* Por Eduardo Consomano
Quando muita gente discute o mesmo assunto, é comum que surja uma certa pretensão em alguns indivíduos. De tanto se pronunciar, as pessoas se entendem como especialistas naquilo que, até semanas ou dias antes, nunca nem ouvira falar.
De tempos em tempos, uma grande novidade toma conta do debate público. Todo mundo é impactado, de uma maneira ou de outra, pela nova tecnologia ou inovação do momento. O mercado, naturalmente, agarra a oportunidade de fazer parte.
É preciso ter muito cuidado com esse tipo de situação, tanto da parte do suposto “especialista” quanto do público que o consome.
Em primeiro lugar, o entusiasmo com um tema não pode ser confundido com conhecimento de causa. É possível ler bastante, conhecer diversas opiniões e ainda assim estar apenas na ponta do iceberg, especialmente quando se trata de novas tecnologias que levaram anos para finalmente ser apresentadas. Colocar-se como autoridade em algo quando não é o caso pode expor o autor e gerar um efeito inverso do que o esperado: a descredibilização.
Além disso, ao olhar muito pouco para o presente, surge uma necessidade imensa de prever o futuro. Mas é no presente que entendemos o que essas tecnologias representam de fato para a sociedade, seus riscos e benefícios, de modo que a falta de compromisso analítico leva inclusive à descrença.
O que leva ao ponto de vista do público: buscando informações sobre a novidade, ele se depara com essas pessoas e, ao descredibilizá-las, acaba criando uma concepção negativa da própria novidade. Isso quando não acredita muito fielmente no que o “especialista” afirma e aprende equivocadamente, de maneira incompleta ou irresponsável.
É necessário, inclusive, ter cuidado com o investimento que se faz nessas ocasiões. Adquirir conhecimento sobre uma inovação é bom e bastante importante em muitos casos, profissionalmente ou pessoalmente, mas é perigoso cair em uma narrativa pedante que não traz aprendizagem real. É aí que residem os famosos charlatões.
Ainda assim, isso nem sempre é o que está acontecendo. Algumas pessoas não buscam enganar ou lucrar a partir do que falam. Querem, simplesmente, alcançar um senso de relevância, em particular nas redes sociais. Esse anseio por notoriedade é o que pode fazer com que alguém troque os pés pelas mãos e tente sair na frente mesmo sem ter fundamentos para isso.
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Outro ponto importante sobre isso é que, por vezes, o assunto em questão surge como uma grande onda, mas não dura o suficiente para que os debates ultrapassem a superficialidade. Lembra do Clubhouse, o aplicativo que conquistou milhões de usuários repentinamente em 2021? Conhece alguém que ainda fale sobre ele atualmente?
Claro que isso não se aplica a tudo. As criptomoedas, por exemplo, representam a digitalização do dinheiro e isso escalou ao longo dos anos ao invés de reduzir. O metaverso representa a conexão entre real e virtual em todas as áreas, a ideia de que tudo é uma coisa, o que vem sendo corroborado em certos níveis pelos demais avanços tecnológicos. E a inteligência artificial está evoluindo, ocupando espaço e se tornando uma ferramenta cada vez mais importante.
Os debates podem coexistir e não é preciso ter pressa. Talvez, em alguns assuntos, estejamos na fase da dúvida mesmo. A velocidade dos avanços assusta, mas também exige de nós responsabilidade nas discussões. Isso é mais essencial, no momento, do que chegar a alguma conclusão.
Eduardo Cosomano é jornalista, fundador da agência EDB Comunicação, e coautor do best-seller Saída de mestre: estratégias para compra e venda de uma startup, e do recém- lançado Ouvir, Agir e Encantar: a estratégia que transformou uma pequena empresa em uma das líderes do seu setor, ambos publicados pela Editora Gente.
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