Diante do cenário de incertezas devido ao coronavírus, muitas dúvidas surgem para os empreendedores, representantes de grandes empresas e investidores.
Um levantamento realizado pelo Yubb, buscador de investimentos, apontou que com a instabilidade econômica intensificada com a continuidade de circuit breakers na Bolsa neste mês de março, os investidores estão buscando oportunidades mais seguras, com foco em renda fixa, em comparação ao mesmo período do ano passado.
Desde o início do ano, diariamente o Startupi vinha noticiando aportes, aquisições e diversos cases de unicórnios. Mas agora, com essa nova fase, como ficam os investimentos em startups? Para entender melhor sobre o assunto, fomos falar com investidores representantes da Anjos do Brasil, Bossa Nova Investimentos e DOMO Invest, importantes players deste mercado.
A Anjos do Brasil, organização sem fins lucrativos que busca fomentar a cultura do investimento-anjo em todo o Brasil, conta que a expectativa para o ecossistema de startups em 2020 era muito positiva e de crescimento, tanto em capital aportado como em número de startups investidas, o que refletia o amadurecimento do ecossistema brasileiro e o surgimento de diversas redes de investidores-anjo.
Segundo Maria Rita Spina, diretora executiva da organização, a crise ainda é muito recente para podermos afirmar que há um impacto no mercado de investimento em startups. “Entendemos que os investidores devem ser mais cautelosos no investimento, reavaliando as perdas que tiveram em seus outros ativos e empresas, mas acreditamos que o investimento em startups é de longo prazo e que os investidores irão se manter ativos, embora talvez em volumes menores”.
Na Anjos do Brasil, a avaliação de startups segue normalmente, apenas o processo de decisão de investimento está um pouco mais lento. Para Maria Rita, este é um bom momento para avaliar a capacidade de reação ao imprevisto e resiliência do time fundador.
Todos sabem que dois ou três meses para as startups pode fazer uma grande diferença, por isso a dica da investidora para os empreendedores é protegerem seu caixa e seu time. “As startups precisam encontrar maneiras para conseguir manter-se vivas e não perder seu maior ativo, as pessoas que estão no time. Este é e continuará sendo um negócio de pessoas, e são estas pessoas que encontrarão soluções para este momento”, comenta.
A pandemia impactou todos os negócios, e por isso, as startups não poderiam ficar de fora
Para Gabriel Sidi, Sócio da DOMO Invest, uma das principais gestoras de Venture Capital no Brasil, estamos vivendo um dos anos mais importantes em décadas para o mercado empreendedor. Segundo ele, essa crise veio pra valer e mesmo as melhores startups, não conseguirão entregar fortes crescimentos ao longo do segundo trimestre, o que impactará bastante na capacidade de financiamento de alguns negócios que operavam com queima de caixa mais elevados.
Muitos economistas alegam que a extensão do confinamento matará mais negócios do que pessoas, e isso porque muitas empresas não estavam preparadas para o lockdown e não possuem caixa para segurar a operação parada por dois ou três meses. Apesar disso, muitas startups estão sendo impactadas positivamente, como é o caso das healthtechs, startups de delivery e e-commerce.
Para se ter uma ideia, segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), desde quinta-feira, dia 12 de março, algumas lojas virtuais chegaram a registrar um aumento de mais de 180% em transações nas categorias Alimentos e Bebidas e Beleza e Saúde.
Gabriel destaca que essa crise está obrigando todos a saírem da caixa, se movimentarem e inovar. E diante disso, as startups possuem uma grande vantagem uma vez que operam de forma lean, tornando empresas mais ágeis, característica fundamental quando é preciso se adaptar e implementar novas soluções. “Isso é muito positivo para o ecossistema de startups, que ao usar tecnologia permite o aumento da produtividade, o que é super importante para momentos difíceis como este”, destaca.
Na DOMO Invest, ele conta que precisaram reavaliar as startups que estavam em processo de investimento, mas com muita agilidade, eles conseguiram concluir os processos. “Desde a semana passada, nós nos comprometemos a investir em dois novos negócios. Acredito que o mercado como um todo estará mais seletivo e fazendo investimentos de maneira mais cuidadosa, mas certamente o volume de startups investidas continuará a crescer!”.
