* Por Carlos Mira
Nas últimas cinco semanas acompanhei uma digitalização de empresas do setor de transportes e logística mais intensa do que nos últimos cinco anos. Pode parecer exagero, mas o fato é que a necessidade de distanciamento social, provocada por um momento crítico de pandemia global, levou a uma corrida por ferramentas e plataformas que permitam a continuidade dos negócios sem o contato físico.
A boa notícia é que muitas soluções já existem e foram ‘finalmente’ encontradas. Desde a organização do home office, reuniões de equipe, divisão de tarefas, até questões mais específicas como as necessidades do setor de transporte e logística.
É no meio de uma crise que novamente somos lembrados da relevância imprescindível do transporte rodoviários de cargas no Brasil. Poucos dias após a determinação da quarentena e já se falava no medo do desabastecimento, de produtos essenciais sumindo das prateleiras e da necessidade de intensificar o transporte de suprimentos de saúde.
Felizmente, nosso setor segue firme, com trabalhadores dispostos e ativos nas rodovias do país, e a sociedade não corre o risco de ficar sem recursos e produtos nas prateleiras de farmácias e supermercados.
Além dos caminhoneiros, as empresas do setor também continuam operando para garantir o abastecimento. Muitas já haviam até começado seu processo de digitalização, muitas vezes com um foco apenas no atendimento ao cliente, com o WhatsApp substituindo de forma crescente a telefonia. Mas, até então, eram raras as empresas que digitalizaram também as operações no relacionamento com os fornecedores e parceiros.
Para indústrias, atacadistas e transportadoras, a contratação de caminhoneiros autônomos até pouco tempo atrás se dava de forma verdadeiramente arcaica. Funcionários precisavam circular por pátios de estacionamentos, postos de gasolina e terminais de cargas em busca desses profissionais, muitas vezes levando horas e dias para se concluir essa missão. Ainda que não existisse o cenário de isolamento social, seria uma tarefa desgastante, custosa e muito lenta.
Para isso, já existem ferramentas que atuam na otimização de tempo e recursos desses profissionais, oferecendo a localização, contratação e gestão de caminhoneiros autônomos de forma totalmente digital, assim como outros players do mercado, de rastreamento, gestão de riscos e seguro, por exemplo, oferecem soluções digitais.
Olhando para frente, sairemos dessa crise diferentes, como indivíduos e como empresas. Que levemos de positivo, no fim das contas, uma aceitação maior à modernização e aos serviços digitais, que vão nos permitir alocar tempo e recursos a áreas que realmente necessitam de atenção para que as empresas tenham melhor performance.
Que a gente renove também o respeito e a consideração com todos os profissionais da cadeia de logística, que permitem a nossa sobrevivência mesmo em tempos sombrios e que renovemos também a nossa esperança, pois temos visto a solidariedade e as boas ações florescerem, tão contagiosas quanto o próprio vírus que enfrentamos.
Nas últimas semanas as rodovias se encheram com distribuições de refeições, kits de higiene e até tags de cobrança automática, para evitar o contato humano o máximo possível. Empresas e indivíduos têm feito doações e ajudado como podem os trabalhadores que mantém o país funcionando, enquanto os que podem ficam em casa, fazendo sua parte. Seguimos juntos, e cada vez mais digitais. Ou é isso ou nos contaminamos!
*Carlos Mira é fundador e CEO do TruckPad, plataforma de conexão entre caminhoneiros e cargas e tem 35 anos de experiência no setor de logística. Foi presidente da ASLOG – Associação Brasileira de Logística e eleito “Personalidade do Transporte do Ano” pela Confederação Nacional do Transporte (CNT). É autor do livro “Logística, o Último Rincão do Marketing”.