Artigo de Kleber Bacili, diretor-executivo da Sensedia.
Antes que você se pergunte “mas o que é um Hackathon?”, eu explico:
Hackathon vem da combinação de dois termos:
- Hacker: que na verdade não tem nada a ver com alguém que se utiliza de vulnerabilidades de programas e sistemas operacionais para invadir computadores, roubar senhas ou coisas do tipo, mas tem sim a ver com uma programação exploratória e divertida. E quando esses programadores se juntam em algum lugar para virar a noite programando (às vezes dias), aí entra o segundo termo:
- Marathon: jornada longa ou maratona na busca por um objetivo (sem maiores explicações aqui).
Resumindo: “Hackathons são eventos onde programadores se encontram para uma maratona de programação colaborativa”. Melhorou? Um hackathon pode durar um dia, um final de semana, ou até combinar desafios ou competições e durarem meses. O ambiente é sempre descontraído, o público, jovem, e a comida, a que puder ser saboreada ao mesmo tempo em que se programa sobre o teclado.
Ok, mas a essa altura você deve estar pensando que isso só se aplica a empresas como Facebook ou Google e só funciona em ambientes como o Vale do Silício na Califórnia. Aí é que você se engana, pois embora esses eventos sejam sim, uma “febre” nos Estados Unidos, eles vêm se tornando cada vez mais populares no Brasil também.
Então, por que fazer um hackathon? É possível dizer que existem pelo menos três principais motivos:
1) Inovação e teste de produtos e conceitos:
Muitas empresas buscam obter feedback e otimizar seus produtos ou mesmo testar a viabilidade de novos conceitos. Elas incentivam a experiência e interagem com os desenvolvedores enquanto eles integram e usam os produtos. Um bom exemplo foi o “Glass Foundry”, promovido pelo Google em fevereiro de 2013. A proposta era utilizar o conjunto de ferramentas para desenvolvedores (SDK) e a API disponibilizada pelo Google na busca de novos usos para o Google Glass. O resultado foi impressionante: aproximadamente 80 novas possibilidades em dois dias. Parece que deu certo!
A Sensedia, a Sendgrid e a aceleradora de empresas 21212 organizaram um Hackday em setembro no Rio de Janeiro. Algumas APIs foram expostas, os participantes se organizaram em equipes e apresentaram, no final, suas ideias inovadoras com protótipos muito interessantes.
2) Fortalecimento de marca: “Branding”:
Sim, algumas empresas investem muitos recursos nesse tipo de evento e, com certeza, não é sem motivo. Muitas delas querem, principalmente, ampliar seu “share of mind”, tornando sua marca ou produto mais conhecido (especialmente entre os desenvolvedores) e aguçar a percepção de valor dos mesmos. O objetivo é que os desenvolvedores se lembrem dessas marcas, queiram trabalhar com elas desenvolvendo aplicativos e usando suas APIs e associem tal marca a uma experiência única e, porque não, sensacional!
No último hackathon promovido pela Salesforce, a empresa forneceu acesso a informações que não são usualmente abertas – demonstrando confiança nos desenvolvedores – e ainda deu um prêmio de US$ 1 milhão para os ganhadores. Com um prêmio assim fica difícil não ficar de olho nessa empresa, concorda?
3) Atração e recrutamento de talentos (os melhores, por favor):
Recrutar os melhores talentos é um desafio e tanto. Quando o assunto envolve tecnologia, análise de currículos recheados de siglas e entrevistas passam longe de ser suficientes para descobrir se a aposta em determinado candidato é certeira. Bom, e por que não fazer um teste “on the fly” com ele e verificar se, no final do processo, ele conseguiu efetivamente entregar resultados surpreendentes? Foi assim que a CI&T, uma das maiores empresas brasileiras de tecnologia, realizou o seu processo seletivo para o programa de estágio 2014. Uma forma inovadora de buscar talentos, alinhada ao estilo e aos produtos da empresa.
Em 2013, muitos hackathons aconteceram no mercado brasileiro, não só de grandes empresas como Google, Evernote, Sendgrid e Mercado Livre, mas também de empresas menores e, surpreendentemente, órgãos governamentais como a Secretaria de Transporte de São Paulo (SPTrans), a Câmara dos Deputados e a Prefeitura de Belo Horizonte – imagino que inspirados pelo caso sensacional da Prefeitura de Nova York.
O momento de adotar um hackathon como parte de uma estratégia maior depende de algumas questões que as empresas precisam ter em mente para não saírem frustradas dessa experiência. Por exemplo, um hackathon precisa ser bem pensado para atingir seus objetivos. A atratividade e a divulgação do evento são partes fundamentais para que seja um sucesso. Independente do seu objetivo é importante ter um background técnico bem estruturado com informações disponibilizadas da forma correta (preferencialmente através de APIs), um local apropriado (um ambiente “cool” cai muito bem), conexão rápida com a internet é fundamental e não se pode esquecer o “combustível”: pizza e energético são quase que obrigatórios nessas maratonas.
Uma última dica: procure parceiros que tenham experiência com hackathons ou que gerem atratividade para os desenvolvedores: empresas com marcas reconhecidas e especialistas técnicos são sempre boas pedidas.
Agora só falta organizar o seu.
Até a próxima!
Artigo de Kleber Bacili, diretor-executivo da Sensedia. Formado pela Unicamp e com MBA em Gestão Empresarial pela FGV, possui mais de 10 anos de atuação em desenvolvimento, arquitetura de software, componentização e reutilização. Atuou por mais de sete anos em projetos de missão crítica para grandes corporações e foi responsável pela definição dos novos produtos da empresa. É também docente em cursos de pós-graduação em SOA e Web Services na Unicamp e IBTA.