* Por Filipe Ratz
Entre os dias 10 e 19 deste mês acompanhei, em Austin, no Texas (EUA), a programação do South by Southwest – SXSW. Destino essencial para profissionais globais, especialmente, CMOs, o evento anual apresenta sessões, amostras de música e comédia, exibições de filmes, exposições, desenvolvimento profissional e uma variedade de oportunidades de networking. Este ano, inclusive, o Brasil voltou a ter a maior delegação estrangeira no evento – são mais de 2 mil brasileiros inscritos.
Durante o festival, inteligência artificial (IA) foi tema recorrente nos painéis e mais ainda nas rodas de conversa entre os participantes. No painel The Universal Intern and Partner (O Estagiário e Sócio Universal), que teve a participação de Kevin Kelly, fundador da revista americana Wired, falou-se muito sobre o real objetivo da IA que, como muitos argumentam equivocadamente, não busca substituir o trabalho humano e sim auxiliar e otimizar o desenvolvimento das pessoas.
É claro que se estamos falando do trabalho braçal que independe de desenvolvimento cognitivo e criativo, de fato, a inteligência artificial junto da robotização surgem justamente para facilitar os processos. Mas o que os especialistas defenderam durante o painel é que questões que dependem da humanização, dos sentimentos e da percepção humana não podem e nem serão substituídas.
Apesar do termo ser muito utilizado, o conceito de inteligência artificial (IA) ainda é uma dúvida comum. Na prática, ela diz respeito ao uso da tecnologia para desenvolver soluções que imitem o “modus operandi” do ser humano. Além disso, ela faz parte da nossa realidade e está amplamente inserida no nosso cotidiano, em algoritmos e backends de ferramentas, como o reconhecimento facial do Facebook.
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Mas estamos vivendo uma nova onda dessa tecnologia. Depois do sucesso do midjourney e DALL-E 2, as ferramentas text-to-image que viraram sucesso em 2022, surgiu um novo gigante no mercado de IAs: o ChatGPT, criado pela empresa OpenAI, que acumulou 100 milhões de usuários em apenas dois meses, de acordo com o banco suiço UBS, se tornando a ferramenta digital com crescimento mais rápido da história, passando TikTok e Facebook, por exemplo.
A nova tecnologia é um modelo de linguagem baseado em deep learning, em português, aprendizagem profunda, um braço da inteligência artificial. A ferramenta funciona como um chat inteligente, analisando o texto que o usuário digita e, em seguida, utilizando técnicas de processamento de linguagem natural, gera respostas que se aproximam do que o usuário está procurando – de forma “surpreendentemente” correta. Simplificando, se alguém pergunta “Qual é a capital do Brasil?”, o ChatGPT usará seu conhecimento de geografia e linguagem para gerar uma resposta como “A capital do Brasil é Brasília”.
Mas não para por aí. A ferramenta consegue desenvolver respostas ainda mais complexas. É possível pedir que o ChatGPT responda perguntas subjetivas, ou crie, por exemplo, planejamentos de conteúdos e redes sociais para marcas. Com os comandos e informações corretas, essa tarefa será executada em poucos segundos. A ferramenta pode ainda escrever roteiros, criar materiais didáticos, scripts de programação e muito mais.
Mas o que esses modelos de inteligência artificial, baseado em geração de linguagem, estão criando? Como funcionam? No geral, estas ferramentas de inteligência artificial têm poder de síntese textual e estilos diferentes para a produção de conteúdo, isso porque reconhecem o estilo das escritas.
Mesmo com um banco de dados atualizado somente até 2021, o uso do ChatGPT teve um crescimento absurdo nos últimos meses, fazendo com que profissionais o aderissem como ferramenta de trabalho.
É importante ressaltar algumas polêmicas em relação a essa nova tecnologia. Primeiramente, por ser mais próximo de uma resposta “humana”, a ferramenta ainda apresenta respostas contendo erros e informações inconsistentes. E em segundo lugar, o medo de parte do mercado de trabalho se tornar obsoleta com essa nova tecnologia.
Sou contrário à ideia de que o ChatGPT vai tirar o emprego das pessoas. A meu ver, ferramentas como essas têm o poder de nos tornar mais produtivos. Isso porque a tecnologia não entrega o trabalho pronto, pelo menos não o de qualidade. Funciona mais como um insight, do qual podemos criar a partir de modelos sugeridos através de recorrência e simplicidade.
Por exemplo, vamos pensar na produção de um roteiro. A plataforma pode reescrever algo que já está pronto e mostrar outras possibilidades de abordagem para o assunto. Não será o texto final, mas sem dúvidas abrirá caminho para que outras possibilidades surjam.
Novamente, assim como anos atrás com o Google, estamos no precipício de uma nova era no que se refere à produção de conteúdo. Além do ChatGPT, há também o Bing, mecanismo de busca da Microsoft que comprou 49% da OpenAI para ter acesso à ferramenta, lançando o seu buscador com inteligência artificial e se tornando um potencial rival do Google, líder do setor, que por sua vez já anunciou seu próprio chat com inteligência artificial, o Bard, que deve ser lançado em breve.
Nesta semana, inclusive, a OpenAI anunciou o GPT-4, nova tecnologia por trás do ChatGPT. A atualização, 500 vezes mais poderosa que sua versão anterior, permitirá que IA também produza respostas a partir de imagens, vídeos, sons, números etc, e entregue informações ainda mais precisas.
Claramente estamos vivendo o início de uma revolução sobre nosso formato de trabalho, já está em curso uma corrida bastante acirrada entre as BigTechs para o aperfeiçoamento de ferramentas como esta. E vemos um grande fluxo de tecnologias chegando para facilitar nossas vidas, nos possibilitando produzir melhor e mais rápido, criando um fluxo de ideias e trabalhos nunca antes vistos. Um time de alta performance nos dias de hoje precisa dominar esse tipo de ferramenta, se não, já está atrasado.
Filipe Ratz é CEO e Diretor Executivo da Pira, empresa especializada na criação e realização full service de projetos, com foco no mapeamento de oportunidades e dados de consumo sobre a geração Z, cujo propósito é conectar marcas e comunidades digitais.
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