* Rogério Borili
Quando você pensa que já alcançou aquele patamar top da transformação digital, vem outra onda de inovação, em um movimento sem fim. Os desafios de 2020 trouxeram tecnologias disruptivas e tendências que vão moldar o futuro dos negócios em 2021 e além. Como fica então a área de TI nesse contexto desafiador? Entre as muitas respostas possíveis, uma é certa: ela estará cada vez mais alinhada com os negócios.
A grande questão que se coloca para os CIOs e os CEOs é entender como esse alinhamento acontece na prática. Objetivo que só será alcançado a partir de um posicionamento das lideranças com o propósito de criar valor para o negócio. Há muito tempo a área de TI deixou de ser suporte para a adoção de novas tecnologias e passou a ser uma área estratégica para a digitalização das organizações.
Vivemos agora um novo momento, em que a onda de inovação tecnológica avança rapidamente sobre todos os mercados e setores e o alinhamento precisa ser fortalecido. Mais do que uma palavra ou decisão, envolve o esforço contínuo de times diversos atuando em conjunto para levar a empresa a outro patamar no mundo dos negócios. Como a TI permeia todas as áreas, o alinhamento também requer a participação ativa de todos.
Pense em como as novas tecnologias contribuem para reduzir custos, aumentar a segurança e a produtividade e melhorar os fluxos de trabalho. Mais ainda, TI tem um papel essencial na jornada de compras e na captura e análise de dados que contribuem para melhorar a experiência do cliente, promovendo a lealdade com a marca.
Eu mudaria a sigla para AR, pois TI agora é o ar que as empresas respiram. Alguém duvida que não dê mais para (sobre)viver sem ela? Em alguns setores, a tecnologia é a base do negócio. Ou seja, as áreas já nasceram alinhadas em empresas que foram criadas com foco em TI. Não por acaso algumas delas se destacam entre as 10 marcas mais valiosas do mundo: Apple, Amazon, Google, Microsoft, Facebook, Verizon Media e WeChat.
Quem somos nós diante desse gigantes globais? Será que vamos chegar lá? É sempre bom lembrar que eles não nasceram assim, gigantes, mas foram concebidos com base em um forte alinhamento de TI com o negócio. Portanto, esse deve ser o nosso foco: o de atuar como parte integrante da estratégia de valor. Não mais suporte, não mais independente e nunca mais isolados do todo.
Depois que esse entendimento estiver profundamente arraigado na empresa, resta entender como promover o alinhamento, a começar pela identificação de onde está a desconexão. Só então é possível evitar os erros mais frequentes listados a seguir.
– Os departamentos de TI não têm uma compreensão clara do que é importante para os negócios.
– A liderança não entende o valor da TI.
– A liderança não está disposta a parar de usar tecnologia desatualizada.
– As decisões de TI são feitas separadamente das decisões de negócios.
Encontrou um ou mais desses equívocos na sua empresa? É hora da tal DR entre líderes e, por fim, entre os times. Colocar todo mundo na mesma página é uma frase bastante usada que cabe certinho nesse momento, pois alinhar é exatamente isso. Mas, o desafio está só começando. Como líder de TI, você pode ter chegado a um entendimento com os demais. O passo seguinte é dividir responsabilidades.
Tudo começa por uma compreensão bem mais profunda sobre as questões que envolvem tecnologia para o sucesso dos negócios. Acredite, muitos ainda não entenderam que todo investimento, atividade, serviço ou projeto relacionado a TI deve criar ou otimizar valor de negócios.
Alinhamento é estratégico, mas também é um processo contínuo. Faz mais sentido pensar em uma série de ciclos de aprendizado e execução. Os líderes não decidem alinhar hoje e amanhã tudo se resolve em um comunicado, como se fosse mágica. Sabendo que ela não existe, temos que investir em um elemento que de fato contribui para promover o alinhamento: ao invés de buscar as métricas relacionadas a TI, devemos obter métricas relacionadas aos negócios. Com os dados expostos, fica bem mais fácil compreender o valor dessa conexão.
