*Por Wellington Targino Borel
Nos últimos anos, muitas corporações avançaram em programas de Inovação Aberta — conectando startups, universidades e parceiros externos — e, simultaneamente, criaram estruturas de Corporate Venture (CVC, Venture Builders), voltadas a investimento, criação e desenvolvimento de negócios. Porém, ainda é comum que esses dois polos caminhem à parte, limitando o impacto real.
A Inovação Aberta permite acelerar o desenvolvimento, acessar conhecimento externo, compartilhar riscos e ampliar a base de inovação além das fronteiras da empresa. É o que Henry Chesbrough definiu como um fluxo de conhecimento gerenciado de forma intencional entre empresa e mercado, acelerando resultados e reduzindo o tempo de entrega.
Já o Corporate Venture Capital (CVC) busca não apenas retorno financeiro, mas também sinergias estratégicas — como acesso a novas tecnologias, novos mercados e fortalecimento do core — estruturando-se com governança dedicada. Além disso, muitas empresas não realizam o investimento diretamente: optam por alocar parte do capital em fundos de terceiros, co-investindo para acessar oportunidades mais amplas sem assumir todo o risco operacional e regulatório.
Esse movimento é comum no Brasil e no mundo, especialmente para corporações que desejam acelerar sua tese de inovação antes de criar um time interno robusto. Um exemplo relevante é o da SulAmérica (2021), que participou como investidora institucional do fundo Agir Ventures Health, declarando publicamente que o aporte tinha como objetivo fomentar o ecossistema de healthtechs e acelerar soluções alinhadas ao seu posicionamento estratégico.
Da mesma forma, o Corporate Venture Building (CVB) surge como outra estratégia relevante dentro do portfólio de inovação corporativa. Enquanto o CVC se conecta ao ecossistema para investir em soluções já existentes, o CVB adota uma lógica distinta: criar negócios a partir de oportunidades identificadas no core e nas lacunas de mercado. No contexto da Algar, por exemplo, o CVB tem se destacado como um instrumento estruturado para transformar desafios estratégicos, combinando validação de mercado, recursos internos e velocidade de execução com as startups do portfólio.
Assim como o CVC, o CVB não substitui as demais frentes de inovação — ele as complementa, ampliando a capacidade da empresa de gerar valor, diversificar riscos e construir novas avenidas de crescimento. Diante desse contexto, alguns pontos de atenção são importantes:
- Estratégias que precisam se entrelaçar: muito se debate sobre conectar startups ou investir nelas, mas um dos principais desafios dos diversos modelos de relacionamento com startups é ver funcionando de forma integrada a fim de gerar valor para todos os atores envolvidos;
- Governança: ponto-chave da integração: sem governança bem definida — com critérios, papéis e fluxo operacional claros —, iniciativas paralelas se fragmentam. Integrar inovação aberta e corporate venture exige um modelo robusto de governança, seja por meio de um CVC, Venture Builder ou estruturas híbridas de inovação;
- Métricas de impacto: menos vaidade, mais resultado real: pilotos e conexões com startups são importantes, mas insuficientes por si sós. A integração possibilita algo mais valioso: geração de ativos estratégicos, receita e negócios com impacto real no core da empresa. A performance passa do “quantos pilotos” para “quanto geramos em valor”;
- Cultura ambidestra: experimentação e disciplina: a Inovação Aberta traz a cultura da experimentação rápida, ágil e tolerante ao erro. Já o Corporate Venture exige disciplina, métricas claras, accountability e sustentação financeira. Integrá-los equilibra liberdade criativa e captação de valor estruturado;
- A escada da maturidade: fluxo único de valor: empresas maduras devem orquestrar um caminho claro: conexões → pilotos → contratos → investimento/equity → spin-offs, com governança alinhada a esse fluxo. Sem isso, cada etapa vira silo, e o caminho se perde. Nesse sentido, pesquisas mostram que multinacionais com CVB ou aceleração interna estruturam melhor esse fluxo;
- O CVC como catalisador estratégico: no Brasil, já existem mais de 80 fundos de Corporate Venture ativos — 75% deles criados nos últimos quatro anos —, destacando o crescimento da adoção desse modelo corporativo. Um CVC bem estruturado, com governança clara e missão dupla (estratégica e financeira), potencializa a inovação aberta e dá musculatura ao venture builder interno;
- O futuro da inovação corporativa é híbrido: a inovação corporativa de sucesso será aquela que opera como ecossistema híbrido: conectando atores externos (startups, universidades e etc), criando negócios internamente ou externamente (CVB) e investindo com propósito estratégico e sustentabilidade.
Empresas que buscam gerar ativos significativos, estruturar governança robusta e lançar um modelo integrado de Inovação Aberta e Corporate Venture deveriam trilhar esse caminho. Essa é a estratégia que entrega impacto escalável, cultura ágil e resultados financeiros concretos — para as companhias, suas startups e todo o ecossistema. A integração marca um passo decisivo para transformar inovação em resultado. Cada frente mantém sua identidade, mas passa a atuar de forma complementar.
Mais do que unir áreas, essa mudança representa a construção de um ciclo virtuoso. O resultado é uma estratégia mais coesa, sustentável e preparada para posicionar sua empresa como referência em inovação corporativa no Brasil.
*Wellington Targino Borel é CEO Algar Venture Builder e Head de Inovação para o Mercado do Brain.
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