Vivemos um momento “crucial” e de “plena expansão” no setor de comércio eletrônico no Brasil, segundo os empresários com quem conversei nos últimos meses. Não é difícil ver o surgimento e crescimento de novas lojas no país: a alemã Project-A já abriu dois sites de e-commerce desde o momento que pousou por aqui. Aumentam também o número de empresas dedicadas a criar tecnologias que turbinem esse mercado e o tragam para uma nova fase: a VTEX já se consolidou na área e iniciantes como a Kioos buscam seu espaço. Ao mesmo tempo vimos, na última semana, o fechamento da Shoes4You, que não teve sucesso em trazer o modelo de assinaturas ao país.
Com tantas indas e vindas, novas tendências e regulamentações, perguntei a empresários brasileiros: Onde está e para onde vai o e-commerce brasileiro?
“A concorrência é cada vez mais acirrada e hoje vivemos um momento crucial, onde estamos estabelecendo os verdadeiros players deste mercado. Claro que, ainda é possível termos a entrada de novas empresas, mas o consumidor exige, cada vez mais, profissionais que consigam atender com qualidade”, afirma Albert Deweik, diretor comercial da NeoAssist, uma companhia traz um serviço de atendimento ao cliente, na nuvem e por vários canais, indo desde os telefones às redes sociais.
Para Albert, o e-commerce nasceu no Brasil de maneira amadora e virou um mercado concorrido entre 2007 e 2008.
Já Vinicius Pessin, da plataforma de e-commerce e-smart, coloca um número no crescimento desse mercado. Segundo ele, o Brasil deve ter um aumento de perto dos 30% no comércio eletrônico neste ano. Para o futuro, ele afirma que “existe um movimento muito forte na criação de marketplaces”. “Essas grandes vitrines com alto tráfego de e-consumidores serão, na minha opinião, a próxima fronteira do e-commerce no Brasil”.
Sammy Veicer, sócio do Qual Valor, vê também “nos últimos anos, cada vez com mais intensidade, as classes sociais menos abastadas podem aproveitar os benefícios deste ‘novo mundo’, tornando o número de compradores com excelentes perspectivas exponenciais”.
Cassio Krupinsk, sócio da OxiBiz, diz que o comércio eletrônico no Brasil não chegou “nem na metade” do potencial de crescimento que tem e alerta para a falta de preparo. “Nosso país precisa se preparar para o crescimento, algo que infelizmente não é feito em nenhuma área, pois enfrentaremos cada vez mais grandes riscos de créditos e distribuição, ou por dependência de 80% dos correios brasileiros, ou dependência de transportadoras que atendam de forma rápida e prática períodos de grandes demandas como novembro a Janeiro”, afirma o cofundador da startup.
“Estamos em vasto crescimento sim, mas quando o Brasil enxergar de forma correta e melhorar a qualidade de serviços que em comparação a outros países, e que nos deixa muito atrás, estes números poderiam triplicar e poderemos chegar a uma escala próxima a de países como a China onde Facebook e Google são proibidos e mesmo assim, os acessos e números são 3,5 vezes maiores do que os números de nosso país”, conta Cassio.
Tanto Qual Valor, quanto OxiBiz, trazem novas propostas para mudar o e-commerce no Brasil. A Qual Valor possibilita que o usuário “negocie” e peça descontos no produto que deseja comprar. Já a Oxibiz funciona como uma rede social de e-commerce e negócios, em que o usuário cria o perfil do seu negócio e não um perfil pessoa e pode vender os itens que quiser.
Dez anos no e-commerce
Uma das histórias interessantes que me chegou por e-mail quando eu estava tocando essa pauta sobre e-commerce foi a dos irmãos que fundaram o KaBuM!, uma loja virtual de eletrônicos. Leandro e Thiago Ramos tinham 17 e 21 anos, respectivamente, quando decidiram levar para o mercado digital a loja física que seus pais tinham na cidade de Limeira, no interior de São Paulo. Isso foi no ano de 2003.
“Nosso investimento inicial foi algo em torno de R$ 200, que era o custo de registrar um domínio naquela época. O grande atrativo foi ter a possibilidade de ser um dos pioneiros em um setor que ainda estava em desenvolvimento no Brasil. Hoje, temos quase 300 funcionários, quatro centros de distribuição e três escritórios”, afirma Leandro.
Mas ele alerta que não é fácil ter um e-commerce no país.
“Tanto na questão logística, quanto na tributária, existem grandes dificuldades. A logística e os tributos são extremamente atingidos em operações interestaduais”, explica o cofundador. Segundo ele, existe uma “guerra fiscal” entre os Estados por onde a mercadoria passa –o lugar onde fica a loja Vs. o lugar de destino, por exemplo. “Já sobre logística, o rápido e expressivo crescimento do e-commerce no Brasil fez com que determinadas empresas não fossem capazes de absorvê-lo. A questão do roubo das cargas talvez seja o pior dos pontos.”
Para Leandro, apesar dos problemas, o e-commerce hoje está se profissionalizando muito rapidamente, com ferramentas para clientes e empresas. “Este ano, houve por parte do Governo, uma pequena regulamentação sobre operações de comércio via Internet, o que foi um sinal muito positivo. Ano a ano apresentando crescimentos expressivos, a força e a representatividade do o e-commerce na economia são maiores, o que tem atraído maior atenção para o setor e suas dificuldades”, conta.
Ele está falado do Plano Nacional de Consumo e Cidadania, o Plantec, lançado pela Casa Civil no dia 15 de março e que terá como objetivo nortear as relações de consumo no Brasil. Segundo Albert, da Neoassist, o consumidor será impactado de maneira positiva
“Algumas regras que, necessitavam de regulamentação, agora ficarão mais claras. Primeiramente, o fato da loja obrigatoriamente ter que oferecer um canal de atendimento, facilitará muito a relação da empresa com o consumidor”, afirma. “Outro ponto importante, de fornecer informações mais precisas sobre produtos, auxiliará o consumidor para não comprar algo que, fisicamente, ainda não conseguiu ver. Por fim, a definição do prazo para devolução/troca ou cancelamento por arrependimento, cria uma regra inquestionável e oferece um direito, já previsto, de forma segura.”
Foto: alles-schlumpf/Flickr (Acesse o original)