*Por Luciana Cattony e Susana Zaman
Gerenciar o tempo entre o trabalho, as necessidades familiares e a vida pessoal é desafiador para todas as pessoas, independente do gênero. Para os empreendedores, as dificuldades costumam ser ainda maiores, já que a busca por resultados, networking e funções operacionais se intensificam.
No entanto, para além dessas questões, vivemos um cenário preocupante e os dados comprovam. De acordo com o Painel de Informações do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Emprego, houve uma queda de 32% nos postos formais de trabalho para mulheres em 2023, em comparação ao ano de 2022; e, ao mesmo tempo, segundo a pesquisa Empreendedorismo Feminino, realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a quantidade de mulheres donas de negócios no Brasil chegou a 10,3 milhões, um aumento de 30% de 2021 para 2022.
Quando olhamos para esses números, é interessante refletirmos sobre o que leva as mulheres, quando se tornam mães, a deixarem o mercado de trabalho tradicional para se tornarem donas do próprio negócio. Para trazer ainda mais contexto: o mesmo estudo realizado pelo Sebrae mostrou que 67% das empreendedoras no Brasil têm filhos e mais da metade delas dizem que a maternidade influenciou nessa escolha. A ONU Mulheres levantou que ter mais tempo com a família é uma motivação para 41% das mães.
Sabemos que o empreendedorismo pode ter muitos pontos positivos e aqui não queremos entrar no mérito de ser ‘bom’ ou ‘ruim’. A grande questão que fica é: por qual motivo as mulheres deixam o mercado de trabalho formal quando se tornam mães? Será que é, de fato, apenas uma escolha?
A nossa vivência pessoal, já que começamos a empreender após nos tornarmos mães, e a experiência no mundo corporativo, nos mostra que não. A realidade é que existe uma enorme falta de conhecimento, valorização e acolhimento da parentalidade. E, neste sentido, defendemos que o empreendedorismo seja uma escolha consciente, feita por motivos como ambição e propósito, e não o único caminho de uma mãe que se vê abandonada pelo mercado de trabalho e, assim, sem nenhuma rede de apoio.
Infelizmente, percebemos que ainda existe uma visão limitada, que prevalece em diversas empresas, associando o papel feminino exclusivamente à família e ao lar, reforçando a noção equivocada de que o sucesso profissional compromete a maternidade. Esse discurso não só restringe as oportunidades de crescimento, como também perpetua a ideia de que a liderança é uma qualidade masculina, dificultando o avanço das mulheres em cargos executivos.
Diante de todo esse contexto, fica evidente que a falta de acolhimento no mercado de trabalho tradicional é um dos principais fatores que levam muitas mulheres, especialmente mães, a optarem pelo empreendedorismo. Mais triste é quando isso deixa de ser uma opção, já que muitas são desligadas após o retorno da licença-maternidade e, com isso, empreender se torna uma necessidade urgente.
Não há dúvidas de que, quando empresas oferecem condições para as figuras parentais exercerem o cuidado, como flexibilização de horários, possibilidade de trabalho remoto e a criação de ambientes que promovam a saúde mental e o bem-estar, o resultado final é positivo para todos os lados. Não há nenhuma razão para a parentalidade ser vista como um obstáculo, quando ela é, na verdade, um impulso para a carreira, já que desenvolve habilidades que podem ser levadas para a vida profissional — como escuta ativa, gerenciamento de tempo e planejamento — fazendo de pais e mães profissionais ainda melhores.
Com um olhar positivo para a parentalidade, as empresas contribuem para um futuro mais saudável para a sociedade e para si, pois isso retorna com futuros cidadãos mais conscientes e educados. Além disso, é benéfico para os resultados do negócio, já que aumenta o sentimento de pertencimento — e é comprovado que isso reflete em engajamento e produtividade —, retêm talentos a longo prazo e, consequentemente, favorece a inovação e aumenta a lucratividade.
Basta dessa história de ‘nasce uma mãe, nasce uma culpa’. Temos a certeza de que, na realidade, quando nasce uma mãe, nasce uma líder.
*Luciana Cattony e Susana Zaman são fundadoras da Maternidade nas Empresas
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