* Por Rodrigo Carneiro
Em 2013 tivemos muitos acontecimentos mundiais. Neste ano, o conclave reuniu os cardeais eleitores da Igreja Católica Apostólica Romana para eleger o então Papa Francisco. Edward Snowden também revelou ao mundo o grande esquema de espionagem praticado por agências americanas contra pessoas do mundo inteiro. Já aqui no Brasil, ficamos conhecidos pelo lema “O Gigante Acordou”, dado às manifestações que ocorreram. O Cristo Redentor em formato de foguete retornando ao solo também estampou a capa do renomado The Economist. De modo geral, aqui não era um ambiente muito favorável para inovação, além de muito desafiador para o empreendedorismo.
Ainda assim, foi exatamente neste ano que o crowdfunding de investimento começou a provocar interesse em alguns empreendedores. Nascem as primeiras plataformas do segmento e, desde então, muitas captações, evoluções e normativas aconteceram. Agora, em 2021, este mercado se destaca como crescente e sólido para os investidores. Por meio do crowdfunding é possível investir em startups em estágios como pré-seed, seed e até mesmo, série A – ambas são rodadas de investimento dentro das startups – todas com as mesmas condições e seguranças que antes, somente grandes investidores institucionais possuíam. Podemos afirmar que estamos caminhando a passos largos para a era da democratização dos investimentos. Dados recentes da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) apontam os números consolidados deste mercado. A partir deles, adiciono um pouco de cor, tempero, informações históricas e pesquisas que reforcem o boom dos crowdfundings de investimentos em startups.
Quem eram as quatro plataformas lá em 2016?
Quando este mercado ainda engatinhava, chegaram então as empresas StartMeUp (atual SMU), Broota (atual Kria),Urbe.Me e Eqseed. Agora, no último relatório da CVM, em 2020, esse segmento totaliza 32 plataformas de crowdfunding de investimentos. Só em relação ao último ano, entre 2019 e 2020, o crescimento do setor foi de 43%, ou seja, quase dobrou.
O que aconteceu com as captações mais antigas?
Temos histórias tristes, alegres e muito trabalho. Algumas startups conseguiram obter sucesso e entregaram o famoso “exit” – o investimento de volta na conta, devidamente multiplicado – aos investidores como, por exemplo, companhias como a Nuveo, a Resale, a Din Din, dentre algumas outras. Mas claro, também temos startups que encerraram a sua atividade como, por exemplo, a Dinneer. Segundo a CVM, os últimos 3 anos, em especial, foram um grande sucesso. Só em 2020 o mercado fechou 70% das ofertas lançadas, em 2019 esse valor representou 74% e em 2018, o maior dos resultados, 82%.
Quais são as maiores ofertas já captadas via crowdfunding?
Em 2018 a cervejaria Leuven conseguiu captar o limite máximo via crowdfunding, totalizando R$5 milhões. O segundo colocado é mais recente, de 2020/2021, as fazendas verticais da Pink Farms, com R$4,8 milhões, batendo o recorde de overfunding, a captação além da meta. Inclusive, ainda segundo o relatório da CVM, em relação ao montante alvo de captação e o montante captado, o crowdfunding de investimento segue com altas taxas de aproximação. No último ano, em 2020, o montante captado foi de R$ 84,4 milhões, sendo que o alvo era de R$ 98,5 milhões.
Qual é o estágio em que as empresas estão quando captam via crowdfunding?
Podemos ver uma evolução crescente do valor médio captado pelas startups. Em comparação aos valores de 2016, podemos afirmar que a empresa estava no estágio de investimento anjo e pré-seed, condizente com os R$347mil médios captados. Já em 2020, podemos ver empresas no estágio seed, com R$1.1 milhão, ou seja, empresas que já existem, possuem funcionários, clientes, receitas e estão buscando crescimento. Há também empresas em série A utilizando o crowdfunding de forma estratégica em conjunto com fundos de venture capital como, por exemplo, a Flapper, que captou R$10 milhões, sendo R$2,5 milhões via crowdfunding e o restante via venture capital.
Qual o maior aporte já realizado em uma captação?
Esta informação não é amplamente divulgada, no entanto, sabe-se que uma captação recebeu um aporte de R$750 mil de uma única pessoa física. Ou seja, 657 vezes o valor médio de aporte dos investidores. Vale lembrar que este investidor na verdade era uma investidora profissional, o que reforça a presença, cada vez maior, das mulheres no mercado de investimentos.
Atualmente as startups são o centro das atenções. Não é atoa que negócios escaláveis, inovadores e tecnológicos captaram US$ 3,5 bilhões (R$ 19 bilhões) com investidores em 2020. Estamos falando de uma alta de 17% sobre 2019, segundo dados do Distrito e análises internas da SMU Educa. Em meio a este cenário, a projeção dos crowdfundings de investimentos é de crescimento contínuo. Prova disso são os dados mais recentes da CVM, que apontam um aumento de 43% no setor e uma movimentação de R$ 84,4 milhões apenas no último ano. Todas essas oportunidades já são uma realidade ao alcance de investidores pessoa física, que passam a ter a oportunidade de estar em contato com empreendedores, diversificar seus investimentos e construir seu próprio portfólio. Entendemos que, como qualquer investimento, os riscos existem, mas ter acesso a empresas inovadoras ainda é o melhor caminho até o futuro.
* Rodrigo Carneiro é CEO da SMU Investimentos e Presidente da Associação Brasileira de Crowdfunding de Investimento no Brasil.