Demissões em massa, escassez de capital, diminuição de valuations e mudanças de estratégia marcaram o mercado de startups em 2022. Depois de uma temporada de recordes de investimentos e novos unicórnios (startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão), o ecossistema teve que encarar um ambiente desafiador. Agora, um novo ano se inicia com aprendizados e novas perspectivas.
A seguir, investidores de startups trazem as expectativas para o mercado de inovação em 2023:
Livia Brando, diretora de Venture Capital VOX
Há muito dry powder no mercado – fundos já captados, com capital disponível para aportes em startups em estágio mais inicial (Seed e Early-Stage). Na prática, devemos ver aumento nos aportes nesse estágio de startup, mas de forma geral, na comparação com 2022, os fundos estão mais seletivos e olhando unit economics.
Na frente de captação, o cenário é duplamente desafiador. Além da alta dos juros que por si só atrai recursos para a renda fixa no Brasil e lá fora, questões geopolíticas, econômicas e até ambientais criam um cenário de incerteza.
O Venture Capital é um investimento de risco, e num período de incerteza como o que estamos, alguns investidores entendem que reduzir a exposição a risco significa não investir.
Na realidade, o investidor profissional sabe que precisa participar de diferentes safras para diversificar o seu portfólio de investimentos no tempo, e com as oportunidades de investir a valuations mais moderados, as safras 2022 e 2023 têm bom potencial de apresentarem retornos altos. Portanto, esperamos que os investidores tradicionais de venture capital continuem participando da modalidade.
Em relação aos setores, estamos observando bastante de perto climate techs, agtechs, health techs, inteligência artificial aplicada de forma transversal a diversos setores e serviços financeiros: embedded finance, open banking, plataformas de investimento e cripto, blockchain, novas soluções e modelos de negócios envolvendo meios de pagamento, AI aplicada a finanças pessoais e CX.
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No macro, questões geopolíticas na Ásia podem estimular investidores a realocar o capital em outros países emergentes tais como o Brasil. Há expectativa da vinda de capital estrangeiro, e o mercado nacional e estrangeiro estão atentos aos anúncios relacionados à conduta da política econômica do governo federal.
O ecossistema empreendedor brasileiro pode ser considerado um dos mais atrativos globalmente, pela convergência de inúmeros fatores dentre os quais destacam-se a maturidade atual dos empreendedores e o nível de resiliência típico e necessário para se atuar no Brasil, pela quantidade de oportunidades e ineficiências presentes em diversos setores da economia, tamanho do mercado e grau de digitalização da população. E as pautas sociais e ambientais devem ganhar ainda mais relevância no Brasil, o que pode impulsionar startups alinhadas a essa agenda.
Dan Yamamura, sócio-fundador da Fuse Capital
2023 será um ano conturbado para o mercado de cripto, mas importante para a depuração do ecossistema de cripto. Depois de 2022, deve haver um ajuste de preços, uma cobrança por mais transparência e melhor governança das empresas de cripto, e uma maior demanda por lucros reais em DeFi.
Para além da tecnicidade, é possível fazer uma análise macro para 2023: haverá uma maior adoção de cripto pelo mundo real, especialmente nos produtos financeiros provenientes de DeFi; e cada vez mais pessoas, muitas vezes sem saber, serão impactadas por mecanismos e tecnologias otimizadas por Web3 e cripto.
Em outras palavras, 2023 será o ano do Web 2.5, a transição do mundo real como conhecemos hoje em Web 2 para escalar para esse futuro em Web 3.
Leo Monte, head do Torq e diretor de inovação da Sinqia
2022 foi um momento de maturação em muitos sentidos. Neste próximo ano, vejo espaço para novos modelos e tecnologias emergentes, como blockchain, Open Finance, finanças descentralizadas (DeFi), Web3 e criptomoedas.
O Corporate Venture Capital (CVC) deve se consolidar como modelo de investimento, oferecendo capacidade estratégica além do capital – cada vez mais empresas e startups estão olhando para esse modelo de sinergia.
Márcio Tabatchnik Trigueiro, sócio da Igah Ventures
Em 2022, os empreendedores aprenderam que com quem você faz negócio é tão importante quanto qual é o negócio – e é na hora difícil que você conhece quem está com você. Valuation alto no papel afaga o ego porém pode semear uma gestão não compatível com a alta volatilidade.
Em 2023, várias empresas devem se deparar com necessidades de funding ancoradas em valuations não realistas para o momento. Empreendedores e investidores pragmáticos entenderão que é melhor dar um passo atrás do que arriscar tudo. Será importante controlar a vaidade.
Renato Valente, sócio da Iporanga Ventures
Acreditamos que 2023 vai ser um ano duro, de pouco capital para investimento em tecnologia. Vemos alguns fundos que captaram e estão com dinheiro, mas esse capital se concentra em grandes gestoras, com menos disponibilidade para investir.
Todo mundo está esperando o que vai acontecer com os Estados Unidos, se haverá recessão ou não, e quão forte ela vem, assim como as perspectivas de juros, já que o juro dita os rumos da economia. Assim, deve ser um ano de olhar para dentro de casa, para as empresas avaliarem seus planos e construir.
“Construção” é uma palavra que temos escutado bastante dos empreendedores e investidores, e simboliza esse momento de conseguir fazer mais com menos. É hora de inovar, pensar fora da caixa e ser criativo.
Por outro lado, também é um ótimo ano para investir. Apesar de todo mundo estar um pouco receoso, é a hora que os preços baixam, e limpa um pouco o mercado de aventureiros. Ficam os empreendedores que realmente querem construir algo de muito valor, querem resolver uma dor muito grande, e que vão empreender não importando o cenário.
Do ponto de vista do investidor, isso é muito bom. Geralmente, os anos de contração são os de melhores safras de investimento, e essa é a nossa expectativa. Estamos animados, e inclusive lançamos um fundo recentemente focado em um setor que enxergamos grande potencial, o de serviços financeiros.
A gente vê muita coisa sendo construída em blockchain, e a combinação de serviços financeiros com tecnologia vai permitir que mais pessoas e empresas tenham acesso a melhores produtos financeiros e a transações mais seguras, baratas e rápidas.
O Brasil tem uma agenda interessante do Banco Central, com iniciativas como Pix, Open Finance e Real Digital, além de regulações avançando em prol da inovação. Portanto, vários aspectos nos animam para a próxima geração de empreendedores.
Como o Brasil também influencia bastante a América Latina como um todo, o fundo é voltado para startups de toda a região. Acreditamos que o próximo destaque de tecnologia será blockchain, e eventualmente não vamos mais conseguir diferenciar o que é blockchain ou não.
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