* Por Paulo de Alencastro Jr.
Liderar é uma rotina. Um líder – seja executivo, de nação, de instituições e figuras públicas -convive diariamente com suas equipes e é a voz delas. A pandemia de COVID-19, que nos faz conviver à distância desde o anúncio global feito pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em março de 2020, também fez o mundo mudar, assim como as estratégias até então traçadas pelas empresas.
Com o isolamento social nosso mercado, de tecnologia, passou 99% de seus colaboradores, praticamente, para o trabalho remoto. Trabalhadores de todo o Brasil dentro de casa. Sabemos que é um privilégio ter acesso a esse novo formato enquanto muitas pessoas perderam seus empregos ou passam por situações difíceis, mas dentro da nossa realidade também observamos obstáculos, principalmente culturais e comportamentais.
Reuniões e encontros on-line, debates, construções, brainstorms, tudo na frente do computador, celular pessoal invadido pelo corporativo e toda a rotina de uma pessoa se uniu à vida da família, com parentes, pets etc. O papel do líder nunca esteve tão em evidência. Um desafio: como fazer, por tanto tempo, os funcionários se manterem ativos, inspirados, engajados e dentro do mesmo espírito de time?
Sou cofundador de uma startup de tecnologia e o nosso setor, além de tudo já comentado, muda constantemente. Foi durante a pandemia que muitas pessoas se destacaram em suas atividades, principalmente pelo domínio e equilíbrio mental. Não é fácil, estamos a todo o momento recebendo notícias negativas, tristes e com muitas vidas partindo (muitas delas pessoas próximas a nós, de familiares, amigos, colegas do dia a dia).
Liderar à distância é mais necessário, digamos. Não basta ser chefe e apontar situações ou auxiliar tecnicamente. Um líder dá um direcionamento e permite que a pessoa siga, com seu brilho. Um líder atua diretamente estimulando a confiança de seu colaborador – dele para o trabalho e do líder para com ele. E temos que entregar tudo isso de forma mais intensa agora.
É necessário deixar as pessoas seguirem, atuarem na empresa com protagonismo nas escolhas e sustentando-as. A comunicação entre duas pessoas e entre a equipe deve ser transparente e até detalhista, mas sem excessos. Um bom líder confia e conhece seu time, não só suas competências (expostas publicamente nos perfis de LinkedIn e nos currículos), mas em seu caráter e iniciativas.
Um bom líder comanda sua equipe em qualquer cidade ou região do mundo. A pandemia abriu a premissa para o teletrabalho e esta deixou de ser uma tendência, sendo uma realidade para o futuro das empresas. É preciso estimular que as pessoas possam exercer suas atividades profissionais de onde elas se sintam melhor, contando com o compromisso, metas e entregas claras.
Um bom líder não se prende às hierarquias e está aberto às mudanças. Ele sabe ouvir, muito mais do que falar e consegue criar uma compreensão de causa e efeito para seus colaboradores. Recentemente, a empresa que ajudei a fundar contratou mais de 300 colaboradores (estamos em trabalho remoto desde março de 2020), todos para atuar em home office até que a pandemia seja findada no Brasil.
Portanto, não podemos paralisar. É preciso tirar o medo do que vai acontecer e construir a confiança para que as situações aconteçam. Eu e minha equipe conversamos com o time de liderança sobre a importância de cada um neste momento, das vidas atrás de cada tela. E a liderança precisa atuar unida, engajada e motivada para que os funcionários andem no mesmo ritmo.
Não é apenas pedir ou cobrar, o líder é o exemplo. Cada vez mais temos líderes mais jovens e eles não têm a visão ou a experiência de uma pessoa com mais idade, mas, em contrapartida, temos mesclas de gerações e é importante ter esse equilíbrio. Cada uma tem o seu toque especial, o seu ritmo, as suas especialidades e todos juntos devem atuar para o fortalecimento de um só DNA, o da empresa.
Vejo que os mais jovens, por exemplo, têm facilidade em ser mais comunicativos. Eles falam o que pensam com a mesma responsabilidade de pessoas que atuam há muitos anos na função, e ficam mais confortáveis com as mudanças rotineiras ou bruscas. O fato é que todos se complementam: não existe líder sem liderado e times com perfis totalmente iguais.
Seguimos um ritmo de país, com suas regionalidades e especificações, e agora também global. Temos colaboradores na Suíça e na Espanha, por exemplo. Esses ambientes mistos tendem a focar mais no desenvolvimento das pessoas do que do escritório físico. Existe ainda um movimento mundial, que impacta o mercado nacional, impulsionando o teletrabalho no pós-pandemia.
Foi o que apontou o Google, em recente pesquisa ” O futuro do trabalho no Brasil “. O modelo híbrido é o novo padrão, com decisão de 43% dos entrevistados. E mais da metade dos funcionários dessas empresas apoiam o formato: 51% enxergando a mudança com entusiasmo e 47% com confiança.
Portanto, temos a comprovação de que paradigmas e regras podem mudar, a rotina de bilhões de pessoas também, e o mais importante é estar preparado para o que vier. O bom líder não vai estar preocupado com o que não pode fazer, ele sempre estará de olho no que pode auxiliar a transformar e isso vai de situações às pessoas. Esteja atento e tenha certeza de que é ainda mais importante ouvir sua equipe agora à distância. Um bom líder aprende todos os dias.
*Paulo de Alencastro Jr. é cofundador e VP Projetos e Relação com Investidor da unico.