*Por Douglas Barrochelo
Em um cenário de constante transformação digital, a busca por novas fontes de receita e otimização de processos são imperativos para a sobrevivência e o crescimento das empresas. Nesse contexto, a fintechzação surge como uma estratégia poderosa, capaz de abrir flancos de remuneração nunca explorados e impulsionar a inovação.
O Correios, uma das maiores empresas estatais do Brasil, começa a dar passos importantes nessa direção. Com a queda da demanda por serviços postais tradicionais, a empresa busca diversificar seus negócios e garantir sua sustentabilidade financeira. A criação de um marketplace próprio e a oferta de meios de pagamento devem representar o início de um plano ambicioso que visa transformar a estatal em um banco digital completo.
A capilaridade dos Correios, com suas mais de 12 mil agências espalhadas por todos os 5.570 municípios do Brasil, representa um ativo estratégico para a expansão de seus serviços financeiros. Ao transformar suas agências em pequenos pontos de atendimento bancário, os Correios podem ampliar significativamente o acesso da população a serviços financeiros, especialmente em regiões mais remotas e desatendidas pelos bancos tradicionais.
A inspiração vem do sucesso de outras instituições de logística ao redor do mundo, como o La Poste na França. O banco postal francês, que iniciou suas atividades em 1881, se tornou um dos maiores bancos do país, oferecendo uma gama completa de serviços financeiros, desde contas correntes e poupança até seguros e investimentos. O La Banque Postale, como é conhecido, soube aproveitar a capilaridade da rede de agências para alcançar uma vasta base de clientes, especialmente em áreas rurais e com menor acesso a serviços bancários tradicionais.
Fintechzação pode ser alternativa para impulsionar consumo
Seguindo essa tendência, o Correios deverá buscar parcerias com fintechs e outras instituições financeiras para oferecer serviços bancários completos, como contas digitais, cartões de crédito, empréstimos e seguros. Essa oferta permite que a estatal tenha acesso a uma nova fonte de receita, proveniente de tarifas e juros sobre operações, além de facilitar a gestão financeira da empresa, com a centralização de pagamentos e recebimentos em um único lugar.
A oferta de uma conta digital, com a possibilidade de realizar transferências, pagamentos e recargas, seria outro passo importante para ampliar o acesso da população a serviços financeiros essenciais. E para completar, soluções de crédito, como empréstimos e financiamentos, podem impulsionar o consumo e contribuir para o desenvolvimento econômico do país.
Outro ponto crucial é a fidelização de clientes. Ao oferecer serviços bancários, as empresas podem criar um ecossistema completo de soluções, aumentando o engajamento e a retenção de seus consumidores. O modelo de negócio dos Correios pode ser replicado por outras instituições, e não apenas por grandes players. Pequenas e médias empresas de diversos setores podem se beneficiar da chamada fintechzação, seja por meio de parcerias com instituições financeiras ou da criação de suas próprias soluções.
Mas para que a fintechzação dos Correios se torne uma realidade palpável, é crucial implementar soluções práticas e relevantes para o dia a dia dos brasileiros. Isso significa ir além da teoria e oferecer serviços financeiros que façam a diferença na vida das pessoas. Por exemplo, os Correios poderiam facilitar o pagamento de salários e benefícios aos seus funcionários, agilizando processos internos e reduzindo custos. Além disso, as agências poderiam se tornar pontos de recebimento de pagamentos, oferecendo mais comodidade e segurança aos clientes.
A oferta de serviços financeiros não é apenas uma tendência, é uma necessidade. Em um mundo cada vez mais digital, as empresas que não se adaptarem correm o risco de ficar para trás. A fintechzação é uma oportunidade de crescimento e inovação, que pode transformar a forma como as empresas fazem negócios e impulsionar a economia do país.
Os Correios estão mostrando o caminho, mas a jornada da bancarização é de todos. É hora de as empresas brasileiras explorarem esse novo horizonte e construírem um futuro mais próspero e sustentável.
*Douglas Barrochelo é CEO da Biz, uma techfin e IP focada em inspirar empresas a inovarem e criarem bancos digitais dentro de seus próprios ecossistemas de negócios.
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