* Por Tiago Brasil Rocha
Os problemas relacionados ao desenvolvimento sustentável são globais e as necessidades são crescentes: vão desde o fogo descontrolado em florestas do Brasil, Califórnia e Austrália, passando pela falta de água em locais com a Índia e a África do Sul, pela economia circular e o plástico se acumulando nos rios e oceanos, até energia poluente, entre outros.
A boa notícia é que muitas das soluções para esses problemas também podem transcender barreiras geográficas e trazer ganhos. Em diversos países do mundo, iniciativas começam a nascer para fomentar negócios verdes. São aceleradoras e fundos de investimentos de diversos tamanhos e perfis que começam a investir na economia real, ou na economia digital conectada com a economia real, e nas necessidades evidentes que têm altíssimo potencial de crescimento. Em artigo publicado pela consultoria Bain & Company em setembro 2020, os autores destacam o título “Sustainability is the next Digital” (Sustentabilidade é o próximo digital).
Nomes bem acostumados com este mundo tecnológico como Bill Gates, Jack Ma, Jeff Bezos, George Soros e Mark Zuckerberg têm iniciativas nessa área e estão investindo no tema. Países como a Dinamarca, um dos mais adiantados na venda dos ativos de petróleo e avançados em desenvolvimento de tecnologias sustentáveis, que acabou de criar um fundo chamado Green Future Fund de 3,3 bilhões de euros para investir globalmente na questão.
Conforme apuração da FIC – “Fundación Para La Investigación Del Clima” – a América Latina se destaca em termos de sustentabilidade ambiental com 23% da área florestal e 31% da água do planeta. Não somente isso, mas as emissões líquidas de Co2 da região, comparadas ao total do planeta, representam 12%.
É louvável que alguns dos principais indicadores da agenda do clima sejam positivos, mas me pergunto: o que explica isso? Será atraso no desenvolvimento? Ou, quem sabe, nós optamos pelo modelo com mais preservação? Independentemente da razão, o fato é que, em função da necessidade de redução do aquecimento global, o tema da transição da economia global para o modelo sustentável é prioridade de muitos governos e empresas ao redor do mundo.
Os dados divulgados pelo do IFC – International Finance Corporation (Green Growth Knowledge) – órgāo que faz parte do Banco Mundial, indicam que globalmente uma das maiores fontes de emissões, as cidades sustentáveis, devem receber US$ 29,4 trilhões em investimentos até 2030. Esses investimentos acontecerão, principalmente, em áreas como construções sustentáveis, reciclagem de lixo, energias renováveis, tratamento de água e transporte público.
Apenas os mercados emergentes devem receber US$ 23 trilhões em investimentos no mesmo período. Algumas projeções, como a declarada pelo CEO do Banco Standard Chartered, Bill Winters, apontam para ordem de US$ 50 trilhões em investimentos na economia global para alcançar a meta de emissão zero, estado chamado de “Net Zero Impact”.
A corrida atrás do impacto zero começou há vários anos em alguns países, e os investimentos na transição aumentaram significativamente. A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) recentemente anunciou um pacote pós-covid, chamado de Green Industrial Revolution, com US$ 312 bilhões em investimento. O Premiê britânico Boris Johnson, por sua vez, anunciou como parte de seu plano de recuperação Build Back Better outros 30 bilhões de libras em investimentos, da mesma forma que as corporações. O mercado investidor, por sua vez, tem procurado mais sobre o tema no campo do setor privado.
Apesar do esforço coletivo, as emissões de títulos verdes acumuladas no mercado até 2020, dados do Sustainable Bonds Insight, mostram apenas US$ 1 trilhāo de dólares emitido; montante ainda incipiente diante da necessidade.
Estão apenas começando?
Do nosso lado, a América Latina além de ter posição de destaque atual, pode assumir papel de exportador de tecnologia e liderar a nova direção. Áreas como preservação sustentável, monetização de créditos de carbono, desenvolvimento de novos biomateriais, biocombustíveis, criação de insumos médicos, alimentos, tratamento de água, lixo, energia limpa, entre outras tecnologias são destaques. É tempo de criar os mecanismos para suportar o desenvolvimento das novas tecnologias necessárias, dedicar esforços e capital paciente ao ecossistema para aproveitar as oportunidades globais que os targets Net Zero trazem às empresas da região.
* Tiago Brasil Rocha é fundador da Build from Scratch, empresa voltada para crescimento de novas tecnologias em estágio scale-up e finanças sustentáveis. É membro suplente do Conselho de Administração da Klabin S/A, e sócio do evento Greentech América Latina junto ao Green Innovation Group (Dinamarca), além de um dos heads do Alumni da Said Business School da Oxford University no Brasil.