As mudanças climáticas causadas pelos seres humanos são irreversíveis. É o que diz o relatório Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), publicado em 2021 pela ONU. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), o planeta está agora cerca de 1,2°C mais quente do que no século XIX, e a previsão indica que, caso não haja uma redução drástica nas emissões de gases que agravam o efeito estufa, nos próximos 20 anos a temperatura do planeta pode aumentar pelo menos 1,5ºC.
Um dos fatores que contribuem com o aquecimento global, resultando nas rápidas mudanças climáticas que estamos vivendo, é o desperdício de alimentos. Segundo a ONU, estima-se que entre 8% e 10% das emissões globais de gases de efeito estufa estão associadas a alimentos desperdiçados. E de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), 10% do desperdício acontece ainda no campo, 50% no manuseio e transporte, 30% na comercialização e abastecimento, enquanto 10% nos supermercados, restaurantes e residências.
O principal fator que causa o aumento dessas perdas é a preferência por alimentos esteticamente “perfeitos”. Visando conscientizar os consumidores quanto ao não desperdício, Roberto Matsuda e Nathalia Inada, criaram a Fruta Imperfeita, startup que vende frutas fora do padrão e descartadas pelo mercado através de serviço por assinatura.
“Antes de criarmos a Fruta Imperfeita, víamos o problema que os pequenos produtores enfrentavam em relação ao acesso ao mercado para vender os seus produtos, conversamos com os produtores para entender como podíamos ajudar e percebemos que a dor deles era a mesma: os alimentos fora do padrão estético”, comenta Roberto Matsuda, cofundador da empresa. “A startup surgiu para mostrar para o consumidor final que esses produtos estão em boa condição para consumo. Queremos dar voz aos produtores e conscientizar as pessoas.” continua.
Sobre a relação da startup com os produtores, Matsuda explica que a Fruta Imperfeita é uma distribuidora e um atacadista. “Procuramos principalmente os pequenos produtores do entorno de São Paulo e verificamos quais são os produtos que eles não estão conseguindo vender, seja devido à padronização ou até mesmo pelo produto não estar na época de safra, causando uma diminuição nas vendas. Então contatamos esses produtores e buscamos esses produtos descartados.” O fundador ainda explica que essa forma de negócio também beneficia o pequeno produtor, porque os alimentos cultivados que seriam descartados — mesmo que em boas condições para consumo —, são comprados e revendidos pela Fruta Imperfeita, gerando uma renda extra aos agricultores.
Desperdício de alimentos x Consumo consciente
Matsuda, também compartilhou com o Startupi alguns números sobre o quanto a startup contribuiu até o momento para frear o desperdício de alimentos. “A fruta imperfeita tem 6 anos e na grande São Paulo conseguimos vender e doar mais de 2.500 toneladas de frutas e legumes que seriam jogadas no lixo, hoje contamos com mais de 2 mil clientes que mensalmente compram conosco cestas que contêm produtos selecionados por nós, além de algumas instituições para a qual conseguimos fazer doações. Também conseguimos reutilizar mais de 150 mil caixas de papelão para reduzir o uso de sacolas plásticas.”
De acordo com um relatório lançado em 2021, pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o Brasil está entre os países que mais desperdiçam alimentos. Cerca de 17% dos produtos disponibilizados aos consumidores foram desperdiçados em 2019, mas Matsuda alega que esse número pode ser ainda maior. “Com relação aos dados do PNUMA realmente o desperdício fica em torno de 17%, mas a perda de alimentos no Brasil pode chegar a 30%, porque muito desses produtos não chegam a sair do campo, por este motivo não entra na contabilização desses dados.”
O CEO ainda alerta que o não desperdício de alimentos influencia muito na situação econômica e na sustentabilidade principalmente no agronegócio. “De maneira geral, olhar para o não desperdício é olhar para uma agricultura mais sustentável e mais igualitária, porque grandes produtores mesmo com o desperdício conseguem viabilizar seus negócios o que não acontece com os pequenos produtores.” comenta.
De acordo com Roberto, a conscientização é uma das formas para ajudar a mudar esse cenário. “Mostrar para o consumidor o impacto negativo que o desperdício gera, fazendo com que ele repense sua forma de consumo, é essencial. Então, para transformar essa realidade, o primeiro ponto é que a pessoa não jogue o alimento no lixo, não deixe sobrar no prato e compre de maneira consciente, pensando na quantidade que será consumida.”
Para os próximos meses, o foco da startup é continuar investindo no crescimento da empresa. “Estamos há oito meses atuando no setor de bares e restaurantes e temos crescido bastante, então queremos nos consolidar no mercado, porque enxergamos que assim iremos conseguir aumentar positivamente o impacto na vida dos produtores. Além disso, queremos melhorar muito a nossa área de tecnologia, que já está presente no nosso negócio por meio da nossa plataforma, para isso queremos ter uma equipe própria trabalhando nessa área, para melhorar a experiência do cliente.” finaliza.
* Foto de destaque/Créditos: Time da fazenda de orgânicos, Santa Adelaide.