* Por Ornella Nitardi
A inovação é uma necessidade para empresas que desejam se manter relevantes e prosperar. Não se trata mais de um lugar comum, mas sim de uma realidade inegociável. Crescimento, redução de custos, aumento de produtividade, alinhamento com as tendências e tecnologias e a melhor relação com clientes estão entre os ganhos importantes. Mas, nesta conversa, gostaria de explorar o modelo descentralizado para inovação, um caminho para a escala e bons resultados em grandes corporações.
Sobretudo num cenário em constante mudança, estar prontos para o futuro é chave e isso tem que ser parte do mindset das organizações – e para isso o modelo descentralizado apresenta muitas vantagens. Esta exploração foi feita em conversas com colegas de grandes corporações e na discussão surgiram alguns pontos interessantes que gostaria de dividir aqui.
Para avançar em inovação, tradicionalmente, existia a criação de uma equipe com gestão que se reporta diretamente à uma liderança específica que presta contas para um comitê. Esse é um modelo centralizado, em que as decisões e iniciativas partem de um núcleo. Na descentralização, há a transferência das funções de planejamento e tomada de decisão da organização para longe de uma posição central. Ao aplicar esta ideia, o processo se abre a todas as áreas da companhia e as envolve nas várias etapas da sua estratégia, incluindo stakeholders externos e clientes na jornada.
E por que muitas organizações estão apostando ao modelo descentralizado? Identificamos algumas vantagens importantes, como a capacidade de aproveitar o conhecimento e a criatividade de toda a empresa, a redução de custos e o aumento da agilidade – e de crescimento – já referenciadas por consultorias. Segundo a McKinsey, por exemplo, empresas que adotaram a inovação descentralizada tiveram um aumento de 5% a 10% na receita. Em seu relatório “State of Innovation”, a PwC indica um aumento de 18% em seu desempenho financeiro com o modelo. E um estudo da Deloitte revelou que empresas que adotaram o formato relataram uma maior satisfação dos funcionários e uma cultura mais inovadora.
Para além desses benefícios, eu adicionaria também, com base em nossa experiência na BASF, um potencial de maior satisfação do cliente, que passa a ter acesso a inovação colaborativa bem próxima da sua realidade.
Claro que identificamos desafios – e são importantes, mas podem ser manejados. Primeiro é essencial que a inovação esteja alinhada com a estratégia geral da empresa. Além disso, há a necessidade de uma coordenação entre as equipes, com uma comunicação eficaz para evitar ineficiência, como duplicidades de iniciativas. A governança é outro ponto de atenção, pois é suscetível a inconsistências. Por fim, pode haver o surgimento de múltiplas culturas, o que exige atenção da liderança e, novamente da comunicação.
A nossa experiência mostra que a descentralização é um modelo interessante para o perfil da companhia: estamos falando de uma indústria química alemã, de atuação global, centenária, com forte foco em P&D, atuando em diversos setores industriais e exigindo um leque enorme de visões. Temos várias frentes de inovação aberta para relacionamento com startups, equipes dedicadas por setores do mercado, venture capital, transformação digital e o Centro de Experiências Científicas e Digitais, nosso hub onono, não para concentrar, mas sim para ajudar a distribuir e fazer a conexão com ecossistema para trazer soluções para a empresa e seus clientes e promover uma transformação cultural consistente.
A pergunta do milhão que segue é: se todos somos agentes de inovação, qual é o papel das áreas de inovação? Entendendo essa evolução, as áreas de inovação conseguem fazer essas conexões e focar em novos horizontes de geração de valor.
Assim, a inovação descentralizada nos parece ser o caminho para transformar grandes empresas em ecossistemas de criatividade e agilidade para poder resolver os grandes desafios. Quanto mais distribuída a capacidade de inovar, mais pronta para o futuro estará a organização. Desafie o status quo, promova a colaboração e dê espaço para que as ideias floresçam em todos os níveis da organização. Acreditemos no poder da descentralização e ousemos ser agentes de grandes mudanças.
* Ornella Nitardi é head de Inovação Aberta e Ecossistemas Digitais na BASF
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