Os líderes também precisam compreender com maior clareza o papel da tecnologia para a eficácia dos negócios. Ela impacta não apenas a competitividade, como também oferece soluções assertivas para corresponder às mudanças do mercado, que se mostram cada vez mais aceleradas nesses tempos de pandemia. Sim, a área de TI sentiu na pele, no corpo e na alma o poder transformador do vírus. Em todos os campos, a luta é intensa, e as organizações sentiram por muito tempo os efeitos dela. Mas, acredite: apesar de toda a crise, eles podem ser muito positivos no futuro.
Diante de mudanças tão profundas, o alinhamento requer participação ainda mais ativa dos líderes de toda a organização, além de entendimento profundo sobre:
– Quais são os recursos de TI disponíveis na empresa;
– O papel relevante da tecnologia para o sucesso do negócio; e
– As novas tecnologias que podem ser incorporadas para corresponder à velocidade das mudanças e alcançar melhores resultados.
O CIO Index propõe algumas etapas que podem contribuir para o alinhamento de TI com os negócios.
– Identificar motivadores de negócios. Avalia periodicamente as necessidades de negócios que estão impulsionando a TI.
– Criar Visão de TI. Identifica a capacidade de TI – estratégia, processo, infraestrutura e organização – necessária para atender às prioridades de negócios.
– Avaliar o alinhamento atual. Responde à pergunta: Como a capacidade de TI atual se compara à capacidade de TI prevista, considerando as três dimensões de alinhamento – investimento, ativos e organização?
– Identificar lacunas de alinhamento. Comparando a capacidade de TI desejada ou “futura” com a capacidade de TI atual ou “como está”, pode-se identificar lacunas que estão causando o desalinhamento.
– Priorizar iniciativas de TI. A etapa anterior mostra as “correções” que podem alinhar negócios e TI, mas nem sempre é possível agir sobre todas elas. Algumas são mais fáceis, outras oferecem maior “retorno do investimento”.
– Avaliar as opções de implementação. Essa etapa pega a lista de iniciativas e cria um roteiro para a TI. Esse roteiro é o resultado de um planejamento cuidadoso que é conduzido a partir de uma consideração primária: o risco.
– Criar Plano de Migração para o roteiro de TI – etapas, resultados, responsabilidade, tempo etc.
– Ajustar a estratégia de TI. Essa é a etapa principal para garantir conexão entre as necessidades de negócios, em constante mudança, enquanto implementamos soluções de TI em resposta a elas.
O looping é mesmo infinito. As mudanças do mercado avançam ao mesmo tempo que as novas tecnologias surgem e exigem das empresas respostas rápidas a elas. Enquanto você está remando em uma direção, pode ser que o vento mude repentinamente. Então, é preciso viver como um viajante que fica de olho na bússola e na previsão do tempo para não cair no olho do furacão. Nesse contexto de intensos movimentos, fica cada vez mais claro que não dá para manter as mesmas práticas isoladas. Sem alinhamento ninguém vai alcançar o lado de lá. Qualquer que seja ele.
Lembre-se, no entanto, que isso não significa, necessariamente, cair sobre livros. Analisar a concorrência, por exemplo, também é uma maneira de estudar. Talvez, na vida, Ana tenha aprendido sobre negócios muito mais do que João.
Autoconhecimento
Será que empreender é mesmo o que você quer para sua vida? Ou você resolveu abrir um negócio só por que acha legal essa onda das startups?
Se você abriu uma empresa simplesmente pensando no glamour e para distribuir cartões de visita com um CEO sob seu nome, reveja seus conceitos.
Empreender pode até ter seu charme, mas a vida real não é tão bonitinha. A selva é para os fortes. Aprenda a identificar suas forças e fraquezas, para aparar as arestas e delinear uma estratégia vencedora.
* Rogério Borili Pereira é vice-presidente de Tecnologia e Sustentação da Becomex Consulting. Atua na implementação de processos fiscais eficientes em grandes organizações visando compliance e ganhos tributários.