Não é segredo para ninguém que o smartphone virou item de uso essencial nos últimos anos. Mais que isso: nos acostumamos a trocar de aparelho a cada dois, três anos, muitas vezes sem que o celular anterior esteja com algum defeito, deixando-o esquecido no fundo da gaveta. Para os fundadores da Doji, esses eletrônicos postos de lado têm muito valor: afinal, eles podem não só servir a outras pessoas, mas também ajudar a reduzir o impacto ambiental. É por isso que o experiente trio Fernando Montera Filho, Satyen Fakey e Bilal Khan criou a startup, que pretende transformar o mercado global de produtos usados, inspirada em um modelo de bolsa de valores e com forte uso de machine learning.
Nesta semana, a empresa, que começou a operar no Reino Unido no 1º semestre de 2021, anunciou sua primeira rodada de investimentos, de US$ 3 milhões e liderada pela firma de venture capital Canary. A rodada teve ainda a participação de uma série de instituições, anjos proeminentes e fundadores de unicórnios com experiência em marketplaces, bens de consumo e serviços financeiros. Os investidores adicionais incluem Norte Ventures, 1289 Capital, general partners da Brasil Capital e Shift Capital, bem como anjos como Lucas Medola (CFO do PayPal LatAm), Eduardo Alcalay (CEO do Bank of America Brasil), fundadores da Mobly e senior partners atuais e anteriores da consultoria McKinsey.
Os recursos da rodada estão sendo utilizados para fortalecer a operação da empresa em seu primeiro mercado, o de telefones celulares, mas a ambição da Doji é de ter escala global e atuar em diferentes verticais. “Nossa tese central é que há uma tremenda oportunidade de desbloquear imenso valor econômico e ambiental ao facilitarmos a compra e a venda de bens usados, em uma renovação do e-commerce tradicional”, diz Fernando Montera, CEO da Doji. “Para isso, usamos ciência de dados e tecnologias modernas em modelos de negócios já comprovados há mais de um século, como o das bolsas de valores. Na Doji, temos o compromisso de transformar o e-commerce e permitir que o comprador, o vendedor e o planeta prosperem.”
Como funciona a Doji
Baseada em forte uso de data science, a plataforma da Doji busca otimizar a tomada de decisões por compradores e vendedores de produtos usados, oferecendo preços de produtos atualizados em tempo real e com informações direcionadas a cada usuário. O processo é fácil, confiável e sustentável, e o marketplace pode ser acessado por aplicativos iOS e Android, bem como via web. Na prática, a ferramenta permite que indivíduos e empresas comprem ou vendam produtos usados, verificados pela Doji, diretamente entre si com total transparência e a preços justos, já que tanto a demanda quanto a oferta podem ser vistas em tempo real, de modo semelhante a uma bolsa de valores.
“Só no Reino Unido, há bilhões de libras em telefones celulares usados em gavetas, o que consideramos poder de compra represado”, diz Montera. “Um novo telefone pode custar £ 1.000, enquanto a renda familiar anual estimada no Reino Unido é de £ 30.000. Isso torna a compra de um dispositivo de 1 ou 2 anos de idade — com basicamente a mesma funcionalidade de um modelo mais recente, mas a um custo 30% -50% menor, — uma proposta muito atraente. A oportunidade é ainda maior quando você considera países com PIB per capita mais baixo, que são mercados-alvo naturais para a Doji, não só pela oportunidade, mas também pela experiência da equipe fundadora e da base de investidores”, acrescenta Montera. “Acredito que os consumidores desses mercados teriam grande apreço em recuperar esse poder de compra represado.”
Na Doji, os produtos usados são comercializados de acordo com a sua condição, por meio de classificações fáceis de se entender, e a qualidade é verificada pela Doji, o que fornece confiança instantânea ao comprador. Perfis e imagens de produtos pré definidos permitem que os vendedores publiquem anúncios em segundos, respondendo a apenas algumas perguntas sobre a condição do produto. Eles podem, então, oferecer seu próprio preço de venda, ou optar por vender imediatamente “a mercado”, tomando o maior lance dentre os compradores interessados naquele momento. Em seguida, os vendedores podem enviar os itens vendidos do conforto de seu sofá, usando o serviço de coleta doméstica da Doji.
