*Por Robson Del Fiol
Como costuma ocorrer na entrada de um novo ano, a maior parte dos investidores avalia tudo o que foi feito nos 365 dias anteriores, para começar o planejamento do ciclo que se inicia. No cumprimento dessa importante tarefa, os não familiarizados com o universo de startups não pensam duas vezes ante oportunidades de aporte de recursos no ramo, partindo da premissa de que é o momento de aplicar receita em tecnologias e ideias inovadoras. Entretanto, vemos alguns deixarem escapar algumas possibilidades, por elas não se encaixarem nas teorias criadas por eles. Quando isso ocorre, divulgam as perdas. Essa ação é chamada de antiportfólio.
Analisando a questão, cabe perguntar: o que explica o fato de investidores experientes deixarem escapar algumas das melhores oportunidades às quais tiveram acesso e a outros grandes projetos de retorno das cotas que lhes pertencem? A resposta é simples: as teses de investimentos. Mas, como podemos explicar tal fator? Cada investidor é obrigado a formar uma teoria baseada em premissas e experiências, que será norteadora para as ações essenciais. Porém, não se trata de um direcionador para prever o que acontecerá no futuro e sim apenas um indicador de possíveis caminhos.
Todavia, esse direcionamento dificilmente abrangerá o suficiente para capturar todas as experiências que estão ao redor. Assim, alguns investidores perdem possíveis oportunidades, pois elas não se encaixam nas teorias criadas. Diante disso, é muito comum que essas possibilidades sejam descartadas sem muito arrependimento. Esse antiportfólio é recorrente no Vale do Silício, nos Estado Unidos.
No mercado brasileiro, essa prática é pouco difundida. Às vezes, apenas em rodas de conversas algum investidor divulga as grandes oportunidades perdidas. Contudo, isso nunca acaba se tornando público. Mas, existe um questionamento. Por que anunciar a perda de uma oportunidade é importante? A resposta mais objetiva é que revelar esse tipo de informação faz parte da jornada de aprendizado do mercado, que ruma à maturidade e agrega conhecimento quando se compartilham conquistas e derrotas. Quando mais informação estiver disponível, melhor é para o ecossistema, proporcionando-se economia de tempo para outros investidores.
Considerando-se todas essas questões, é muito importante lembrar que a tese de investimento de uma instituição acaba criando restrições no mercado, e isso não quer dizer que a startup não conseguirá realizar aportes, mas sim que está buscando recursos em lugares errados. Entretanto, o portador de receita não pode pensar que esteja perdendo tempo. Afinal, se o empreendedor tem a oportunidade de apresentar a ideia é porque tem algum valor. O resultado da conversa pode sugerir uma indicação mais concreta do perfil do investidor e que faça mais sentido, rendendo feedbacks valiosos para ambos.
*Robson Del Fiol é sócio-diretor líder de Emerging Giants da KPMG no Brasil.