* Por Rodolfo Pinotti
Ao mesmo tempo que o ano de 2022 foi marcado pela baixa dos investimentos de Venture Capital no Brasil, o que afetou muito o setor de inovação e tecnologia, percebemos que movimentações de fusões e aquisições estão em evidência no segmento. Conforme a PwC Brasil, essas operações bateram recorde no Brasil no primeiro semestre do ano, com 807 transações, lideradas pelo setor de tecnologia. Em 2021, foram contabilizadas 706 fusões e aquisições no mesmo período.
Fusões e Aquisições entre startups são uma opção para o setor de inovação e tecnologia
Hoje crescem no Brasil os investimentos de grandes empresas que contratam ou compram startups para ampliarem a inovação, bem como os M&As entre startups, que também estão no foco do setor. Essas negociações podem crescer cada vez mais, sendo uma opção para o setor de inovação e tecnologia, em um cenário no qual a captação de venture capital vem caindo e não deve voltar ao nível que vimos em 2020 e 2021 em um curto espaço de tempo.
É preciso que as startups, além de estarem com “a casa organizada” para receberem possíveis compradores, tomem cuidado para não se precipitar ao entrar num processo de M&A e, principalmente, ter clareza sobre o negócio e o que é melhor para seu crescimento.
Muitas empresas fizeram caixa ou captaram rodadas grandes de investimentos. Porém, esse dinheiro vem com uma promessa de crescimento para os acionistas dessas empresas e, na aquisição, ele pode ocorrer de uma forma mais rápida. Então, cria-se uma pressão para comprar.
Por outro lado, quem não conseguiu capital e precisa captar agora, está num momento difícil, porque o mercado de venture capital está num momento menos aquecido e o endividamento está mais caro. Diante da falta de liquidez para financiar a sua trilha de crescimento, as alternativas do founder acabam sendo foco absoluto em performance e rentabilidade, quando possível, ou ir para a mesa de negociação do M&A.
Esses gestores que estão com a empresa muito alavancada, que têm uma situação financeira desafiadora, podem ver o M&A como uma rota de fuga do business. Esse é o momento em que ele pode agir muito mais por medo ou cansaço do que por avaliar o que é melhor para a empresa.
O próprio desafio e pressão psicológica de não saber como esse cenário vai levar esse empreendedor que está motivado a vender a ficar com receio, e isso pode fazer com que ele se iluda com uma possibilidade que não existe ou aceite um valor menor do que receberia há dois anos.
O primeiro passo é avaliar se o M&A é mesmo a melhor estratégia, pois é preciso ter uma clareza de onde a empresa quer chegar. Partindo do princípio de que realmente seja essa a melhor alternativa, os founders precisam analisar se essas conversas estão sendo conduzidas com um real interesse de aquisição ou como um caminho de investigação e conhecimento por parte do comprador, que pode ser um entendimento natural do processo de M&A: o player pode estar querendo aprender com o processo, mas sem ter o real interesse de comprar.
De forma prática, é preciso também tomar cuidado com o tempo. Esses processos costumam demandar muito do time interno, dos fundadores, e isso tira bastante o foco da empresa. Esse é o principal desafio, fora outros mais subjetivos, como a expectativa criada pelas pessoas.
O fato de não haver uma fusão/aquisição pode desestimular os profissionais, além de questões relacionadas ao valuation — geralmente o valuation das operações são mais baixos que aqueles praticados nas rodadas dos últimos dois anos, então isso pode ser um ponto sensível.
Numa proposta de fusão ou aquisição avalia-se qual o retorno no curto prazo, o que será proposto de pagamento e quanto isso vai gerar de recursos, em comparação com as alternativas de venda no futuro. Isso, em conjunto com as perspectivas de quem compra – o comprador pode alavancar o negócio, e, para os fundadores e até para os investidores essas perspectivas se ampliam, então é vantajoso para todos.
Se, diante desse cenário, fica evidente que a empresa tem mais rotas de sucesso do que seguir com capital próprio e com controle total, deve-se estudar o M&A. Agora se todo o resto é muito vantajoso para a empresa, se ela tem uma proposta única de valor, se as métricas e tudo que o founder tinha traçado inicialmente vem acontecendo, pode ser mais interessante continuar sozinho, seguir captando dinheiro no mercado e, futuramente, fazer o IPO ou qualquer movimento de liquidez que seja adequado para o momento.
* Rodolfo Pinotti é cofundador da Triven e fundador da Kapture.