* Por Orivaldo Primo
Uma pesquisa recente feita pela Abstartups e BR Angels perguntou a algumas startups quais eram suas prioridades para 2022. Para nenhuma surpresa, a mais votada com 47% foi aumentar receitas e vendas. Esse resultado não traz novidade, pois o que se espera de uma startup é justamente a escalabilidade. Dessa forma, crescer vendas e receitas vai ser sempre o principal desafio.
Nesta mesma pesquisa, a segunda prioridade mais votada, com 28%, foi justamente levantar fundos/captações. Daí a relevância do tema de fundraising para empresas em estágio inicial.
Para entender melhor o cenário atual de captação de recursos, precisamos voltar um pouco no tempo, em 2021 foram investidos aproximadamente R$ 53 bilhões, com o surgimento de 10 unicórnios no Brasil e as fintechs como principal destaque, ou seja, um ano de recordes históricos. O ano de 2022 começa com grandes desafios: inflação mundial, aumento da taxa de juros nos EUA com consequências no mundo todo e mais recentemente a guerra da Ucrânia com suas incertezas.
Este cenário faz com que os investidores de venture capital se tornem mais seletivos na escolha de projetos para investir, dessa forma a balança deu uma invertida e os valuations esticados que foram vistos até o ano passado estão com dias contados. Nesse sentido, modelos de negócios sustentáveis e resilientes e empreendedores mais maduros (no sentido de verdadeiramente conhecerem seus negócios e o mercado que estão inseridos) são diferenciais importantes na hora de obter algum tipo de aporte.
Para fazer frente a este cenário de desafios, listamos algumas tendências para as startups ficarem de olho:
ESG:
O tema ESG deve ganhar ainda mais espaço entre as startups, e com uma fatia maior de investimentos em 2022, segundo especialistas. Lembrando que já existem diversos fundos de investimento com parâmetros sustentáveis que norteiam boas práticas corporativas, tendência cada vez maior para os próximos anos.;
Govtech:
O Governo Federal tem como meta a digitalização de 100% dos serviços da Administração Federal até o final de 2022. O objetivo é se aproximar ainda mais do ecossistema de startups, e estimular vários projetos em busca de superar desafios nos serviços públicos;
Proptech:
O surgimento de novas tecnologias e aplicações vem se destacando e elevando o setor a outro patamar de eficiência operacional e especialmente, na experiência dos consumidores. Além de processos mais digitais, há um novo pool de serviços. O mercado se mostrou positivo em 2021 e a expectativa é que neste ano a curva de crescimento seja ainda maior;
Retailtech:
Mesmo após a abertura das lojas físicas, lojistas de todos os portes passaram a dar mais atenção para o digital, já que a compra online virou hábito para os brasileiros. Estima-se que 49% dos consumidores pretendem comprar ainda mais pela internet neste ano, segundo estudo elaborado pela Retailtech Bornlogic, em parceria com a Opinion Box.
Do ponto de vista do empreendedor, a escolha por investidores anjo nunca fez tanto sentido. Em cenários de dificuldades poder contar com alguém que possa abrir oportunidades de networking e validar produtos e serviços vale mais que o aporte financeiro apenas.
Além disso, fique atento ao captable ao longo das rodadas. Os fundos estão críticos ao avaliar planos de negócios com diluição importante de seus fundadores. Isso faz todo sentido. Nenhum investidor quer colocar recursos numa empresa cujo fundador possa estar desmotivado por ter uma participação pequena. Nesse sentido vale a pena também ficar de olho no Venture Debt, modalidade em que o investimento é feito com base no potencial de crescimento da startup e não no seu desenvolvimento passado. Isso permite mais fluidez na obtenção de recursos e não gera diluição. Claro, além destes pontos positivos vêm os negativos que é a assunção de uma dívida. No entanto, 42% das startups pretendem utilizar essa modalidade nos próximos anos.
Por fim, apesar dos desafios de 2022 o capital de risco continua existindo e com grande potencial. No estudo “Rota dos investimentos em Startups em 2022” feito pela JUPTER e Anjos&Vcs o dry poder – que trata do dinheiro que os gestores já levantaram, mas que ainda não foi alocado – triplicou de 2021 para 2022, saindo de R$ 5 bilhões para R$ 17 bilhões.
Realmente o céu não está para unicórnios, há quem diga que trata-se de deserto para camelos. Mesmo assim, existe capital disponível para as startups que souberem ler esse momento e demonstrar que realmente conhecem seu mercado, seu produto ou serviço e que tenham um time verdadeiramente que entrega resultados.
* Orivaldo Nardi Primo é sócio-fundador e Diretor de Operações da Valore Brasil