* Júnia Leite da Silva
Ao ouvir falar a palavra “Inovação” o que vem à sua mente logo de cara? Ninguém se surpreenderia se sua resposta for STARTUP. Já a palavra “Finanças” é um gatilho mental interessante de sentimentos e memórias bastante distintos tanto no âmbito pessoal quanto no empresarial. Ao falarmos das FinCorps, sejam estas corporações do ramo financeiro ou o departamentos de finanças corporativas, comumente as associamos à burocracia, morosidade e aversão a riscos, ou seja, o oposto do que vislumbramos em uma startup, não é mesmo? Entretanto, no ecossistema de inovação notamos com facilidade que as fintechs ocupam uma posição de destaque. Mediante a este cenário paradoxal, pergunto: Afinal, será que as áreas de finanças corporativas podem aprender com as fintechs?
Após anos trabalhando com Supply Chain Management entendi o papel importante que a área de finanças desempenha em assegurar a sustentabilidade financeira de uma empresa a fim de permitir que grandes ideias se transformem em produtos e serviços que agreguem valor e gerem um impacto positivo. Compreendendo sob a perspectiva de uma outsider o desafio desta área, decidi fazer uma transição de carreira para Finanças e, assim, aprender e contribuir em como tornar este propósito que soa idealista em algo concreto.
Assim, em 2019, através do programa “Schneider Eletric Leaders for the Future”, ingressei no mundo das finanças corporativas e, ao mesmo tempo em que estava aprendendo sobre essa nova área, fui introduzida ao ecossistema de inovação como focal point no Cubo Itaú, que tem a Schneider Eletric como uma das mantenedoras, e como fundadora do squad de inovação. E foi por meio desta experiência e do convívio com outras companhias e membros da comunidade de inovação que pude compreender os vieses nem sempre ocultos e os vícios relacionais que comprometem a efetividade dos resultados tanto internos quanto os advindos do Open Innovation. Essa é uma jornada que todos no ecossistema estão aprendendo e iterando cada qual em seu ritmo para encontrar seus próprios caminhos na viabilização de relações mais saudáveis e frutíferas de inovação.
Por isso os insights que me norteiam na resposta à pergunta central deste artigo se originam e se resumem em um entendimento básico sobre startups: de que sua sobrevivência depende da sua capacidade de entender e solucionar os problemas de seus clientes.
As corporates ao realizarem a distinção das áreas de negócio e de suporte, tornaram as áreas como a de finanças, míopes em relação ao reconhecimento de seus clientes internos ou externos, que se distanciam ao seguir seu modus operandi e por consequência dificultando sua compreensão acerca das dores e necessidades de seus clientes. Esse princípio gera uma dismorfia entre como as finanças se enxergam e como nossos clientes, em especial os internos, enxergam a área de finanças e assim originando várias insatisfações e conflitos aos quais ambos os lados saem perdendo.
É essa distância com os clientes que também provoca o rótulo de que o departamento é burocrático e moroso, características estas que contrapõem o que admiramos nas fintechs, ou seja, a agilidade em se adaptar. Por isso notamos a crescente oferta de treinamentos de metodologias ágeis como o Design Thinking e o Scrum, que embora sejam as ferramentas certas, em um ambiente que não seja favorável ou sem ter os insumos suficientes, não serão capazes de gerar os resultados desejados por si só. Afinal, se você tem uma chave de fenda, mas está no escuro ou não tem o parafuso, oferecer a ferramenta será em vão. Por isso é importante se trabalhar com a evolução da cultura e o change management organizacional.
Isso não significa que as Fincorps estejam estagnadas, ao contrário, podem até se esforçar (e muito) por meio de estruturas que promovam a melhoria contínua, não apenas de processos como também avançando em seu roadmap tecnológico com a contratação de soluções até de startups. O que significa é que a percepção de valor por este esforço pode estar descalibrada, ao dedicarmos recursos em projetos com menor valor agregado sob a perspectiva do nosso cliente e que podem até gerar efeitos colaterais na cadeia de valor. Ou seja, ao negligenciarmos o entendimento das dores, podemos estar nos enviesando com a escolha de um remédio que pode vir a ser um placebo ou um veneno.
Estamos na era da transformação digital e observo muitas empresas obcecadas em se digitalizar que perdem a oportunidade de se reinventar ao simplesmente transformar o que já existia em sua versão mais digital através da implantação desenfreada de ferramentas tecnológicas equivocadas que restringem seu impacto positivo. O antídoto está na real compreensão de que o tech em fintech significa que a tecnologia é o meio não a razão. Portanto, antes de realizar um RPA, criar uma dashboard ou contratar uma nova ferramenta high-tech, resgate a essência de existir de uma startup que está no entendimento das dores e necessidades dos clientes e questione como o digital (ou o analógico) poderá contribuir na geração de valor.
Este é um momento vibrante para área de finanças e o desafio que norteou minha transição se tornou ainda mais relevante neste cenário em que vejo a nítida oportunidade de que as fincoorps incorporem o mindset das fintechs e possam continuar cumprindo seu papel de promover a eficiência, porém sem se restringir a tradicional abordagem de redução de custos, mas sim na vanguarda com projetos e iniciativas que promovam a geração de topline da empresa.
Mais do que teoria, essa conclusão é resultado da vivência que tive ao implantar projetos inovadores e observar seus impactos positivos. Seja em finanças ou nos negócios, estes são os valores da Schneider Eletric vividos na prática, estes são os valores da inovação sendo vivenciados em sua plenitude, iterando e melhorando sempre!
E você, o que acha que as grandes corporações podem e devem aprender com as startups? Quais foram as lições que têm aprendido ao se aproximarem do ecossistema de inovação?
Júnia Leite da Silva é Services & Project Management Leader na área de Finanças da Schneider Eletric, mantenedora do Cubo Itaú, na qual lidera projetos e iniciativas transversais de Transformação Digital, abrangendo inclusive áreas de Marketing, RH e Vendas.