* Por Victor Maia
Quando pensamos em demanda, atualmente, seja qual for a indústria, existe a necessidade de as empresas adotarem o uso dos dados para a tomada de decisão. Essa é uma tendência que continuará e se desenvolverá cada vez mais. Esse processo se intensificou bastante com a pandemia, mas sem a experiência de profissionais que transformam tecnologia em insights acionáveis, Big Data não é nada.
Pelo lado da oferta, ser um excelente cientista de dados é alguém que tem um conjunto de habilidades um tanto abrangentes: inteligência para lidar com o processamento de dados, capacidade de entender e criar modelos úteis, uma compreensão intuitiva do problema de negócios, da estrutura e das nuances dos dados.
Considero que é mais importante saber pensar estrategicamente do que saber uma aplicação tecnológica. Isso porque técnica basta escolher uma e fazer um dos milhares cursos que existem à disposição. Mas desenvolver um pensamento capaz de levantar soluções exige ter a capacidade de escolher as informações relevantes e avaliá-las aproveitando bem o próprio tempo disponível.
Com isso em mente, o fato é que no último ano eu ganhei o dobro do que eu ganho fazendo uma jornada regular com apenas 4h a mais de trabalho, e isso despertou muita curiosidade nas pessoas. Mas a confiança para empreender surgiu há muito tempo, logo que me formei no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Depois que saí da faculdade, fui trabalhar no mercado financeiro e, apesar de bem remunerado, não me identifiquei com o ambiente.
Lá, aprendi algo que mudou completamente a minha vida: as pessoas são naturalmente avessas ao risco. Assim, o risco e o retorno andam de mãos dadas. O retorno deve ser desproporcionalmente maior em atividades arriscadas para fazer com que algumas pessoas deem o pulo “no escuro”. Como não há nada mais arriscado do que empreender, especialmente no Brasil, resolvi abrir o meu próprio negócio.
Outra lição que ficou do mercado financeiro foi o conceito de hedge, ou proteção. Quem corre muito risco precisa se proteger, foi quando vi no serviço público a estabilidade que eu precisava para correr riscos nas horas vagas.
Ao estudar para passar em concurso público, analisei as estatísticas e encontrei uma forma assertiva de estudos, inclusive, passei em alguns concursos para atuar como Agente e Perito da Polícia Federal, Auditor da CGU, Analista da CVM, Analista do Banco Central, Consultor da Câmara dos Deputados, Especialistas em Finanças da Previdência, entre outros. E foi aí que criei uma empresa para ajudar as pessoas que queriam ingressar no serviço público. A gente conseguiu centenas de aprovações em concursos de ponta, inclusive juízes, auditores, delegados, etc. Encurtamos o tempo de aprovação em mais da metade: de 4 anos e 6 meses para 2 anos e 2 meses.
No último ano, vendi essa empresa e refleti que, dentre todos os aprendizados (que foram muitos) o que eu mais tinha gostado de fazer foi a modelagem do problema. Então, tomei a decisão de dedicar meu tempo livre, já como funcionário público, à ciência de dados, como consultor. Estudei para a certificação de Senior Data Scientist da DASCA, que é a líder mundial em certificação em ciência de dados. Depois, fiz os cursos do Datacamp e do Deeplearning.ai.
Nessa fase, já estava fluente em Python, a linguagem mais utilizada na indústria, e pronto para conseguir os primeiros trabalhos. Felizmente, essa parte operacional tem uma variedade de bons cursos, e se pode aprender mais rapidamente.
Uma demanda crescente e uma grande barreira de entrada é o que torna o ramo de cientista de dados tão atraente. Nesse sentido, o começo foi “fácil”. Como falei, minha maior deficiência era na sintaxe em Python, a linguagem “estado da arte”. Com isso resolvido, o próximo passo foi a construção de um portfólio de soluções para problemas comuns dos clientes. Pesquisei nos sites de freelancing quais eram as principais demandas e montei uma solução para elas.
O freelancing permitiu que eu melhorasse minhas habilidades enquanto construía minha reputação, fazia networking, e ainda era remunerado. Em seis meses, eu já tinha construído contatos que, além de “lotar” a minha agenda, me permitiam escolher os projetos mais fixos que me interessavam mais, fora da plataforma.
Mudar de carreira ou trabalhar em outro ramo nas horas vagas é simples, mas não é tão fácil, e não sou o único a fazer isso: triplicar a renda pode ser uma opção para muitas pessoas. Se a pessoa sabe o passo a passo, tem determinação e humildade para percorrer todo o trajeto, a vitória é certa.
* Victor Maia é doutor em econometria, cientista de dados e escritor.