* Por Samy Mesnik
Como a tecnologia pode cooperar com o campo? Essa é uma missão desafiadora e estimulante, pois os avanços do conhecimento e o processamento computacional – que praticamente dobra sua performance a cada par de anos – deram saltos acelerados nas últimas décadas. Por outro lado, há que se respeitar o tempo da agricultura, das safras e entressafras, as condições climáticas e tudo aquilo que foge do controle humano. Logo, buscamos na tecnologia um importante aliado para obter mais controle no que podemos prever e mais autonomia nos possíveis pontos de ação.
Desde a revolução agrícola, evoluímos da mão de obra intensiva e de baixa produtividade, para o uso de sistemas de posicionamento e aplicação agrícola, biotecnologia, aplicativos e sensores móveis. Hoje nossas decisões são auxiliadas por imagens de satélites e drones, computação em nuvem, entre outros. Tudo isto em poucas décadas.
Neste sentido, a agricultura e a pecuária contam hoje com um extenso arcabouço tecnológico para otimização dos processos. Por exemplo, para suporte à agricultura de precisão, com o apontamento da quantidade ideal de defensivos a ser aplicada ou o monitoramento da atividade da pecuária com uso de internet das coisas (IoT). Tecnologias como controle e rastreabilidade por blockchain das commodities ou softwares de gestão agrícola são cada vez mais utilizados.
Chegamos à Agricultura 5.0 com uso intenso de inteligência artificial, robótica, biologia sintética e impressão 4D – na qual os produtos ganham adaptações ou modificações a partir do seu uso. Podemos fazer um exercício de imaginação: projetar a transformação que ainda está prestes a ocorrer com a chegada do 5G e do uso extensivo da internet nos processos agroindustriais.
Uma pesquisa recente da Embrapa aponta que 84% dos agricultores brasileiros já utilizam tecnologias digitais. Porém, este emprego ainda está baseado em funcionalidades básicas da internet como ferramentas de comunicação interna, contratação de serviços, pesquisa de preços de insumos ou mapeamento e planejamento das atividades.
A pesquisa destaca que a maior dificuldade reportada (67%) pelos produtores no emprego das tecnologias está no investimento necessário, à frente ainda da infraestrutura nas áreas rurais. Muitas alternativas de acesso ao crédito para produtores rurais estão emergindo a fim de reduzir esta distância. Além dos tradicionais financiamentos por órgãos públicos ou bancos, há iniciativas desde fintechs especializadas ao Fundo de Investimento do Agronegócio (FIAgro), cuja proposta foi aprovada recentemente no Senado Federal, e que abre possibilidades de novas modalidades de captações para o setor agropecuário e possíveis benefícios tributários aos investidores, assim como ocorre com outras classes de ativos financeiros.
A usabilidade das tecnologias tende a ser cada vez mais frequente e essencial para a atividade à medida em que se expande a capacidade de crédito aos produtores e amadurecem as soluções com base tecnológica para o campo. Outro fator catalisador deste fenômeno é a visão de inovação e de práticas sustentáveis das novas gerações de produtores rurais.
Podemos crer em genes cada vez mais resistentes a doenças e adversidades climáticas como intempéries, mudanças acentuadas de temperatura ou escassez de água? O monitoramento dos processos com responsabilidade social e ambiental será etapa imprescindível na escolha do mercado por seus respectivos produtos ou alimentos? Ou ainda, a automação rural poderá ensinar importantes aprendizados para a população urbana quanto ao aproveitamento das áreas verticais, uso de veículos autônomos e realidade aumentada? Mais respostas nos próximos capítulos.
* Samy Mesnik é Especialista em Investimentos na KPTL. Graduado em Administração pela ESPM e Mestre em Finanças pela FGV EESP com prêmio pela CFA Society, Samy tem mais de 11 anos de experiência em instituições financeiras e corporações como Grupo Boticário, L’Occitane e Banco Safra.