O Brasil é o país que possui o maior estoque de dentistas do mundo. Isso significa que 20% dos profissionais de todo o planeta estão aqui, 1 em cada 5 cirurgiões. Somos a nação que também mais forma aqueles que são responsáveis por deixar o chamado “cartão de visitas” mais bonito. Dentro da base de dados da Abstartups, o StartupBase, não há um filtro específico de empresas do ramo odontológico, porém é possível encontrar 12 startups voltadas para a área no País.
Uma delas é a W.Dental, uma empresa do Rio de Janeiro que busca democratizar o acesso a planos dentais no Brasil. Criada no início deste ano, possui em sua rede credenciada mais de 17 mil opções de atendimento no País. Todo o processo é feito de forma automatizada, desde a contratação do plano até o dia a dia, seja do beneficiário ou do dentista, sendo este um diferencial da empresa.
“Fazendo uma analogia simples: você pensa no mercado financeiro, com várias fintechs e cartão de crédito digital. O que eles fizeram de disruptivo? Digitalizaram a experiência do usuário e melhoraram essa experiência. Com isso, eles conseguiram reduzir custos operacionais e repassar esses benefícios para os usuários. De certa maneira, é o que a gente está fazendo no mercado odontológico: a gente digitalizou os processos desde a contratação até a utilização”, aponta Igor Pereira, cofundador e CEO da empresa.
Segundo ele, foi a oportunidade de digitalizar um mercado que ainda é pouco explorado digitalmente. “As operadoras mais tradicionais estão muito longe de uma curva de digitalização que a gente entende que seja adequada, especialmente para o momento. E é uma excelente oportunidade de negócio”.
Para o CEO, com o serviço digital, é possível reduzir os custos operacionais e, com isso, reverter essas economias aos beneficiários. “A gente atua com uma operação automatizada digitalizada. É diferente de uma grande operadora que tem muitas pessoas, muitos papéis. Por isso, a gente consegue ter planos mais competitivos”, afirma.
Todos os planos oferecidos pela W.Dental são flexíveis e podem ser alterados a qualquer momento. Além disso, os dentistas estão à disposição para atenderem os clientes a qualquer hora do dia ou da semana. “O plano dental, naturalmente, tem uma aderência maior das classes B, C e D, porque, geralmente, são aquelas que não possuem muitas condições para bancar um plano particular, por exemplo. Então é onde tem maior oportunidade. O nosso plano mais vendido custa 99 centavos por dia. É mais barato do que o cafezinho”.
Além disso, o CEO afirma que a empresa teve o cuidado de incluir, mesmo nos planos mais básicos, o clareamento caseiro como procedimento, focando mais na parte estética do cliente. “A estética hoje é muito falada e se tornou um grande produto. As pessoas querem ter um belo sorriso. O sorriso nada mais é do que vender você. Ele mostra sua saúde, sua confiança. Então é uma parte muito importante da saúde das pessoas”, destaca.
W. Conecta
Por conta do novo coronavírus, a empresa antecipou o lançamento de um atendimento remoto via teleodontologia, mais voltado para casos de emergência, chamado W.Conecta. Com ele, o beneficiário pode falar com o profissional por videochamada, tirar as dúvidas e ter as primeiras orientações sem sair de casa. Todos os planos oferecidos pela empresa contam com cobertura do Rol de Procedimentos Odontológicos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
O CEO acredita que a alternativa veio para ficar. “Eu não sou só uma plataforma que conecta o médico e o paciente. Eu sou regulamentado pela ANS, a gente tem custos para ter o registro. Então somos, de fato, uma operadora dental digital. Isso traz uma complexidade grande para o nosso negócio”, reforça Igor.
O tratamento odontológico a distância, inclusive, foi regulamentado de forma temporária no final de março pelo Projeto de Lei 1253/20, com o objetivo de ajudar no enfrentamento da covid-19 por meio do isolamento social, por exemplo, assim como a telemedicina. A proposta, feita pela deputada Patrícia Ferraz (Pode-AP), ainda tramita na Câmara dos Deputados.
