* Por Vanessa Vilarino
Nas rodas de conversa com gestores, nos grupos de WhatsApp, nas reuniões de Feedback e nas mentorias constantemente ouço uma manifestação de vontade de pessoas diversas sobre fazer algo novo, traçar um caminho que faça mais sentido e que esteja alinhado com o futuro da sociedade.
Curioso é que essa conversa vai para um lado psicológico e às vezes antropológico sobre comportamento, desenvolvimento pessoal, motivação e propósito. Saio das conversas achando que meu interlocutor me olha pensando: “vim aqui para ter dicas e estou tendo um papo de autoajuda”. Será?
Dentre muitos pensamentos, divido um simples: Você já parou para pensar na profundidade das transformações do mercado de trabalho e do mundo nos últimos 15 anos? E nos últimos 5? Os ciclos têm se tornado cada vez mais curtos e com muitas mudanças inusitadas em nosso cotidiano.
Nossos pais e avós tiveram uma carreira tradicional, estável, ocasionalmente trabalhando na mesma instituição ou até na mesma função a vida toda, com poucas mudanças significativas.
De um tempo pra cá, a sociedade com toda sua evolução, impulsionada pela Internet, digitalização de produtos, serviços, formas de compras, capacidade de processamento de informações, difusão de tecnologias e automações, vem enfrentando grandes transposições de paradigmas, o que têm impactado nossa forma de viver e trabalhar.
Isso nos leva não apenas a presenciar, mas a experimentar e sobretudo construir esses ciclos de transformação pessoal e profissional. Nos traz questionamentos profundos. Incertezas podem nos levar a fazer movimentos. Como mudar de carreira, de cidade e principalmente a querer ser mais protagonista das nossas escolhas, da nossa carreira e responsabilidades.
Historicamente, a partir do desenvolvimento da sociedade, novas necessidades e consequentemente profissões são criadas enquanto outras desaparecem. Atentos a essa transformação, muitas pesquisas, estudos e conversas são desenvolvidas para entender esse movimento e traçar novos panoramas.
Em 2020, o Fórum Econômico Mundial, entregou o relatório The Future of Jobs, elencando o que seriam as 15 principais habilidades do futuro até 2025 que foi amplamente divulgado no mundo, sendo elas:
1- Pensamento analítico e inovação
2 – Aprendizagem ativa e estratégias de aprendizado
3 – Resolução de problemas
4 – Pensamento crítico
5 – Criatividade
6 – Liderança
7 – Uso, monitoramento e controle de tecnologias
8 – Programação
9 – Resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade
10 – Raciocínio lógico
11 – Inteligência emocional
12 – Experiência do usuário
13 – Ser orientado a servir o cliente (foco no cliente)
14 – Análise e avaliação de sistemas
15 – Persuasão e negociação
Toda vez que releio essa listagem, reforça o fato de que não há como negar que as habilidades sociais (soft skills), ganham espaço e são cada vez mais valorizadas quando o assunto são habilidades que precisamos aprimorar. Daí vem aquele papo lá de cima sobre desenvolvimento pessoal, motivação e propósito.
Percebam que esse movimento decorre da evolução tecnológica. Das novas profissões e atitudes que já estão aparecendo e das dezenas de outras que estão sendo extintas. Atentem-se que essas habilidades fortalecem a constatação de que há algo que não pode ser substituído: as competências humanas (human skills).
Destaco que, não necessariamente, você precisa desenvolver todas essas habilidades. Nós todos somos dotados de habilidades naturais ou adquiridas ao longo da vida, por isso se auto-avalie, e descubra quais são as soft skills que você já possui, e que você precisa lapidar.
Ou seja, dê preferência a aprimorar essas, antes de buscar novas. E quando for para as novas, tenha foco. Saiba priorizar o que é importante pra você. Entenda sua área de atuação para buscar o que faz sentido no seu desenvolvimento.
De maneira geral, compartilho quatro dicas que devem nortear qualquer início ou escolha:
1 – Seja flexível e resiliente. Ter uma adaptação ágil, menos rígida e negacionista facilita muito as novas possibilidades e oportunidades. Lidar com as adversidades, adaptando-se às mudanças, pode facilitar a auto-realização e te preparar para ocupar novas necessidades e atuações.
2 – Pratique a escuta ativa e observe. Faça com certa frequência o exercício de observar as atitudes de pessoas ao seu redor, principalmente aqueles que você admira, note como eles resolvem conflitos, como se portam com um cliente difícil, como agem com os colegas de time.
3 – Seja curioso e fique atento às transformações e fatos no mundo sem julgamentos pessoais. Isso ajuda na construção do pensamento analítico e do senso crítico e pode te levar a resolver coisas rotineiras de maneira diferente. É um belo estímulo à criatividade.
4 – Se conheça. Entendendo suas emoções e suas motivações em momentos intensos você poderá tomar as melhores decisões diante de cada caso, fazendo com que você se destaque dos demais profissionais e provavelmente aumentará a sua empregabilidade.
O assunto é intenso e profundo. Há muito o que ser falado. Mas nesse breve texto, a mensagem que quero deixar é para sermos Protagonistas das nossas vidas e com isso estimularmos cada vez mais as nossas competências humanas. Que possamos transmiti-las de forma inspiradora de modo a contribuirmos com o movimento de transformação que está à nossa frente e que temos a oportunidade de cocriar. Isso vale para qualquer profissão. Qualquer natureza. Sendo papo de autoajuda filosófico ou de conhecimento humano.
Vanessa Vilarino Louzada é Graduada em Direito e Psicologia, pós-graduada em Processo Civil, mestrado em Direitos Difusos pela PUC/SP, autora de artigos e livros jurídicos, CEO na Deep Legal, startup membro do Cubo Itaú, palestrante e estrategista em criação de produtos.