Sempre que converso com executivos de empresas grandes para o Startupi, minha maior curiosidade é, claro, sobre os anos em que eles estavam ralando para chegar lá –os anos em que eram apenas mais uma startup lutando por um espaço para si. Para a minha surpresa, os anos de startup foram longos e tortuosos para a VTEX, companhia que hoje faz software de e-commerce e expande seu escritório para a América Latina.
O que eu quero dizer com longo? Foram sete anos lutando para fazer o negócio dar certo sem ter grandes retornos financeiros, segundo me contou Mariano Faria, cofundador da empresa, que foi criada em 1999, em parceria com Geraldo Thomaz. “A gente começou no ‘boom’ da internet, no ano 2000, e foi no mesmo momento do ‘crash’”, lembra o cofundador.
Veja alguns dos pontos altos da história da VTEX:
Aos trancos e barrancos, mas sem dívidas
“Até 2004, nós fazíamos qualquer coisa em termos de software pra sobreviver. Não somos de família rica, então tivemos que sobreviver sem o investimento de terceiros. Em 2001, começamos a fazer software para comércio eletrônico, com a Sacks de primeiro cliente. O e-commerce, na época, era um dos nossos produtos. Até 2005-2005, éramos de quatro a cinco funcionários e quebrávamos um mês sim, um mês não. Íamos mesmo aos trancos e barrancos e pensamos em fechar a empresa umas quatro vezes. Víamos nossos amigos ganhando tubos de dinheiro no mercado financeiro e estávamos sem dinheiro pra levar a namorada no cinema.
Uma das razões para o nosso sucesso foi que nunca endividamos a empresa. Nós não tirávamos o nosso salário, se isso fosse deixar a empresa no negativo. Acreditávamos que tomar dinheiro do mercado ia fazer com que ela fechasse mais cedo.
Fizemos tudo muito em cima da disciplina de que uma empresa de constrói com ela no positivo e a certeza de que o mercado era inovador. Pensávamos que, quando a internet se tornasse uma realidade maior, os mais experientes seriam os talentos mais relevantes. Sabíamos que o dinheiro só se faz depois da construção de uma reputação.”
O que o fez continuar seguindo em frente?
“Acreditávamos no ideal de construir um ativo, uma empresa. Uma vez, viemos para São Paulo e fizemos uma reunião sobre a aprovação de um projeto. Tinha combinado com o meu sócio que, se aquilo não fosse aprovado, fecharíamos a empresa. E não foi. Chegamos ao aeroporto super chateados e lembro que o presidente do conselho da empresa me ligou, dizendo que haviam repensado a decisão e assinariam o contrato no dia!
O problema é que não tínhamos dinheiro pra fazer a troca de passagens aéreas. Então, um sócio foi de avião e o outro ficou, pra assinar o contrato e voltar de ônibus.”
A mudança
“Em 2007, a coisa começou a mudar. Entramos em três concorrências grandes e ganhar qualquer uma delas já tornaria o futuro da empresa brilhante. Acabamos entrando nas três e isso mudou a empresa. De lá pra cá, temos crescimento consistente de 70%-80% ao ano.
Saltamos de quatro para 215 funcionários, com o sangue ainda totalmente empreendedor. Não existem cargos fixos, hierarquia.
Favorecemos uma cultura de recursos humanos distinta: não existe RH. Cada diretor lida com seu grupo de acordo com suas próprias convicções. As politicas de RH são de acordo com as políticas de cada líder e isso permite que sejam criadas equipes.
Hoje, queremos ser a maior empresa de software pra e-commerce da América Latina. Como empresa especializada em e-commerce já somos a maior. Temos operações em Colômbia, Chile, Equador, Argentina, Uruguai.”
Por que entrar no mercado da internet?
“A gente sabia que o mercado da internet ia demorar pelo menos dez anos para se ‘comoditizar’. Ainda está longe disso, mas a aposta foi certa, porque apostamos em criar a reputação dentro de um mercado que não era nada e, hoje, é 10% do que será em dez anos. Quando se busca reputação e experiência, os dez anos no mercado fazem diferença.
Uma das coisas que sempre sugerimos é criar a empresa em cima de um mercado que não é absolutamente nada. Se você cria em um mercado que já tá agressivo, não tem espaço pra uma empresa pequena, por mais criativa que ela seja. Pra empreender, tem que ser naquele mercado que ainda não é nada: o mercado ambiental e o de credito de carbono, por exemplo.
Nós escolhemos a internet lá em 1999, porque estávamos acompanhando a história da Salesforce, com o conceito de software como serviço.”
A expansão que respeita diferenças
“Acreditamos que existe choque cultural entre pessoas dentro da empresa e quando entramos em um novo país. Não influenciamos a cultura individual de cada departamento e não posso influenciar na cultura regional. Os líderes da VTEX em cada país são executivos locais. A VTEX não acredita que empreender está atrelado a processos, e sim aos talentos.”