* Por Diogo Catão
De acordo com um estudo do programa de apoio à transformação digital do setor público na Universidade de Cambridge, empreendedores latino-americanos de tecnologia estão pouco conectados ao poder público. Uma das principais causas é o fato de que, historicamente, governos locais tendem a favorecer grandes empresas – uma abordagem que repele grupos jovens, como as startups, e favorece a corrupção. Além disso, os processos burocráticos desestimulam a busca de parcerias com governos.
Uma pesquisa realizada pelo Global Entrepreneurship Monitor, em 2017, confirma a análise. Hoje, apenas 12% da atividade empreendedora na América Latina foca no setor público, no serviço social ou em setores correlatos – índice inferior a quase todas as outras regiões do globo.
A questão é que, em uma sociedade 5.0, não é mais possível fugir da inovação para garantir processos mais ágeis e transparentes na área. Para isso, é necessário naturalizar a abordagem baseada no modelo de ecossistema, bem como a colaboração entre as corporações, trocando o que há de melhor entre as partes para a construção de ofertas aderentes, interessantes e eficazes a fim de atrair estados, prefeituras etc.
Estimular a criação de uma comunidade de stakeholders comprometidos com a digitalização do setor público é fundamental para essa virada. Só assim será possível permitir o fluxo de ideias, conhecimento, produtos e serviços entre fornecedores inovadores e governos.
É preciso reunir pessoas e instituições em torno de uma ideia central: construir uma agenda para transformar o Brasil em um país digital. A crescente aplicação de novas tecnologias como blockchain, inteligência artificial e robótica tem possibilitado, ao redor do mundo, maior eficiência e transparência na realização de políticas públicas e na relação entre governos e cidadãos. Alinhadas com as necessidades de cada governo, essas tecnologias se tornam importantes ferramentas para a redução de burocracias e melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Dentro dessa estratégia, as venture builders podem acelerar o processo de identificação de oportunidades e fazer a conexão entre as startups e os governos, mostrando o caminho das pedras para os atores envolvidos. É da natureza das startups começarem com uma boa ideia e equipe enxuta. No início, poucos são os seus recursos e a estrutura é mínima para desenvolverem produtos e negócios. Com as govtechs, ainda existem algumas particularidades, como a questão da compra pública, que se dá por meio de licitação. Devido a esse elemento, o caminho dessas startups precisa ser bem pensado e auxiliado por especialistas na área governamental, e é justamente esse o papel de uma venture builder: potencializar suas vantagens, dar visibilidade e proporcionar benefícios para alcançar o setor público e a população de modo geral.
A vantagem principal de uma govtech para o mercado e para a gestão pública é o ganho mútuo, tanto para o governo como para a sociedade. Com essas startups, é possível fomentar a existência de um governo mais aberto, 100% digital e transparente para a população. Por meio da tecnologia, por exemplo, pode-se reduzir o uso de papel, diminuir a emissão de carbono, deixar a economia mais sustentável e as cidades mais inteligentes – o que beneficia o cidadão, a gestão pública e o mercado.
No cenário internacional, uma pesquisa feita pela base de dados global Nebula, administrada pela StateUp, aponta que o setor govtech pode alcançar US$ 1 trilhão no mundo até 2025. Hoje, o mercado vale em torno de US$ 400 bilhões a US$ 500 bilhões. Ou seja, em curto espaço de tempo a estimativa é que esse número possa crescer muito. O que diz bastante sobre o desenvolvimento do setor em nível internacional.
Já no Brasil, o meio govtech ainda necessita de mais olhares para o seu desenvolvimento. Infelizmente, há pouca pesquisa e dados relevantes por aqui. Os números estão desatualizados, já que é um mercado em constante crescimento e transformação. Se a gente for analisar o número, friamente, apenas 80 govtechs têm atuação mais relevante no país, de acordo com relatório feito pelo BrazilLAB e CAF (2020), o que pode ser considerado baixo.
No entanto, podemos afirmar que há um interesse cada vez maior de startups se tornarem govtechs e criarem soluções voltadas para o governo. O cenário hoje já é muito positivo. É importante focar em fazer mudanças legislativas, culturais e investir na promoção da pauta como aliada para o setor público resolver seus problemas. Assim, é possível aproveitar todo o potencial que esse novo modelo de negócio pode trazer para todas as esferas da sociedade.
Diogo Catão, CEO da Dome Ventures, uma Corporate Venture Builder GovTech que nasceu com o propósito de transformar o futuro das instituições públicas no Brasil.