* Por Eduardo Cosomano
Guerra na Ucrânia, alta do petróleo, do dólar, da Taxa Selic e um cenário político caótico. Crises nacionais e globais impactam de diferentes formas empresas de diversos portes e segmentos, e com as startups não tem sido diferente. O que não faltam são notícias de demissões em massa e fuga dos investidores.
O contexto é o inverso do registrado em 2020 e 2021, quando as startups — protagonistas das soluções tecnológicas — representaram a luz no fim do túnel enquanto o mundo ruiu. Direta ou indiretamente, foram elas que, no auge da pandemia, proporcionaram trabalho à distância, deliveries, vendas online e logística, só para citar alguns exemplos, e mantiveram boa parte da economia funcionando.
Com seus benefícios materializados no cotidiano, choveu dinheiro, literalmente. Esses dois anos registraram recordes de investimentos e de fusões e aquisições, não só por parte de grandes empresas, como de startups em fases mais avançadas. Tinha a porta de entrada (juros baixos) e tinha a porta de saída para os investidores (alto interesse de compra dessas startups).
Agora, especialmente diante da alta da taxa Selic, o investidor foi buscar mares mais calmos. Sem dinheiro externo, muitas startups optaram por demissões em massa. Entendo que há de se falar sobre melhores práticas de gestão dessas empresas, que deveriam parar em pé em algum momento com capital próprio em cenários adversos. Talvez esse seja o próximo passo. Mas, hoje, gostaria de dar luz a uma outra questão: o verdadeiro potencial disruptivo dessas empresas.
Ninguém está voltando a alugar DVDs porque a Netflix está em crise. Ninguém está abandonando os aplicativos de viagens porque a Uber apresenta dificuldades. Ninguém vai voltar a pagar contas na fila do banco. Ninguém vai deixar de vender online. Ninguém vai sair do WhatsApp para procurar um orelhão. A ruptura provocada pelas startups é demasiado profunda e absolutamente imune a qualquer cenário econômico adverso. O que não quer dizer que elas não sintam o tranco ou que não tenham problemas internos que se tornam maiores em um cenário de escassez de capital. Elas têm problemas, falhas, mas não são uma moda passageira sensível ao cenário. Não são uma bolha.
Agora, é razoável considerar que houve excessos de valuations e expectativas, assim como há problemas de gestão e é hora de separar o joio do trigo. Há muito a ser feito, mas é das startups para frente. O futuro é a partir desse novo modelo, que se propõe a resolver problemas até então insolúveis ou mal resolvidos. Isso não deixará de ser fomentado e a tecnologia não vai deixar de evoluir, independentemente de qualquer contexto.