*Por Bruno Henriques e Fabricio Bloisi
Entusiasmo e empolgação não têm faltado quando o assunto é ChatGPT. A inteligência artificial generativa vem sendo apontada como uma concretização da Next Big Thing, a próxima grande novidade no mundo da tecnologia. Em um artigo publicado em seu blog, Bill Gates comparou a atual onda da IA com o advento da interface gráfica para computadores pessoais nos anos 80. O paralelo é bom: diante do potencial da ferramenta, capaz de formular raciocínios complexos, é como se estivéssemos até agora no estágio correspondente a digitar um comando no prompt C:\> do DOS. Se Windows, MacOs e Linux abriram caminho para a revolução dos PCs – e, no limite, ao universo touch dos dispositivos móveis do mundo hiperconectado –, a moderna interface representa um novo patamar no diálogo entre humanos e máquinas, com possibilidades de aplicação que, em parte, ainda pertencem ao mundo da imaginação.
Em parte, vamos frisar, porque falamos de uma realidade já bastante palpável. Embora revolucionário, o ChatGPT e seus similares são o resultado de anos de desenvolvimento no campo de IA, que há um bom tempo vêm moldando a visão de futuro nos negócios. No iFood, sempre fomos apaixonados por dados – uma característica que se traduziu, em 2018, num ambicioso projeto de permear toda a organização com ferramentas de IA. Trata-se de uma profunda transformação digital tanto nos processos internos quanto na relação com parceiros e clientes.
É um projeto de futuro que aos poucos vem se sedimentando no presente. O impacto que a IA trouxe para o iFood nos últimos cinco anos colocou a empresa no ranking das dez companhias mais inovadoras da América Latina. Muito além de iniciativas de grande apelo no imaginário, como o desenvolvimento de drones para fazer entregas em locais onde o acesso é difícil, nossa visão foi direcionada para a criação de redes neurais que analisam a operação logística de 700 cidades em vários turnos, com 250 mil entregadores ativos.
O tempo todo, centenas de modelos incorporados aos nossos processos controlam dezenas de variáveis que garantem a eficiência necessária para gerir com qualidade mais de 400 mil pedidos por hora nos momentos de pico. O número equivale a cerca de 112 pedidos por segundo – uma velocidade que só a aprendizagem de máquina pode abarcar. Isso sem falar na melhora do atendimento. Com a ajuda de IA, é possível dar muito mais atenção aos usuários da plataforma, deixando para os humanos questões realmente difíceis.
Nesse futuro que lapidamos no dia a dia, não perdemos de vista a ideia de que a tecnologia é um facilitador de transformações positivas para a sociedade. Sim, existem desafios pelo caminho, porque o entusiasmo não esconde os temores que as novíssimas tecnologias sempre trouxeram para a sociedade, em qualquer época e lugar. Mais especificamente, falamos da batalha de robôs versus empregos, tema que o ChatGPT atualizou de maneira tão bombástica quanto o fascínio que provocou. A tarefa de delimitar marcos para a revolução que se avizinha é gigante, mas as possibilidades também são exponenciais.
Quando olhamos para a cadeia da alimentação, podemos predizer impactos que teremos em breve e outros considerados nossos moonshots – soluções tão ambiciosas, como o próprio nome diz, quanto uma viagem até a lua. No nosso plano de voo está a mudança radical dos hábitos alimentares da população. É assim que o iFood vê o ChatGPT como um complemento da visão traçada em 2018, que já apontava IA como engrenagem essencial para transformar a vida das pessoas. Não se tratará mais de pedir uma refeição no lugar de prepará-la; significará contar com um assistente virtual capaz de saber o que você precisa comer, quando comer e com o custo mais baixo possível.
Pense nesse assistente sendo capaz de calcular, por exemplo, o tipo de alimentação mais adequada depois de uma manhã em que você correu tantos quilômetros, já dando as opções de melhores preços na área em que estiver. Mais profundamente, ele será capaz de aprender a fazer uma ponderação entre os seus gostos pessoais e conhecimentos de nutrição e qualidade de alimentos para personalizar sua dieta.
