* Por Mayrá Casttro
Segundo dados do Sebrae de 2021, existem 720,542 empreendedoras no norte do Brasil, representando 8% do número de empreendedoras do Brasil. A maior concentração se encontra no estado do Pará com 376,366 empreendedoras, ocupando o oitavo lugar no ranking nacional e concentrando metade do número de empreendedoras de toda a região norte.
Mesmo representando uma parcela pequena do número total de empreendedoras do Brasil, a Amazônia representada pelo norte do país, possui certas peculiaridades. De acordo com o relatório do Global Entrepreneurship Monitor de 2014 sobre empreendedorismo no norte do Brasil, “as mulheres são mais ativas que os homens em termos de atividade empreendedora inicial”. A taxa de empreendedorismo inicial de mulheres também é superior à do Brasil e demais regiões, sendo 20,8% e 17,5% respectivamente, o que demonstra a potência de mercado das mulheres nortistas.
“Penso que as mulheres de diferentes regiões, principalmente daquelas com maior necessidade de investimento em políticas públicas e ações afirmativas, configuram no topo do Empreendedorismo Inicial”, afirma Isabelle Eleres, gestora do Programa Sebrae Delas no estado do Pará.
Segundo dados do PNAD 2021 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), o perfil de empreendedoras formais e informais no norte é predominantemente composto por mulheres pretas, pardas e indígenas, 71,6% e 79,7%, respectivamente. Já em âmbito nacional, o índice de empreendedoras formais pretas, pardas e indígenas cai para 35%.
Ainda em relação às peculiaridades do empreendedorismo feminino na Amazônia, existe o universo das comunidades tradicionais, cujos dados ainda são escassos. O programa Amazônia Que Inspira, programa de alavancagem de empreendedorismo feminino em comunidades tradicionais, identificou que 42% dos empreendimentos liderados por mulheres entrevistadas não possuem CNPJ, o que se torna o primeiro desafio de acesso a financiamento.
Mas existem casos excepcionais que conseguiram driblar o improvável. O caso da Elenilza Ribeiro, proprietária do restaurante Ilha Branca, em uma ilha em frente a Belém, é um aprendizado. Empreendedora ribeirinha há mais de 20 anos, ela não tinha CNPJ e conseguiu fazer uma expansão do seu negócio familiar sem acesso a crédito ou financiamento. O segredo está no desenvolvimento de parcerias que a dona Branca conseguiu estabelecer. Hoje, o Ilha Branca se tornou um complexo turístico de base comunitária que conta com restaurante, passeios, eventos e hospedagem em quartos muito bem estruturados, atendendo clientes locais e internacionais.
No universo das startups, dados da Associação Brasileira de Startups (Abstartups) de 2021 para o norte do país mostram que somente 10% são fundadas por mulheres, ao passo que a nível nacional, o percentual é de 20%. Na área da inovação, vale ressaltar o programa Mulheres Inovadoras Norte da Finep (empresa pública de fomento à inovação). Desde 2021, a Finep vem investindo recursos e treinamento em startups lideradas por mulheres. A primeira edição teve como ganhadora a foodtech manauara Konioca que conseguiu desenvolver um maquinário patenteado, com uma fórmula exclusiva de goma de mandioca em formato de cone.
São inúmeros os casos que podem ilustrar o cenário de empreendedorismo feminino na Amazônia. O que é notório é que há características próprias no ecossistema regional, tais como, a própria biodiversidade presente em vários setores econômicos e o perfil empreendedor feminino local. Resta saber se os mecanismos de fomento e financeiro contemplarão essa potência amazônica.
Nascida na Amazônia, em Belém do Pará, Mayrá Casttro é fundadora da empresa InvestAmazônia, advogada e designer de conexões e parcerias. Mestre em Direito Internacional e Europeu pela Universidade de Genebra, na Suíça, Mayra morou 6 anos na Europa e tem 15 anos de experiência em desenvolvimento de parcerias, design de projetos, tradução cultural e construção de equipes. É TEDx speaker, conselheira emérita do Capitalismo Consciente, conselheira consultiva, palestrante, embaixadora do Seedstars World no Brasil e jurada de competições de startups.
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