* Por Lorraine Lorene Felix
“Agora você é mãe”. Foi assim que as pessoas a minha volta começaram a me definir e foi assim que passei a me definir quando soube que estava grávida. Durante algum tempo, permiti que me definissem desta forma, hoje entendo que é um processo natural e que provavelmente acontece com todas nós, mães.
Porém as “vozes externas” que me dirigiam essa frase queriam na verdade dizer nas entrelinhas que: “Sua filha é sua prioridade” (como se eu não soubesse disso naquele momento). Até que precisei parar, pensar e olhar para dentro de mim e me perguntar: “Mas e eu?” e de repente me vi num misto de sentimento com ansiedade de voltar a ser quem eu era antes, o que a meu ver não existe a menor possibilidade, pois estamos em constante transformação.
Eu precisava transformar a frase: “Agora eu sou mãe” em “Agora eu também sou mãe”, e assim eu fiz. Me redescobri como mulher, profissional, e com as outras tantas versões que existem dentro de mim. E, sabe o que eu entendi de verdade? Que dias de exaustão e vontade de sumir, não me faziam menos mãe. Que ter vontade de ser notada pelas minhas ideias de uma forma geral e não apenas aquelas que incluem amamentação, desfralde ou adaptação escolar, não me fazia menos mãe.
Acredito que o maior desafio, para uma mãe, é conciliar talvez a vida profissional com a pessoal. E de repente me perguntei: e agora como ser tantas em uma só? Como agir sem deixar de dar zelo e cuidado à parte materna e ao mesmo tempo exercer minha profissão como médica de forma eficaz e com excelência? E com essa pergunta, me reinventei.
Nos dias atuais com o avanço tecnológico é possível graças às regulamentação da telemedicina pelo conselho federal de medicina (CFM) a realização de atendimento online. Com isso foi possível me ver, por meio desses avanços, ajudando outras pessoas, outros médicos e outros pacientes, com atendimento especializado, porém a longa distância, me vi conduzindo de modo remoto casos médicos de maneira síncrona, dentro da sala de emergência.
A perfeita sincronia entre enfermagem, o médico de plantão e a médica cardiologista a longa distância, aliada a uma tecnologia de simples utilização, torna imperceptível a distância de 1300km que separavam a sala de emergência e a casa de uma médica, mãe de uma menina linda de 02 semanas de idade.
E com tudo isso eu modifiquei aquela frase “agora eu sou mãe” em “agora eu também sou mãe “, porém uma mãe que vive num mundo moderno com acesso a novas tecnologias e opções, possibilitando tornar-me uma mulher mais humana, mais livre e mais feliz. The modern mama.
Lorraine Lorene Felix, 32 anos, é graduada em Medicina com especialização em Clínica Médica pelo Hospital Guilherme Álvaro (SUS-SP) e Cardiologia (Unifesp). Atualmente, é membro integrante da Doc4Doc, startup membro do Cubo Itaú, onde também presta atendimento a longa distância.