Com as startups do portfólio, que incluem nomes como Netshow.me e Agenda Edu, os gestores da DOMO Invest vêm apoiando os empreendedores para acharem a melhor maneira para cada um dos casos. Existem aqueles que se abrem oportunidades para novos produtos que já vinham sendo desenvolvidos, outros em que eles estão criando soluções em nova face aos novos problemas enfrentados pelos clientes e em outros casos, foi preciso segurar os gastos pró-labores dos fundadores, em especial de publicidade e novos investimentos.
Sidi conta ainda que eles estão trabalhando fortemente para garantir cenários de alongamento do runaway, mesmo em hipóteses de queda relevantes no faturamento. Este é o primeiro passo, alongar o tempo para buscar novos investimentos.
“Seguimos com nossos planos de investimento. Acreditamos que startups de base tecnológica se beneficiam em momentos que exigem disrupção, a capacidade de inovação dos melhores empreendedores é impar e seguiremos no nosso propósito de financiá-los”, finaliza.
Investimentos continuam
Para a Bossa Nova Investimentos, uma das maiores Micro Venture Capital da América Latina, que investe em negócios early stage em estágio pré-seed, este é sim um bom momento para investir em startups.
Só este mês, cinco startups receberam novos aportes da Bossa Nova Investimentos. São elas: Repassa, Numenu, FrameFy, Wellbe e 4 Student. E ainda existem mais 3 investimentos em andamento.
Com onze anos de experiência em startups, João Kepler, cofundador da Bossa Nova Investimentos, compartilha sua visão: “O momento é de prevenção, mas também de investimento em negócios inovadores, em startups. Aliás, independente do impacto mundial do coronavírus, cada vez mais o capital intangível está se sobrepondo ao capital tangível”.
Essas startups passam a integrar o portfólio da Bossa Nova, que já contabiliza 605 investimentos em quatro anos, cujos valores de mercado total somados giram em torno de R$ 10 bilhões. “Elas têm processos ágeis, eficientes, custos menores, modelos de negócio com base na inovação e na tecnologia. Esses empreendedores são incomodados, insatisfeitos e resilientes e essa é a chave do sucesso”.
Sobe os deals, Kepler conta que a Bossa Nova não vai parar de investir e todos os processos continuam, mesmo com a equipe em home office.
Na última semana, o investidor fez uma rápida pesquisa em um grupo de WhatsApp e quase 60 investidores também relataram e reforçaram o interesse de continuar investindo em startups mesmo durante a quarentena.
São eles: ACE, Allan Costa, Alexia Ventures, Anjos do Brasil, Banco BV, Baita, Benício Filho, BMG Uptech, BzPlan, Bossa Nova, Caravela, Cassio Spina, Cedro Capital, Core Angels Atlântic, Curitiba Angels, Distrito, DOMO Invest, Ebricks Ventures, EquityRio, Fábio Koreeda, Fran Abreu, Fernando Lemos , Gávea Angels, Gear Ventures, Gilmar Pertile , GooDz Capital, G2 Capital, HBS Angels, Honey Island Capital, IndicatorCapital, Ipanema Ventures, Iporanga Ventures, Italo Nogueira, Janguê Diniz, Jupter, KPTL, LM Ventures, Marco Poli, Mauricio Trezub, MSW Capital, Neuron Ventures, PARALLAX Ventures, Plataforma Capital, RD2 Ventures, Riverwood, The Next Company, SP Ventures, Sirius VC, Smart Money Ventures, Startupi, SuperJobs Ventares, Thiago Oliveira, TM3 Capital, TrivèllaM3, Verus Group, Wayra , Wow Aceleradora, Yves Nogueira, 42K Investimentos, 100 Open Startups, LAAS, Samba Investimentos, Jorge Rocha Baltoro Group, BR Angels, Blocko Ventures, Marcos Semola.
O Startupi vem acompanhando de perto e publicando matérias e entrevistas com informações úteis para o ecossistema de startups neste momento de crise. Quer saber mais? Clique aqui.