* Por Diogo Catão
As govtechs, startups cujo propósito é desenvolver soluções focadas no poder público, levar inovação para a gestão pública e contribuir na economia de recursos por intermédio de soluções tecnológicas, estão em ascensão e cada vez mais presentes na agenda setting.
Historicamente, nossa sociedade enfrenta uma série de problemas complexos e que nunca são resolvidos em sua totalidade: fome, pobreza, corrupção, saúde e educação pública deficitárias, violência urbana, desigualdade social e de renda, mudanças climáticas e destruição dos recursos naturais, conflitos e guerras, falta de oportunidade de emprego, opressão e discriminação de minorias etc. Diante disso, muitas govtechs buscam criar inovações de impacto social, que objetivam, justamente, amenizar esses problemas e fazer parte de um trabalho coletivo e necessário para essa transformação.
Vi uma pesquisa divulgada pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, fundação pública federal vinculada ao Ministério da Economia) dividindo os beneficiados por essas inovações em dois grupos: as inovações voltadas às demandas de parte expressiva da sociedade (desafios da sociedade) e as demandas de grupos socioeconomicamente vulneráveis da população. Assim, é possível ver novas soluções inovadoras surgindo para contribuir com os serviços oferecidos pelo poder público e, consequentemente, impactar na vida da sociedade.
As govtechs e suas soluções trazem relevância tanto para o setor quanto para a população. Sua transformação digital possibilita que as instituições públicas facilitem seus processos e façam com que as demandas sociais sejam atendidas sem burocracias, de forma mais rápida, ágil e, muitas vezes, remotamente. Isso acaba aumentando a satisfação da população diante dos governos, pois os cidadãos podem enxergar, facilmente, as melhorias que estão sendo proporcionadas por seus representantes.
Ilustrando isso, o GESUAS é um software para assistência social, e foi a primeira startup colocada do setor Govtech no ranking 100 Open Startups de 2020. Ela foi responsável por criar o primeiro prontuário eletrônico para a política de assistência social, contribuindo com o monitoramento e diagnóstico dos principais desafios e necessidades das famílias de dezenas de municípios brasileiros. Atua ajudando o SUAS (Sistema Único de Assistência Social) na missão de retirar pessoas de situações de risco ou vulnerabilidade social.
Em linhas gerais, as govtechs modernizam os processos internos das prefeituras e governos estaduais e federal, melhorando assim seu nível de entrega para a população. Desta forma, enxerga-se uma colaboração entre as startups e o setor público para uma melhora do governo, que muitas vezes não consegue suprir as demandas da população, se tornando um caminho para a gestão e melhorias, e deve sempre ser buscado justamente para substituir, positivamente, os serviços ineficientes e ineficazes.
Falando em melhorias, há diversas tecnologias e ferramentas que podem e estão sendo utilizadas para explorar melhor os problemas apresentados pelos órgãos públicos, tais como: cloud computing, inteligência artificial, smart cities, Internet das Coisas (IoT), comunicação omnichannel, ferramentas de gestão e automação de processos e projetos, entre outras. Essas tecnologias contribuem na proteção e privacidade dos dados dos cidadãos; para melhorar a comunicação do governo com a população através de canais, de forma simples, rápida e intuitiva; na precisão e performance do governo diante dos serviços que ofertam; na segurança pública, com aplicativos de rastreamento e alerta em casos de emergência; na educação pública, com sistemas que criam ambientes virtuais para o aprendizado de forma remota; em sistemas de gestão de atendimentos em postos de saúde, clínicas e hospitais etc.
Toda tecnologia e inovação que vem sendo criada para facilitar a rotina das pessoas, processos das empresas e resolver problemas sociais, podem e devem ser utilizadas pelo poder público para que haja um melhor atendimento das demandas e necessidades da população.
Em resumo, as govtechs têm impacto social completo, direta e indiretamente, e atuam em todas as camadas da população, visto que as soluções ofertadas atingem tanto os processos internos dos órgãos de gestão pública quanto os serviços ofertados para todos os cidadãos.
As inovações tecnológicas transformam nosso modo de ver o mundo diariamente. Novos modos de se relacionar, novas ferramentas de trabalho, melhorias em saúde e segurança, além de diversos outros âmbitos modificados por esses novos dispositivos.
As Govtechs contribuem para o avanço digital do setor público e impactam positivamente a vida da população, trazendo mais economia, transparência, segurança e recursos para que eles sejam retornados aos cidadãos. A evolução desse modelo de startup ainda está tímida comparada ao seu potencial de crescimento, visto que seu impacto social é alto e as demandas vêm correspondendo às expectativas. Vamos continuar acompanhando e monitorando esse crescimento nos próximos meses e contribuindo para o desenvolvimento desse ecossistema.
Diogo Catão é CEO da Dome Ventures, Corporate Venture Builder focada em Startups Govtech, lançada em Setembro de 2021 e já com grande captação de recursos financeiros em duas rodadas, com 26 investidores.