* Por Eduardo Tardelli
Criado pelo psicanalista alemão Herbert Freudenberger em 1974, o termo burnout caracterizava uma reação de esgotamento profundo nos profissionais da saúde que lidavam com dependentes químicos. O mais curioso foi que a primeira pessoa que o psicanalista diagnosticou foi ele mesmo. Da década de 1970 para cá muitas coisas mudaram, inclusive como a sociedade encara o burnout: hoje a síndrome entra na Classificação Internacional de Doenças (CID) feita pela OMS.
De acordo com a ISMA-BR, International Stress Management Association, mais de 33 milhões de pessoas sofrem com a síndrome de burnout no Brasil. E as mais afetadas são as mulheres: 42% delas sofrem de esgotamento, de acordo com pesquisa realizada pela Women in the Workplace 2021, feita pela consultoria McKinsey & Company e pela organização LeanIn. Uma das explicações para este fenômeno é a administração de uma jornada dupla de trabalho. A pandemia agravou ainda mais este cenário, uma vez que o ambiente doméstico invadiu o espaço corporativo – as obrigações domésticas ficaram mais evidentes que são injustamente feitas, em sua maioria, por mulheres.
Ao ser considerada uma doença ocupacional e não mais apenas um problema de saúde mental, o Burnout demonstra ser algo muito maior do que apenas um cansaço após uma semana puxada de trabalho, que pode ser contornada com um final de semana bem descansado. O problema vai nas raízes das interações de trabalho, na forma com que ele é realizado, a forma com que a gestão lida e como a empresa traz a responsabilidade para si. O esgotamento de um colaborador é problema de toda a cadeia produtiva – se o compliance percebe que há funcionários sobrecarregados, com queda na produtividade ou tirando licenças médicas com frequência, é o momento de rever como andam os processos da empresa.
Juntamente com o trabalho remoto, surgiram questões nunca vividas antes, como a fusão da vida pessoal com a profissional – e isso não é um problema. Cabe à empresa entender esse novo modelo, ser mais flexível e ouvir seu colaborador – mesmo que seja remotamente.
Eduardo Tardelli é CEO da upLexis, empresa de software que desenvolve soluções de busca e estruturação de informações extraídas de grandes volumes de dados (Big Data) da internet e outras bases de conhecimento.