* Por Anna Palazzo
Inovação, segundo o dicionário Michaelis, é tudo o que é novidade, coisa nova. Palavra cujo significado é simples, direto e reto, mas que de uns tempos para cá parece ter sido atingido pelo tão conhecido raio “gourmetizador”, se distanciando de sua essência e se tornando algo complexo e caro.
Esse pensamento me veio à mente algumas semanas atrás, conversando com alguns colegas. Vivemos um período de grande especialização, e isso parece ter se refletido na nossa capacidade de inovar. Nas empresas, mais e mais áreas são segregadas com funções bastante específicas. E é bem comum, portanto, encontrarmos as ditas áreas com foco em inovação, com times especializados e direcionados para esse fim, lotadas de pessoas muito gabaritadas e diversos métodos e modelos mundialmente aceitos. Isso é ruim? De modo algum. Ao contrário, é muito alentador ver que há pessoas com a responsabilidade de criar novas coisas e novos paradigmas. O que me chama a atenção, e de certa forma me incomoda, é que, em muitos lugares, esse “mindset” fica restrito a um departamento específico e a temas como tecnologia, marketing e desenvolvimento de produtos. É como se as demais áreas relegassem ao time de inovação essa atividade tão importante, passando a executar apenas o seu trabalho operacional ou financeiro, por exemplo.
Bem, nesse sentido eu tive sorte e uma ótima escola. Trabalhei boa parte da minha carreira em empresas estrangeiras, e lá, desde sempre, se falava em inovação. Já na prática, o que víamos era uma série de regras e modelos direcionados para um departamento específico com esse fim. Mas, como disse, eu tive sorte, e fazia parte de um time de pessoas com um olhar muito fora do “status quo”, que não concordavam muito com essa segregação. O diretor dessa área era inspirador, e me lembro de ele sempre dizer que foram ideias simples que mudaram o curso da história. Que precisamos incentivar cada um, no dia a dia, independente se ele é do time operacional, financeiro ou de inovação, a olhar as atividades que ele executa de uma forma questionadora e diferenciada. A buscar soluções diferentes e mais eficientes para resolver um problema, e a “pensar fora daquela caixa” que o nosso cotidiano vai nos colocando.
E como estamos comemorando os 100 anos da semana de Arte Moderna, como não citá-la? Foram artistas e intelectuais que inovaram e quebraram paradigmas. Que nos lembram até hoje que (quase) sempre é tempo de mudarmos, de pensarmos diferente e, investindo na nossa criatividade, quebrar paradigmas.
Também gostaria de mencionar aqui uma cena do filme “Fome de Poder”, que retrata a história do McDonalds. O personagem do Michael Keaton perguntou a um dos fundadores da lanchonete como ele conseguia fazer os produtos tão rapidamente em sua lanchonete em San Bernardino, na Califórnia. A resposta foi sincronizar a produção, como em uma orquestra, onde todos sabem exatamente como fazer, e quando fazer. Fantástico, não? E ele só usou a cabeça e um cronômetro (e talvez umas fitas no chão para marcar onde cada um deveria ficar).
Sendo assim, olhando para esses exemplos, ouso dizer que para inovar precisamos de pessoas com vontade de fazer diferente, pensando de forma criativa, e implementando suas soluções. Métodos podem e devem ser vistos com muito bons olhos, mas não podem ser uma barreira que gere mais dificuldade nesse processo tão inerente à humanidade. Vejo que em muitas startups muita coisa está mudando e esse “mindset” veio com tudo, mas manter essa mentalidade quando a empresa começar a crescer e mais pessoas entrarem no time certamente será um desafio.
Bem, é isso. Que o dia-a-dia, as novas metodologias e as regras nos ajudem a ser mais focados, mas que não diminuam a nossa capacidade de inovar, assim como quando éramos crianças e fazíamos isso em um piscar de olhos.
Anna Palazzo é Head de Operações da Paketá Crédito, fintech membro do Cubo Itaú. É mãe da Marina e do Fred, e entusiasta de temas que envolvem inovação, eficiência e gestão de pessoas. Possui formação em Engenharia de Computação pela Unicamp e pós-graduação em Economia pela FGV.