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Esse é um caminho que começa a ser trilhado agora, e será acelerado na medida em que as interações com as máquinas evoluam. Nessa jornada, a imaginação – sempre com lastro na realidade – aponta para outras possibilidades. Sua geladeira poderá ser abastecida just in time, digamos assim, de forma que esteja sempre cheia na medida do que você necessita. Integrada a assistentes pessoais como Siri ou Alexa, a IA generativa não se limitará a analisar dados existentes, mas será capaz de fazer recomendações criativas, substituindo produtos em falta ou até pescando uma novidade que valerá a pena experimentar.
No iFood, o sonho é ter um aplicativo para cada um dos nossos 50 milhões de clientes. Queremos proporcionar uma experiência única, 100% personalizada e em larga escala. Será possível melhorar a vida e a alimentação de todos. Seremos capazes de prever melhor as muitas variáveis que podem contar no momento de fazer um pedido. Porque está ficando muito claro que os avanços da tecnologia permitem às máquinas interpretar uma quantidade cada vez maior de informações, vindas de diversas fontes, para formar uma “opinião” certeira sobre determinados temas.
Olhando por esse prisma, se todos os nossos dados entrarem nessa espécie de contabilidade alimentícia (gosto pessoal, orçamento, saúde, dieta, calorias mínimas necessárias etc.), somados à rotina de cada um (calendário, geolocalização etc.) e aos dados de todos os pratos e restaurantes disponíveis nas redondezas, a escolha final certamente será mais fácil. Temos, como se vê, a oportunidade de transformar completamente a maneira como se faz um pedido em nosso aplicativo. Nosso não: ele será cada vez mais de cada cliente.
De maneira análoga, a eficiência será estendida à própria cadeia de valor de alimentação e permitirá reduzir o desperdício e baratear a comida. Segundo dados da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçados por ano, cerca de 30% da produção mundial. Disponibilizar dados em tempo real da demanda para produtores pode ajudar em muito na tomada de decisão de “o que, para quem e quando produzir”. Agrotechs brasileiras, como a Frexco, já esboçam uma realidade em que os dados são otimizados para eliminar intermediários e propiciar alimentos mais frescos e com entrega mais rápida.
Imagine agora uma inteligência artificial generativa em contato direto com os produtores rurais e com os dados de estoque e demanda dos restaurantes. O resultado seria uma mudança drástica no ecossistema de suprimentos, produzindo na medida da necessidade. O mesmo vale para os restaurantes. A IA pode ajudá-los a comprar pelo menor preço, sugerindo como otimizar a cadeia de compras. Esse é o nosso sonho e é nele que estamos trabalhando agora.
Acreditamos firmemente que será possível reduzir o custo da comida e com isso beneficiar ainda mais brasileiros em nosso serviço. Tudo com mais qualidade e sem desperdício. Uma revolução que, enfim, não parece tão distante. Estamos convictos de que nosso principal propósito, Alimentar o futuro do mundo, poderá ser alcançado. Com a ajuda de IA esse caminho ficará muito mais curto.
Bruno Henriques é Vice-Presidente de Crescimento do iFood. Formado em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), foi fundador e CEO da Kanui. Posteriormente foi VP de empresas como Dafiti e Movile, assumindo sua posição no iFood em 2019. Ao longo de sua carreira, Bruno ainda obteve formações pela Stanford University Graduate School of Business (Executive Program for Growing Companies) e em Green Belt – Six Sigma pela UNICAMP.
Fabricio Bloisi é Presidente do iFood. Fabrício é Fundador da Movile, grupo líder em mobile commerce na América Latina. Bloisi é formado em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e tem MBA pela Fundação Getúlio Vargas (FGV/EAESP) com foco em startups de alto crescimento. Também concluiu o Programa Executivo em Liderança na Stanford Graduate School of Business (EUA), faz parte do Programa OPM (Owners / President Management) da Harvard Business School (EUA), além de ter ingressado esse ano para o Conselho de Inovação do XPRIZE, uma organização sem fins lucrativos com sede na Califórnia que busca atrair grandes ideias para impulsionar P&D de ponta.
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