu defino como o empreendedorismo consciente possível, trocando em miúdos, é empreender com o que é de fato palpável.
De verdade, aí está o pulo do gato: como fazer muito com pouco em um país que concentra também o fomento para empreender em suas capitais, principalmente em São Paulo? Mas… Um parênteses aqui. A pandemia acelerou iniciativas empreendedoras em todo o país, seja pela busca de um propósito maior, e principalmente pela necessidade de gerar renda.
Um último estudo da Endeavor, publicado recentemente, revela o avanço de um ecossistema promissor também pelo interior do país, o que foi possível constatar graças à inclusão de mais municípios neste mapeamento.
É com essa vontade de fazer algo diferente, voltando àquela ideia do empreendedorismo consciente possível, que umas das possibilidades enxergadas por mim está na união de pessoas por meio das redes sociais, cujo propósito em comum se apoie da ideia de colmeia auto sustentável, gerando renda, economizando tempo e dinheiro. Essa ideia se encaixa em um conceito novo na América Latina, chamado de community group buy, já bem consolidado em alguns países, principalmente os asiáticos.
Impacto direto na vida e saúde das mulheres
O cenário da pandemia trouxe danos maiores às mulheres que foram penalizadas não somente com a perda de renda ou emprego – que afetou todos os grupos, mas também o cuidado com os filhos e a casa que geralmente recai sobre elas. O resultado de toda essa complexidade de responsabilidades não podia ser outro: mais da metade das mulheres brasileiras estão fora do mercado de trabalho.
Segundo dados da Pnad Contínua, do IBGE, no terceiro trimestre de 2020, 8,5 milhões de mulheres abandonaram seus postos de trabalho remunerado. Com isso, a taxa de participação feminina na força laboral ficou em 45,8%, uma brusca queda de 14%, quando comparado a 2019.
Pois bem, de fato, os números são bem preocupantes, mas tento sempre ser otimista e acredito muito na força e potencial dessas mulheres. Agora, imagina se todas elas se unissem em prol de um bem comum? O que isso não poderia gerar? Se a gente não pode contar no curto prazo com políticas públicas, já que as necessidades de subsídio da educação e cuidado com as crianças são para ontem, por que não adaptamos o ambiente de trabalho? O que podemos fazer enquanto empresa, empreendedor ou mesmo o que a sociedade em geral pode fazer para criar dinâmicas mais inclusivas? Somado a isso, vejo uma necessidade muito grande de fomento de qualificação e principalmente, a inclusão digital, para que elas sejam donas de seu próprio destino.
Por isso acredito tanto no poder que as redes sociais têm de aproximar comunidades, fomentar negócios (claramente alavancados pelo digital como agora na pandemia), que por consequência têm transformado vidas, gerado renda para quem precisa, trouxe novas perspectivas para quem estava desolado, e principalmente, trouxe de volta motivos para sonhar com dias melhores à frente.
Está mais do que passada a hora de redobrarmos força e apoiarmos direta e indiretamente o empreendedorismo feminino. Incentivando, gerando recursos e redes de apoio acessíveis para que mais mulheres articulem novos negócios com reais fontes de renda. Sabemos que quando uma mulher avança, ela carrega outras com ela, em efeito colmeia, na comunidade. Quando a sociedade entender de uma vez por todas que o segredo está em combinar bem o individual e o coletivo, teremos uma transformação em progressão, com impacto socioeconômico, cultural e ambiental.
* Marina Proença é empreendedora na área de tecnologia com foco na entrega de valor para o cliente final. Atualmente, como cofundadora da Favo, empresa pioneira na implementação do community group buy na América Latina – novo modelo de comércio online de itens de supermercado baseado em micro localizações, feito por empreendedores parceiros e através das redes sociais, é onde exerce seu propósito de vida que é o de melhorar a vida das pessoas, seja financeiramente, como também na autoestima.