* Por Robson Del Fiol e Camilla Padua
No contexto atual que estamos vivendo, crise de covid-19, eleições americanas balançando o mundo todo e disputas entre super potências econômicas e militares, nunca foi tão necessário que os líderes sejam capazes de conduzir organizações em tempos turbulentos. Até os conceitos sobre liderança estão em xeque, com questões raciais, de diversidade e muitos outros temas criando mudanças profundas.
Dentre várias possibilidades e dúvidas que surgem, a principal é sobre como desenvolver a liderança nestes momentos e nos que estão por vir, uma vez que ninguém sabe exatamente o que vem por aí. A resposta pode ser muito ampla, cheia de metodologias, com abordagens diferentes e, muitas vezes, conflitantes.
Uma teoria muito utilizada por organizações no Brasil e no mundo foi publicada por Ram Charan no livro “Pipeline de liderança”, de novembro de 2000, em que destaca as seis transições pelas quais os líderes devem passar até chegar ao topo: (1) de liderar a si mesmo para liderar outros; (2) de liderar outros para liderar outros líderes; (3) de liderar líderes para liderar uma função; (4) de líder funcional para líder de negócios; (5) de líder de negócios para líder de grupos; e, por fim, (6) de líder de grupos para líder corporativo.
Nesta escada traçada por ele, os líderes basicamente vão passando de fases, pulando de hard skills para soft skills, de operacional para tático e estratégico, e aprendendo como motivarem, comunicarem a visão da empresa, e manterem a cultura. Contudo, há uma atualização necessária, pois essas transições foram desenvolvidas muito antes do boom de tecnologia que estamos vivendo.
Ao buscar uma solução para esta atualização, há no livro “Hit Refresh” (“Aperte o F5”, no título em português), publicado em 2017, escrito por Satya Nadella, atual CEO global de uma das principais empresas mundiais de softwares, produtos eletrônicos, computadores e serviços pessoais, uma fonte de inspiração para esta equação. O autor apresenta como foi sua carreira até chegar ao cargo mais alto da empresa e como se desenvolveu a transformação cultural da organização com sua liderança.
Dentre os conceitos apresentados, foi destacado que as empresas precisam focar em embutir inteligência em seus produtos e serviços e, que, para tanto, a liderança precisa realizar quatro iniciativas fundamentais: (1) engajar a base de clientes se alavancando nos dados; (2) empoderar as pessoas do seu time com produtividade e mobilidade; (3) automatizar operações com simplificação de processos de negócio; e, por fim, (4) transformar modelos de negócios, produtos e serviços.
Além disso, segundo Satya Nadella, é fundamental nos dias de hoje que os líderes sejam capazes de sintetizar o complexo, também precisam energizar não só a própria equipe, mas a empresa toda, e fazer as coisas acontecerem.
Independentemente da posição do líder dentro da hierarquia da empesa, ele tem atribuições fundamentais ligadas à transformação do negócio que demandam um olhar mais condizente com os novos tempos. Ele também precisa entender que tudo mudou e está mudando ao seu redor, e isso afeta a essência e a forma de liderar.
* Robson Del Fiol é sócio-diretor líder de Emerging Giants da KPMG no Brasil. Camilla Padua é sócia-diretora líder de People Consulting da KPMG no Brasil.