* Por Exame.com
“O que ia acontecer em um período de cinco anos aconteceu em cinco dias”. É assim que Hélio Sá, fundador e presidente da Inpartec, define as intensas semanas que o mundo corporativo brasileiro vivia em meados de abril, quando conversou com a Exame.
Fundada em 2011 e com mais de 100 funcionários, quase todos de tecnologia, a Inpartec é responsável por criar o chamado hub de trabalho das empresas. Em um mesmo ecossistema, ficam centralizadas ferramentas como messageria, videoconferência, aplicativos de produtividade e interface para trabalho remoto, todo o aparato digital necessário para as atividades diárias no escritório. O serviço não existe necessariamente para o home office: a ideia é organizar e otimizar os sistemas de trabalho para melhorar o conforto do funcionário e a produtividade da empresa como um todo.
Mas, desde que o Brasil começou parcialmente seu processo de isolamento social, no fim de março, o telefone de Sá não para de tocar. O empresário afirma que a demanda subiu na casa dos 30% semana a semana — mais que dobrando em um mês, durante as primeiras semanas da quarentena.
Mesmo antes do coronavírus, a Inpartec já atendia clientes como a adquirente Cielo, a mineradora Vale, a operadora de telefonia TIM, a operadora de saúde SulAmérica e as empresas de alimentos BRF e Coca-Cola. Em 2019, a empresa faturou quase 20 milhões de reais. A expectativa é crescer 25% neste ano, chegando a 25 milhões de reais.
Antes da pandemia, para vender seus serviços, a Inpartec focava o discurso na melhoria da experiência do funcionário e no aumento da produtividade das empresas. Agora, a qualidade do trabalho e a produtividade seguem sendo um ganho, mas marginal: o modelo digital virou questão de sobrevivência.
“A dificuldade de cada empresa neste momento é proporcional a onde ela estava nesta régua da transformação digital”, diz Sá.
O executivo acredita que a ruptura causada pelo coronavírus tirou o que chama de “muleta” da média gerência, que ainda era reticente não só ao trabalho remoto mas às ferramentas digitais como um todo. “Todo mundo está sofrendo. Mas, para quem estava para trás na digitalização, a ruptura que aconteceu no modelo de trabalho foi brutal.”
Bagunça de ferramentas
Sá afirma que um problema muito comum nas empresas, mesmo antes da pandemia, era que muitas já começavam a digitalizar o trabalho, mas não de uma forma organizada.
Era comum que empresas tivessem licenças de diversos softwares diferentes, que não faziam sentido para os colaboradores ou que eles não sabiam usar. “Essa pluralidade de sistemas foi uma bagunça com a qual a gente se acostumou a trabalhar, porque tinha o colega do lado. Só que agora o sistema precisa funcionar de fato”, diz Sá. “O nosso papel é pegar esse emaranhado de dezenas de ferramentas e entregar só os benefícios.”
Nas empresas clientes da Inpartec, o chamado workplace digital [ou local de trabalho, em inglês] é adaptado para as necessidades de cada companhia, usando algumas das centenas de programas disponíveis no ferramental da Microsoft.
O objetivo final é tornar o trabalho mais simples, realizando várias tarefas no mesmo sistema e, de preferência, na mesma tela. Não deveria ser preciso, na visão da Inpartec, “parar o trabalho” e abrir uma série de telas e comandos diferentes para verificar mensagens do departamento de recursos humanos, por exemplo.
Diversos estudos mostram que, quando um funcionário é obrigado a mudar de interface o tempo todo — usando diferentes ferramentas para o mesmo fim, por exemplo –, o cérebro leva vários segundos somente para se adaptar às trocas constantes. “A empresa gasta, gasta e gasta com tecnologia e, no fim, a mensagem não chega na ponta. É como comprar uma caixa de ferramentas gigantesca e não saber usar”, diz Sá.