* Por Lilian Primo
Temos a impressão de que o mundo da tecnologia sempre foi o ambiente para os homens, de que o termo “Nerds” nem exista no ambiente feminino, e de que as mulheres não se interessam tanto assim por essa área e que somente agora as mulheres estão buscando seu espaço.
Porém isso não é nada verdade, hoje quero te provar, querido leitor, que muitas das tecnologias que usamos até hoje foram criadas por mulheres. Do primeiro programa de computadores da história, até o nosso WiFi. Em uma época que os homens eram a grande maioria nessas áreas, elas mostraram a sua força e inteligência.
Temos que começar por Ada Lovelace, ou melhor dizendo, Augusta Ada Byron King, porém ela ficou mais conhecida como “Condessa de Lovelace”. Nascida em Londres (Inglaterra) no dia 10 de dezembro de 1815, filha do ilustre poeta britânico da época Lord Byron e de Anabella (Lady Byron), após um mês de seu nascimento seus pais se separaram e Anabella levou sua filha recém-nascida para viver na Grécia.
Ela sempre gostou de matemática e aos 17 anos conheceu Mary Somerville, tradutora das obras do matemático e físico francês Pierre-Simon Laplace, ou Marquês de Laplace. Somerville foi muito importante na vida de Ada, sempre a incentivando no mundo da matemática, e foi em um jantar onde Somerville convidou Ada aos 19 anos a conhecer Charles Babbage, que estava trabalhando em uma máquina de cálculos, nomeada futuramente de Máquina Analítica.
Confira aqui o Mídia Kit do Startupi!
Aos 20 anos ela se casou com William Lord King, tornando-se Lady Lovelace em 1838. Após o parto de sua primeira filha, ela ficou com a saúde debilitada e voltou a estudar matemática com Augustus de Morgan, considerado um dos pioneiros na criação da lógica simbólica.
Aos 28 anos, casada com o conde de Lovelace e mãe de três filhos, Ada recebeu um artigo do pesquisador italiano Menabrea para ser traduzido a pedido de Babbage. O artigo era um resumo de como funcionaria a máquina analítica do próprio Babbage.
Além de traduzir o documento, ela o complementou com notas pessoais e apontamentos, o que aumentou em muito a percepção de como poderia ser usada a máquina, fazendo triplicar o tamanho do artigo.
Essas notas adicionais mostravam instruções de como se poderia usar essa máquina analítica. Ela mesmo mostrou essas notas para o próprio Babbage e sugeriu que a máquina poderia até calcular números de Bernoulli, produzir músicas complexas, gráficos precisos e aplicação prática e teórica na matemática.
Porém aos 36 anos de idade, com a saúde bem debilitada, Lady Lovelace morreu vítima de câncer de útero.
Você pode estar me perguntando, ela gostava muito de matemática, mas qual foi a importância de Ada Lovelace na área de tecnologia? As instruções para usar a máquina analítica, ou como falamos hoje no mundo da informática esse algoritmo, é considerado o primeiro programa de computador, ou seja, Ada Lovelace é considerada a primeira programadora do mundo ou mãe da programação.
Apesar de uma vida curta, o trabalho dela foi fundamental para chegar na tecnologia que temos hoje. O próprio Alan Turing, conhecido como o “pai da computação moderna”, faz referência ao trabalho de Lovelace em suas pesquisas e reconhece a importância dela nessa área.
Não faltam homenagens a Lovelace, o departamento de defesa dos Estados Unidos criou a linguagem de programação ADA em homenagem a ela em 1980. Em 1981 a Associação de Mulheres na Computação criou o Prêmio Ada Lovelace e, por fim, a “A Associação Britânica de Computação” criou a Medalha Lovelace.
Falando de programação, não podemos nos esquecer dela, Grace Murray Hopper, a apelidada “vovó do COBOL”. Ela nasceu em 1906 em Nova York, nos Estados Unidos. Se formou em Matemática e Física em 1928, terminando o seu mestrado em 1930 e concluindo o doutorado em matemática no ano de 1934.
Quando estava realizando seu doutorado em 1931, ela lecionava aulas de matemática no Vassar College, porém em 1943 ingressou na Escola Naval da Marinha dos Estados Unidos e se formou como primeira da turma. Devido a isso ela foi fazer parte da equipe de programação do Mark I Computer, do Bureau of Ships Computation Project, da Harvard University.
O Mark I também é conhecido como Automatic Sequence Controlled Calculator. Em 1973 se tornou capitã da Marinha e aposentou-se em 1986, falecendo 6 anos depois em 1992.
Uma curiosidade de Grace é que uma das histórias de origem do termo “bug” na computação é atribuída a ela. É muito comum até hoje, quando temos um problema com nossos computadores, usarmos a expressão “deu bug” ou “bugou tudo”, e outras inúmeras expressões que variam da palavra “Bug”, que em inglês significa inseto.
Então por que usamos esse termo? Em 1945 o supercomputador de Harvard Mark II não estava funcionando e Grace estava investigando o motivo. Vale lembrar que estamos falando da época em que os computadores ocupavam uma sala toda, muito diferente dos portáteis de hoje em dia, foi quando ela encontrou uma mariposa que ficou presa no computador, atraída pelas luzes e calor do equipamento e causou a falha. Ela fez o debugging, ou seja, a remoção do inseto.