Ainda segundo o texto, a teleodontologia pode contemplar ainda o atendimento pré-clínico, de suporte assistencial, de consulta, monitoramento e diagnóstico, por meio de tecnologia da informação e comunicação, no âmbito do SUS, bem como na saúde suplementar e privada. Além disso, a consulta deve ocorrer diretamente entre cirurgião-dentista e pacientes, por meio de tecnologia da informação e comunicação que garanta a integridade, segurança e o sigilo das informações.
Investimentos
Segundo Igor, as primeiras rodadas de investimento da startup ocorreram no modelo familiy & friends e no grupo, há cerca de 7 investidores, além de outros que estão para entrar. “A gente está mantendo as rodadas iniciais bem internas mesmo. No segundo semestre, vamos fazer uma captação maior externa”. Ele comemora os resultados. “A gente está tendo uma adesão maior do que a gente tinha planejado. Então eu diria que foi uma surpresa extremamente positiva, e isso está dando uma confiança ainda maior para os investidores”.
A startup também chamou a atenção de Bruno Pauletti, Managing Partner da EquityRio Investimentos. Segundo ele, a aplicação feita na W.Dental foi o resultado de uma combinação perfeita que todo investidor sonha em startups. “Uma equipe de empreendedores seniors de primeira linha à frente do negócio, aliado a uma turma de colegas investidores que já são meus sócios há muito tempo (em outras iniciativas), combinado a uma solução digital altamente escalável num mercado gigantesco no Brasil”, destaca.
Este não é o primeiro investimento direto em pessoa física feito pelo gestor. “Invisto em startups na pessoa física desde 2012, seja em investimento direto, seja via rede de anjos de qual sou diretor, o Gávea Angels. Esse ano fundei uma gestora de micro venture capital batizada de Equity Rio, que investe em empresas em estágios bem iniciais”.
De acordo com Bruno, este primeiro fundo do Equity Rio, que inclusive está em captação, será de 5 milhões de reais e tem o objetivo de investir em até 15 empresas. “A tese deste fundo é ser o primeiro investidor institucional da startup, ajudando-a na dura e longa jornada nas múltiplas rodadas de investimento dentro do venture capital”.
Pauletti diz que ainda não se sabe como os mercados vão se comportar após a pandemia, mas acredita que a W.Dental não sofrerá grande impacto. “Ninguém sabe ao certo o que irá acontecer nesse novo mundo que está sendo criado pós-Covid. Como um dos pilares da W.Dental é entregar uma experiência 100% digital ao cliente e democratizar o acesso ao plano dental com preços super acessíveis, não acredito que terá grande impacto. Acredito que a saúde dos dentes sempre terá espaço no orçamento familiar, muito embora alguns cancelamentos poderão de fato acontecer, é normal que isso ocorra em épocas de crise”, acredita.
Informação e prestação de serviço
Igor acredita que a falta de informação seja um dos problemas na criação de uma cultura voltada ao cuidado da saúde bucal, mas destaca que a startup tem trabalhado para mudar esse cenário. “Temos um blog agora que a gente divulga os nossos conhecimentos para, justamente, endereçar essa parte da prevenção e informação com os beneficiários”.
De acordo com o CEO, os princípios da empresa estão calcados em três pilares. “Um é a experiencia do nosso beneficiário; o segundo é a tecnologia e inovação, até por todos nós termos vindo da área, a gente coloca isso como um grande diferencial e o terceiro pilar é o foco na prevenção. A gente entende que com um trabalho preventivo bacana, através de conteúdos e mensagens com os nossos beneficiários, a gente vai conseguir trabalhar bastante na prevenção e na frequência deles”.
Assim, acredita que o propósito da startup é o de facilitar o acesso das pessoas a um serviço prático e necessário. “A nossa principal missão é democratizar o acesso a planos dentais no brasil. A gente tem um grande problema e uma grande oportunidade. Como a gente executa essa missão? Digitalizando esse mercado, simplificando a experiência e passando para o beneficiário custos mais justos para eles terem acesso a tratamentos dentários, que é algo ainda bem raro no Brasil”, finaliza.