* Por Barbara Granek
Construí uma empresa do zero, criei uma marca, vendi para os melhores do mercado, ultrapassei a marca de R$1 milhão em vendas, levantei meu primeiro cheque, convenci pessoas que não me conheciam a transformarem um sonho em realidade. Gerei empregos, construí um time.
Estava grávida de seis meses quando comecei tudo isso. Fui ao médico, fiz ultrassonografias, teste de glicose, exame de sangue, comprei roupa de bebê, enjoei, tive dor, tive inchaço, pensei em nomes, infernizei a vida do meu marido.
Pari, amamentei, cuidei, dei banho, coloquei para dormir, cantei, ajudei a andar, chorei às vezes e gargalhei muito mais. Escolhi engravidar e mudar ao mundo ao mesmo tempo e tenho a expectativa que a nossa geração mostre que isso é possível.
Aprendi muito cedo que o conceito de ‘balanço entre vida pessoal e trabalho’ é falho. A palavra ‘balanço’ coloca essas duas esferas da nossa vida como forças opostas quando elas andam juntas num emaranhado só. A vida é um projeto único e as mulheres têm a opção de serem bem-sucedidas na carreira e terem filhos. Nem sempre tudo vai funcionar como a gente queria e nem sempre as duas vão estar em harmonia. A perfeição passa longe. São várias petecas para dar conta e não existe receita para segurar todas elas, mas quatro coisas, na minha visão, são imprescindíveis:
Tenha raça: empreender é muito mais difícil que engravidar e ter filho. Antes de empreender, entenda bem a escolha, pois a quantidade de desafios é imensurável. Você tem que gostar da caminhada porque ela é longa. Na condição de começar uma empresa grávida, a raça adicional é ter que levantar para trabalhar apesar do cansaço físico e, muitas vezes, mental.
Não vai existir 3, 6 meses, 1 ano off. Muito provavelmente, você vai ter que trabalhar até o parto e voltar a trabalhar em poucos dias. Aqui não importa ter ajuda. Você pode ter 50 maridos mão na massa dentro de casa e cinco babás, essa disposição é sua e de mais ninguém. Eu trabalhei até 15h antes do parto e voltei em uma semana. A Cris Junqueira, se não me engano, voltou com 3 dias. Estamos vivas! Eu estou além de viva, feliz com as minhas escolhas. A minha filha tem um ano e meio e me parece que segue feliz também.
Esbanje confiança: as primeiras reuniões com investidores eram sempre por vídeo e ninguém via a minha barriga. A segunda reunião era presencial e parecia que tinha um elefante branco a ser endereçado na sala. As reuniões eram incômodas nesse sentido, pois eu sentia um ar de desconfiança se eu ia dar conta. Os politicamente corretos não queriam endereçar a questão, mas a tensão era clara. Os politicamente incorretos eram só incorretos mesmo com perguntas invasivas. Escolhi sempre endereçar a minha gravidez, mas talvez com menos confiança do que eu deveria. Hoje, ainda tenho dúvidas de qual a melhor abordagem, mas certamente iria com respostas mais bem preparadas para as perguntas que não eram voltadas para a empresa.
Aceite ajuda até do papagaio: simplesmente é muito trabalho e muita coisa ao mesmo tempo. É preciso de ajuda. Sem culpas em delegar. Eu acredito que estou sendo um exemplo para a minha filha de dedicação, resiliência e mostro diariamente a importância do trabalho. No longo prazo, isso vai ser mais importante do que algumas fraldas ou banhos que eu deixei de dar.
Descomplique a maternidade: empreender pode dar flexibilidade de horário e local de trabalho. A minha empresa já nasceu no remoto quando o mundo nem sabia o que era covid-19. Eu preciso viajar bastante e as minhas filhas me acompanham em quase todos os lugares. Elas se adaptaram à minha rotina e não vice-versa. Isso deixa a minha vida mais simples e elas, crianças flexíveis que não precisam da cama perfeita e comida orgânica para viver.
Eu sou a Barbara, fundei a Fishtag grávida de 6 meses e com minha filha de um ano e meio. Tenho um marido que me ajuda muito e a babá do século. Sou privilegiada. Levantei o meu primeiro round grávida. O round foi mais longo do que imaginava, parte, em função da gravidez. Alguns lugares não aceitaram que eu fizesse um pitch remoto, em um momento que eu não podia mais viajar. Com o mundo pós-covid, estamos salvas mulherada! Vamos mudar o mundo!
Barbara Granek é fundadora e CEO da Fishtag, startup membro do Cubo Itaú e que faz a conexão direta entre os produtores de pescado e os compradores, promovendo um consumo mais consciente do pescado. Nos 2 anos que antecederam a Fishtag, Barbara reestruturou a empresa de pesca da sua família. Além disso, trabalhou por 5 anos na Booz & Company, gerenciando projetos de consultoria estratégica para grandes empresas nos escritórios de São Paulo e Nova Yorque.