* Por Karla Censi
É preciso ter muita determinação e coragem para transformar uma ideia inovadora em uma solução para um problema real de mercado. Persistir, mesmo que com estrutura reduzida e em meio a crises, é o que determina a sobrevivência de qualquer empresa. Neste ambiente para lá de desafiador surgem as startups, cheias de propósito, conectadas às diferentes demandas de consumo atuais e com um apurado senso de oportunidades, de “sair da caixa” e trazer novos ares até aos setores mais tradicionais da economia, como o financeiro e a indústria.
De acordo com a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), o país já passa da marca de mais de 12 mil startups (2019), um dado que cresceu 20 vezes em menos de 10 anos. Em 2020, foram elas que atraíram cerca de US$ 3 bilhões em investimentos, segundo o levantamento “Inside Venture Capital Brasil”, produzido pela empresa de inovação aberta Distrito. São quase R$ 17 bilhões, levando em consideração um câmbio de R$ 5,61 (abril/2020), em pleno ano de pandemia de covid-19! Esse dado reforça a presença que esse modelo de negócio vem conquistando no país.
Para ter uma ideia do fortalecimento deste tipo de empreendimento, especialistas apontam que ainda este ano o número de unicórnios – termo utilizado para aquelas empresas avaliadas em pelo menos US$ 1 bilhão – nacionais deve saltar de 12 para 20.
Atentas a esse boom, grandes companhias entenderam a importância de incentivar esse ecossistema e passaram a formatar seus próprios programas de aceleração de startups, uma forma de apoio ao empreendedorismo e também de trazer parcerias que gerem inovação “dentro de casa”. É um movimento que, de fato, vem gerando resultados positivos e viabilizando a realização de projetos disruptivos que, sem o devido espaço para estruturação de modelo de negócios, poderiam permanecer somente no campo das ideias.
Do lado de quem quer fazer seu plano acontecer, é preciso ter atenção às linhas miúdas de cada oportunidade de inscrição que aparece. Algumas perguntas devem ser feitas – para dentro e para fora – antes de apostar em um programa de aceleração, são elas: “Terei as rédeas das tomadas de decisão e estabelecimento de parcerias?”; “O objetivo de impacto socioambiental da minha empresa está alinhado aos objetivos do programa e da companhia que o proporciona?”; “Esse programa me traz oportunidades de networking de valor e parcerias para novos negócios?”, ou ainda, “Estou pronto para entrar em um programa de aceleração e, possivelmente, ter que rever o meu modelo de negócio?”.
Como responsável por um programa totalmente equity free voltado a iniciativas de impacto socioambiental positivo, utilizando a química e o plástico, vejo o quanto as respostas a essas perguntas são importantes ao optar por um programa de aceleração.
Deste lado, procuramos pensar o que é realmente essencial para que todas startups participantes de cada edição obtenham êxito futuro: contato com especialistas-mentores de diferentes áreas de atuação, e até mesmo de outras empresas parceiras; fazer parte de uma iniciativa com critérios altos e sérios de seleção, com olhar atento à diversidade, por exemplo e, principalmente, dispor de um time engajado em trocar experiências e dividir conhecimento de forma solidária.
No fim das contas, o propósito é o que move o universo das startups e as companhias que apresentarão as melhores possibilidades de crescimento ao ecossistema empreendedor. É o elo que aproxima todas as pontas para estabelecimento de novas conexões de valor gerando inovação que faça diferença à sociedade.
* Karla Censi é gerente de soluções sustentáveis na Braskem e responsável pelo programa de aceleração Braskem Labs.