Importante iniciar mencionando que a primeira programadora da história foi uma mulher. Ada Lovelace, em 1843, criou o primeiro algoritmo para ser processado por uma máquina. Nessa época, para trabalhar com ciência, não era necessário ter educação universitária e os laboratórios costumavam estar situados no ambiente familiar. Com essa organização menos rígida, era possibilitado o acesso das mulheres ao meio científico.
Por isso, fato de haver poucas mulheres na tecnologia atualmente passa pela própria formalização da ciência no século XIX, que quando passou a fazer parte da esfera pública, espaço atribuído aos homens, excluiu a mulher das universidades e do meio científico. Foi nessa reestruturação da cultura que a ciência passa a ser vista como masculina.
A cultura androcêntrica rege as formas de conduta dos indivíduos, dessa forma, estamos culturalmente predispostos a considerar as realizações masculinas como mais importantes que as femininas. Outra tendência considera que as realizações relevantes são “obras de homens” e a descoberta de que a autora, inventora ou descobridora de uma nova ciência, técnica ou inovação é uma mulher, geralmente causa surpresa.
Esse contexto histórico explica o que vivemos hoje. O espaço tecnológico e das ciências tornou-se masculino. E ao tombar o mito de que mulheres têm menos aptidão para tecnologia, mas sim que é uma construção social, conseguiremos nos livrar dos vieses inconscientes que são reforçados no ambiente familiar, escola e sociedade, que mantém as mulheres em esferas diferentes da tecnologia.
A autora desse artigo trabalha na Flowsense, empresa de tecnologia, na área de Sucesso do Cliente. Percebe-se que na área de atendimento ao cliente, uma ciência humana, é comum a presença de mulheres. Mas a área de desenvolvimento de tecnologia, é dominada pelo masculino. Por isso contaremos com o depoimento de Caroline Siqueira, Mobile Developer.
“Trabalhar em um ambiente que continua sendo majoritariamente masculino exige paciência. Na minha experiência, não posso dizer que houve assédio explícito, mas eventualmente me vejo novamente colocando que “esse tipo de comentário não é necessário”. Não sinto de forma alguma que fui podada de tomada de decisão por ser mulher, nem perdi a chance de atuar com liderança sobre os projetos, mas tenho que lidar com um posicionamento quanto à minha ‘sensibilidade feminina’. Já cheguei a trabalhar com um time mobile onde 2 das 4 pessoas desenvolvedoras do projeto eram mulheres e sabia que aquilo trazia um ganho incrível de discussão em vários fatores, inclusive técnicos. Eu acredito que o mundo está se movimentando para ser mais diverso e que isso trará ótimos frutos tanto para a sociedade quanto para o desenvolvimento tecnológico”.
Ainda é difícil ser mulher em ambientes majoritariamente masculinos e as meninas precisam ser incentivadas na escola e na sociedade tanto quanto os meninos a seguirem carreira na engenharia ou computação. O próprio comportamento social é o que poderá reverter o cenário contemporâneo.
Lissa Chesky é economista, graduada pela Universidade Federal de Santa Maria (RS) e mudou-se para São Paulo aos 25 anos, quando atuou em uma grande associação da indústria, apresentando análises de economia e mercados, inclusive como palestrante no Banco Central. Cocriou uma nova área de inovação com startups na mesma associação. Atualmente trabalha na Flowsense, startup membro do Cubo Itaú de Tecnologia em Mobile Marketing, como Gerente de Sucesso do Cliente, com o objetivo de garantir que cada cliente tenha sucesso no uso da nossa plataforma SaaS e gerar externalidades positivas a todos os envolvidos.