Ela também fez parte da equipe do UNIVAC I (Universal Automatic Computer), o primeiro computador comercial, fabricado e comercializado nos EUA. E não parou por aí, após trabalhar nesse projeto, ela criou seu próprio compilador, que traduz um programa de texto para a linguagem do computador. Isso mudou a ideia de que os computadores só faziam contas matemáticas.
Apenas o que relatei até o momento sobre Grace já garantiria um lugar na história, porém lembra que ela tinha o apelido de “vovó do COBOL”? Foi então que na época, almirante Grace, criou uma linguagem de programação chamada Flow-Matic, que foi a base da linguagem COBOL (Common Business Oriented Language), uma linguagem orientada para o processamento de banco de dados. Mesmo não tendo participado diretamente no desenvolvimento dessa linguagem, ela foi fundamental na criação dessa nova linguagem, rendendo a ela o apelido “vovó do COBOL”.
Em sua vida Grace Hopper coleciona inúmeros doutorados honoris causa, além de prêmios e homenagens. Em 1998 a Marinha dos Estados Unidos, nomeou um navio de USS Hopper, sendo o seu lema em latim “aude et effice”, o que se pode traduzir de forma livre como “atreva-se a criar” ou “ouse e faça”.
E para encerrar essa homenagem, vamos falar de Hedy Lamarr, considerada a mãe da internet sem fio. Foi uma atriz famosa de Hollywood que escapou do regime nazista na segunda guerra mundial.
Nascida na Áustria em 1914, possuía ascendência judia, Hedwig Eva Maria Kiesler, desde criança se interessava por máquinas e invenções. Porém sua mãe, sendo uma pianista, influenciou a filha a seguir os caminhos das artes durante sua adolescência.
Em 1930, aos 16 anos, fez a sua primeira participação em um filme e já aos 18 anos estrelou o controverso longa-metragem Ecstasy. Neste mesmo ano casou-se com Fritz Mandl, dono de fábrica de armamentos e com ligação com o governo nazista que recém chegara ao poder. Segundo as próprias palavras de Hedwig, ela se tornou uma prisioneira na própria casa e foi obrigada a parar de atuar.
Em 1937, cansada de um casamento fracassado e também preocupada com o avanço da guerra, ela abandona tudo e foge da Áustria para Londres, na Inglaterra. A partir daí ela vai para os Estados Unidos, onde consegue retomar sua carreira de atriz. Para esse recomeço ela adota o nome de Hedy Lamarr, em homenagem à falecida atriz Barbara La Marr. Anos depois ela ganha uma estrela na famosa “Calçada da Fama” de Los Angeles.
A atriz encerrou sua carreira no começo da década de 1960. Em 1966, o renomado cineasta Andy Warhol fez o curta metragem “Hedy” sobre a vida da atriz. Nesse mesmo ano Hendy lança sua autobiografia. Em seus últimos anos de vida, ela viveu uma vida reclusa em Orlando, onde morreu em 19 de janeiro do ano 2000, aos 86 anos.
Mas como uma atriz se tornou a mãe da internet sem fio? Vamos lembrar que desde criança ela teve interesse por invenções. A história conta que em 1940, durante uma festa, ela conhece o compositor George Antheil. Eles começaram a tocar músicas juntos no piano, Hedy teve a inspiração nesse momento da tecnologia do sistema de salto de frequência: enquanto o “transmissor” Antheil tocava os primeiros acordes, a “receptora” acompanhava logo em seguida.
A ideia era manter a sincronia mesmo com ambos tocando teclas diferentes. Em 1942 a dupla submeteu seu trabalho de alternância de frequências (“frequence hopping”) ao Departamento de Guerra dos Estados Unidos. Porém, apesar da excelente ideia, não seria possível, na época, colocar em prática por ser difícil de implementar em plena segunda guerra mundial.
Em 1962, quando a patente já havia sido expirada, o aparelho inventado por Lamarr passou a ser usado por tropas militares dos EUA em Cuba. Mesmo assim, a invenção da atriz permaneceu desconhecida até 1997 quando a Electronic Frontier Foundation premiou Hedy Lamarr por sua contribuição.
A tecnologia abriu as portas para as comunicações sem fio, como WiFi, CDMA (Usado na telefonia celular) e Bluetooth. Ela e seu amigo, porém, não ganharam nenhum dinheiro com sua enorme contribuição.
Em 1997 ela e Antheil foram reconhecidos pela criação do sistema de comunicação sem fio com o prêmio EFF Pioneer Award, o Oscar da Invenção nos EUA. No ano seguinte, recebeu o prêmio Viktor Kaplan do governo austríaco por sua contribuição para a ciência. Foi batizado um asteroide com o nome e sobrenome artístico dela em sua homenagem.
Essas mulheres mostram que temos o poder de revolucionar a história, mesmo não recebendo o devido merecimento, por isso que hoje dedico esse espaço a todas vocês, mulheres guerreiras e batalhadoras e principalmente às mulheres que hoje trabalham com tecnologia, conquistando cada vez mais o espaço que sempre foi majoritariamente masculino. Vamos mudar o mundo para melhor.
Um feliz mês da mulher para todas nós!
Lilian Primo é CEO e cofundadora da Mobye Mobilidade Eletrica. Executiva de Tecnologia, VP do Conselho Consultivo do Instituto Êxito Latino Americano de Empreendedorismo e Inovação e VP de TI na ANEFAC e Colunista na Nova Brasil FM.
Acesse aqui e saiba como você e o Startupi podem se tornar parceiros para impulsionar seus esforços de comunicação. Startupi – Jornalismo para quem lidera a inovação.