Do outro lado, os compradores sempre veem o preço mais baixo para o item pesquisado. Caso achem que o valor ainda não é bom o suficiente para uma compra imediata, podem fazer um lance, definindo seu próprio preço de compra, e aguardar até que algum vendedor aceite. Os lances de compra são anonimamente registrados em books de oferta transparentes, proporcionando flexibilidade de se comprar pelo preço e tempo que lhes convém. Ofertas e lances, juntamente com o histórico de preços de transações, são acessíveis a todos os usuários em tempo real. Essa funcionalidade tem dois benefícios: otimiza a descoberta de preços, ao mesmo tempo que resolve o problema de se precificar de maneira justa os itens usados. Assim, como uma negociação simples e muito mais líquida, os produtos usados passam a ter seu ciclo de vida prolongados, evitando assim a manufatura desnecessária de produtos novos e impactando positivamente o meio ambiente com a redução da pegada de carbono, do uso desnecessário de recursos naturais e do descarte prematuro de produtos tecnológicos.
Os algoritmos da Doji usam milhões de dados públicos e privados, para ajudar os usuários a fazerem ofertas e lances mais assertivos, com base no “tempo estimado para o match”, permitindo a melhor execução do negócio (ou seja, a um preço e tempo que melhor se adapte ao usuário). Consequentemente, os usuários passam a ter controle total de suas decisões de compra ou venda, ao passo que sempre transacionam no valor mais justo.
“Produtos usados, como dispositivos tecnológicos, incluindo telefones celulares, evoluíram para um status que poderíamos chamar de commodities modernas. No entanto, ao contrário de commodities tradicionais, como café ou açúcar, a diferença entre os preços de compra e venda desses itens é extrema, prejudicando os consumidores finais e desestimulando a demanda e a oferta ”, disse Khan, cofundador da Doji. “Dada a atual fragmentação de oferta e demanda, falta de transparência de dados e assimetria de informações sobre a qualidade do produto e preço, essas commodities modernas são negociadas em mercados descentralizados e com muita fricção, onde comprador e vendedor acabam tendo decisões de transação abaixo do ideal.”
Além disso, a obsessão de nossa geração por produtos novos está custando caro para o planeta. Nossos hábitos estão criando um grande problema, pois a cada ano jogamos fora milhões de dispositivos eletrônicos, que acabam em aterros sanitários e poluem o meio ambiente. “Precisamos cada vez mais defender a economia circular, buscando formas de ajudar os consumidores a reduzir a quantidade de lixo que produzem e o impacto de seu consumo na natureza”, afirma Fakey. “A Doji está empenhada em fazer sua parte na promoção da sustentabilidade, tornando os produtos usados tão valiosos quanto um novo que acabou de sair da loja.”
Fundadores experientes com histórico de sucesso
Fernando Montera Filho, Bilal Khan e Satyen Fakey, se conheceram durante o mestrado na Universidade de Oxford, onde começaram a desenvolver a empresa. Montera, formado em Engenharia Mecânica e Naval pela Escola Politécnica da USP, é um empreendedor em série. No início da década, fundou a Becommerce, startup que foi adquirida pelo Mercado Livre em 2017, onde liderou os esforços de planejamento e inteligência logística entre 2019 e 2020. Depois, ele vendeu sua segunda empresa, Hubster, para uma grande empresa da Califórnia, nos EUA.
Já Khan iniciou sua carreira no Goldman Sachs e possui quase duas décadas de experiência em várias áreas do setor financeiro. Ele liderou investimentos de bilhões de dólares em private equity, growth equity e renda fixa em mercados públicos e privados, em diversos setores da indústria e em quatro continentes. O terceiro cofundador da Doji, Fakey, é um empreendedor experiente, tendo desenvolvido sua expertise em marketing e operações de e-commerce na Trimcraft, empresa que fundou e liderou no Reino Unido, tendo a transformado em um negócio de receita de vários milhões de libras, com uma base global de clientes.
“Depois de resolver problemas complexos em e-commerces, marketplaces e mercados financeiros, a ideia que nos motivou a criar a Doji foi resolver as enormes ineficiências de preços, de informações e de experiência do usuário que existem atualmente nos marketplaces de produtos usados, e fazer isso aplicando o modelo já validado do mercado financeiro ”, diz Montera. “Todos na Doji são movidos por nosso propósito de permitir que os consumidores tomem decisões de compra e venda mais inteligentes para que possam tornar palpável o valor represado de seus produtos usados de uma maneira fácil, transparente e sustentável.”
“Desde as primeiras conversas, a experiência dos founders da Doji sempre nos chamou muito a atenção, não só no mercado mas também construindo outros negócios. Além disso, nos atraiu sua visão de construir um negócio global, aproveitando oportunidades em diversas geografias. Além disso, nos agrada bastante a forma como eles pensam em destravar e distribuir valor econômico, ao mesmo tempo em que ajudam a reduzir o impacto do consumo na natureza”, afirma Marcos Toledo, sócio da firma de venture capital Canary.
Foto de destaque: Fernando Montera Filho, Satyen Fakey e Bilal Khan, fundadores da Doji.
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